Parte do aspecto alegórico do Caipira picando fumo está embasado em sua relação com a terra e com a luz, seja na integração da figura com a poeira do solo, que recobre suas pernas e mãos, e lhe embota as rugas; ou na dureza da luz que castiga tudo, ofuscando os brancos. Almeida Júnior constrói uma ambiguidade entre a aspereza da terra e a luminosidade dura: pontos em que não sabemos se o branco é usado para criar a textura de um material sólido ou uma luz agreste que faz a cor estiar até empalidecer.
Como em Amolação interrompida, o esmaecimento geral da pintura também pode estar relacionado a uma estratégia de integrá-la à arquitetura do Salão Nobre do Museu Paulista, fazendo com que ela parecesse ter sido pintada sobre o estuque de gesso que revestia a parede, como se fosse um afresco.
Em 2024, pela primeira vez, essas telas passaram por um conjunto de exames físicos e químicos conduzidos por uma equipe de pesquisa do Instituto de Física da Universidade de São Paulo, coordenada pela Profª Marcia Rizzutto. Esses exames nos revelam a presença de cálcio na preparação das telas, elemento que pode ser o responsável pelo aspecto engessado delas, bem como pelo engrossamento do branco em diversos pontos. Outro ponto interessante foi notado a partir da comparação com a cópia da pintura feita por João Baptista da Costa, que apresenta um tom mais azulado. Será que esse artista teria visto a pintura mais azul do que nós a vemos hoje? Essa hipótese nos leva a questionar se Almeida Júnior teria usado um pigmento chamado Azul da Prússia – que sabemos ter sido empregado em Caipiras negaceando, outra pintura sua – com efeitos catastróficos de escurecimento. Os exames mostram que elementos presentes nesse controverso pigmento são encontrados em Caipira picando fumo.