Retábulo originalmente pintado para a capela lateral esquerda da Sé de Viseu, dedicada a S. João Baptista.
No Baptismo de Cristo, a composição foi estruturada em função das duas figuras monumentais em primeiro plano, pois o espaço envolvente, ainda que sirva a estrutura narrativa, foi rigorosamente concebido em função dessas presenças impositivas. Os dois volumes rochosos, as manchas de vegetação, o fundo arquitectónico e a presença dos dois núcleos formais secundários – os anjos com o vestido de Cristo, e o Baptista pregando no deserto – foram programados com um sentido rítmico de equilíbrio, entre a metade direita e a metade esquerda do espaço da representação, definindo duas diagonais que vêm confluir, em cunha, na figura de Cristo, colocado no eixo central. Mas é em virtude do descentramento do núcleo formal principal, quando coloca a figura monumental do santo na metade esquerda, que se define a posição e a escala das figurações secundárias, isto é, o afastamento da cena do lado esquerdo, e a relativa aproximação dos dois anjos que figuram do lado direito.
A forte caracterização dos rostos, aqui investidos de um pathos que reforça a valência espiritual do acto, a plasticidade dos tecidos, modelados através da luz projectada no campo figurativo pela esquerda, os efeitos atmosféricos da paisagem, a diluir os contornos dos volumes arquitectónicos do fundo, são outros tantos traços característicos do seu modo de pintar.
Todavia, e comparativamente ao S. Pedro, pode dizer-se que o Baptismo de Cristo é uma pintura formalmente bem menos cuidada. De facto, se o corpo de Cristo apresenta alguns significativos, mas bem disfarçados, desacertos formais, a perna flectida de S. João Baptista, pela distorção que se introduz no trabalho pictural do pé, resulta numa forma quase aberrante. É de todo provável que Gaspar Vaz, o seu colaborador habitual, tenha trabalhado na execução pictural deste retábulo.
Na predela, que esteve trocada com a do S. Pedro, representam-se os bustos de S. Paulo Eremita (?), de S. Jerónimo e de Santo Antão. Dalila Rodrigues
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