Calvário policromado a azul e vermelho. O carácter ostentatório que as ossadas assumem, no conjunto da figuração, aludem ao local presuntivo do enterramento de Adão e impõem ao espectador a visão da sua condição efémera, da sua própria morte.
O incremento da escultura funerária está relacionado com a emergência do individualismo, fenómeno que atravessa a Europa no final da Idade Média.
Para além dos elementos que nas estruturas funerárias personificavam e garantiam a perpetuação da identidade do tumulado, as representações do Calvário foram recorrentes, justamente porque se tratava da morte do Deus feito homem, pregado na cruz, antes de mais, e da morte de cada homem feito à sua medida, logo em seguida.
A predominância de certas temáticas e o desenvolvimento de certas estratégias representativas apontam para a manifestação de um desejo ou para a afirmação de uma necessidade. O homem assume a consciência de si próprio, deixa de se definir apenas em função dos laços sociais, da esfera do coletivo, para passar a afirmar um protagonismo individualmente assumido, sente a necessidade e o desejo de perpetuar a sua memória além da morte