Cais da Farinha, como é denominada a obra, coloca-nos nas margens do rio Sena, em Paris, capital onde o artista se encontra pela segunda vez, agora por um período de cinco anos (1921-1926), e já com um percurso marcado pela influência dos seus mestre da Escola de Belas-Artes de Lisboa e de uma tradição naturalista, incorporada por Malhoa e Columbano. Tecnicamente, pronto a desenvolver novos caminhos e a emancipar-se das exigências académicas, Dórdio Gomes aderiu ao movimento pictórico que marcará a história da pintura europeia e abre-se às novas preocupações construtivas e formais desenvolvidas por Paul Cézanne, o pós-modernista. A presente obra é um exercício de paisagismo, em que o autor pinta ao ar livre, como os impressionistas, frente ao motivo, fornecendo as cambiantes cromáticas da natureza, no momento preciso de um dia de ambiente atmosférico carregado, num cenário de perspetiva longínqua, fazendo sobressair no recorte do horizonte, a silhueta de Notre-Dame. A margem direita do rio, em terra batida, serpenteante, ocupa o primeiro plano do observador, em busca dos objetos ali presentes, como o carro e os barcos atracados nas águas do Sena.