Em Brasil nativo/Brasil alienígena, Anna Bella Geiger se apropriou de fotografias dos Bororo (povo indígena da região de Mato Grosso) publicadas pela antiga revista semanal Manchete e propôs releituras, criando nove pares de cartões-postais: de um lado, a imagem original; do outro, o simulacro. As reproduções na Manchete, veiculadas durante a ditadura civil-militar, revelam-se bastante perversas ao mascararem a violência policial sofrida pelas comunidades indígenas — situação oposta à imagem idealizada e exotizada que aparece nos postais. Já as novas fotografias foram feitas na varanda do apartamento da artista, no Rio de Janeiro, com a colaboração de amigos e parentes. Geiger fricciona imagens e mundos para abordar o traumático processo da colonização do Brasil, iniciado pela invasão portuguesa (alienígena) em território antes ocupado apenas por povos nativos. A artista coloca a si mesma (mulher, mãe e descendente de imigrantes) nessa complexa equação para discutir esses termos não apenas no campo político e histórico, mas também na esfera pessoal, conforme escrito no trabalho: “[…] com o meu despreparo como homem primitivo”. Posteriormente, a obra se desdobrou na ampliação de duas dessas imagens, que trazem um elemento comum, mas em contextos diferentes: o arco e flecha segurado pelo indígena em meio à floresta, e o mesmo artigo empunhado pela artista no espaço urbano — esterilizando a sua utilidade de caça e defesa e apontando para a idealização desse elemento nas representações de indígenas no Brasil. — M.An.
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