Margens de Oise

Notável exercício pictórico, esta paisagem foi certamente realizada nos arredores da vila de Auvers-sur-Oise, próxima de Paris, onde o pintor trabalhou durante a vigência da sua bolsa de estudo. Nela é percetível a estética da Escola de Barbizon que referencia grande parte do naturalismo francês, triunfante a partir de 1850 e que teve em Charles Daubigny um cultor maior e reconhecido, muito admirado pelo jovem Silva Porto.
O essencial desse movimento pictórico - que foi um dos caminhos para a emancipação da pintura europeia das exigências académicas – define-se pelo registo ao ar livre, frente ao motivo, possibilitando uma atenção naturalista às cambiantes cromáticas da natureza, num momento preciso do dia. Assim, Silva Porto escolhe uma situação crepuscular que se manifesta na intensidade rósea do céu e no negrume da vegetação, interrompida pelo espelhamento da atmosfera na mancha clara do rio. O silêncio é como que a única figura desta cena nostálgica que evoca um mundo natural intocado onde as coisas coincidem entre si, numa elegia apaziguada. Registe-se ainda o carácter matérico da pincelada no tratamento do céu e das águas que se torna mais leve nas manchas da vegetação, permitindo ao nosso olhar juntar o mais perto e o mais longe, sob uma moldura verde de articulação. Raquel Henriques da Silva