O tema da pintura, a vanitas, o sentido da existência efémera, simbolizado pelas bolas de sabão, conhece através de Manet uma interpretação singular. Aspectos como o fundo escuro, a simplicidade das formas e a sobriedade da composição parecem evocar, contudo, uma obra com o mesmo título da autoria do pintor setecentista francês Jean-Siméon Chardin. O conteúdo alegórico não se sobrepõe, todavia, no presente caso, à autonomia plástica do discurso visual. Manet cria a sua expressão autónoma e impõe a partir do motivo uma afirmação da sua perceção sensorial, da sua subjetividade. Não é de excluir, também, a hipótese de o quadro poder constituir uma reflexão do autor sobre a perenidade da arte. O estilo livre e direto da composição, com recorte da figura bem definido, acentuado por um forte contraponto entre claro e escuro, traz à memória o génio de grandes mestres como Murillo e Frans Hals. O modelo para a pintura, Léon-Édouard Koëlla, enteado de Manet, aparece representado com frequência em outras obras célebres do artista.