Carregando

Camelô Camelô

Cildo Meireles1998/1998

Instituto Inhotim

Instituto Inhotim
Brumadinho, Brasil

A seguir, um depoimento de Cildo Meireles a Giancarlo Hannud, em 27 de julho de 2012, no Rio de Janeiro, referindo-se à obra:

“Camelô está ligado a uma memória de infância. Como eu disse, nasci no Rio, mas morei em Brasília e Goiânia. Enquanto estávamos em Goiânia, meu pai tinha que vir todo ano ao Rio para resolver coisas. Ele era pernambucano, então havia aquela sabedoria nordestina, e dizia para nós, seus filhos, que nos levaria para o Rio para “desasnar”, tirar o que havia de asno na gente. Então, ele me trouxe várias vezes ao Rio. Eu lembro que quando estávamos por aqui frequentávamos muito o centro, porque os assuntos do meu pai estavam por lá, e na calçada da Rua Araújo Porto Alegre, entre a Av. Rio Branco e a Rua México, havia muitos camelôs. Três especificamente me fascinavam: um tinha um tabuleiro pequenininho e só vendia barbatana de camisa; outro próximo vendia barbatana de camisa; outro próximo vendia alfinetes de cabeça, dez ou vinte, sei lá, todos amarrados juntos. Esses objetos se identificavam por serem os mais primários que existem entre os objetos industriais. Um é urna haste de metal que leva uma pancada na ponta e vira um alfinete; o outro, uma prancha de plástico cortado. O terceiro camelô que me fascinava vendia urna espécie de marionete de papelão e elástico. Ele a colocava numa linha que amarrava numa reentrância do prédio que ficava atrás — no caso, o Museu Nacional de Belas Artes. Deixava a linha no bolso dele e mexia, fazendo a marionete dançar na calçada.
Para uma criança, aquele bonequinho dançando era pura mágica. Aquilo ficou na minha cabeça; eu ficava intrigado como uma pessoa podia viver vendendo algo tão insignificante como alfinete, um quase nada, ou uma barbatana. E por trás daquilo tudo havia chaminés, operários, muita gente envolvida na produção desse nada. Isso sempre me intrigou. Em 1990, tive a ideia de fazer alguma coisa com a edição de 1 milhão, mas não foi para frente. Em 1997, voltei a pensar no milhão e associei essa ideia aos três camelôs. Resolvi, então, fazer uma edição de 1 milhão de barbatanas e 1 milhão de alfinetes e mil bonecos, somando assim uma edição de mil caixas com dois tabuleiros e um boneco. Mostrei esse trabalho pela primeira vez na Galeria da Luisa Strina, eu queria fazer um boneco com a cara dela, fiz até um desenho, mas depois acabei fazendo este boneco mesmo. ”

Para leitura do texto completo:
HANNUD, Giancarlo. In: BRETT, Guy, Aberto, fechado: caixa e livro na arte brasileira. Catálogo. São Paulo: Pinacoteca do Estado, 2012, p. 281.

A seguir, um depoimento de Cildo Meireles a Giancarlo Hannud, em 27 de julho de 2012, no Rio de Janeiro, referindo-se à obra:

“Camelô está ligado a uma memória de infância. Como eu disse, nasci no Rio, mas morei em Brasília e Goiânia. Enquanto estávamos em Goiânia, meu pai tinha que vir todo ano ao Rio para resolver coisas. Ele era pernambucano, então havia aquela sabedoria nordestina, e dizia para nós, seus filhos, que nos levaria para o Rio para “desasnar”, tirar o que havia de asno na gente. Então, ele me trouxe várias vezes ao Rio. Eu lembro que quando estávamos por aqui frequentávamos muito o centro, porque os assuntos do meu pai estavam por lá, e na calçada da Rua Araújo Porto Alegre, entre a Av. Rio Branco e a Rua México, havia muitos camelôs. Três especificamente me fascinavam: um tinha um tabuleiro pequenininho e só vendia barbatana de camisa; outro próximo vendia barbatana de camisa; outro próximo vendia alfinetes de cabeça, dez ou vinte, sei lá, todos amarrados juntos. Esses objetos se identificavam por serem os mais primários que existem entre os objetos industriais. Um é urna haste de metal que leva uma pancada na ponta e vira um alfinete; o outro, uma prancha de plástico cortado. O terceiro camelô que me fascinava vendia urna espécie de marionete de papelão e elástico. Ele a colocava numa linha que amarrava numa reentrância do prédio que ficava atrás — no caso, o Museu Nacional de Belas Artes. Deixava a linha no bolso dele e mexia, fazendo a marionete dançar na calçada.
Para uma criança, aquele bonequinho dançando era pura mágica. Aquilo ficou na minha cabeça; eu ficava intrigado como uma pessoa podia viver vendendo algo tão insignificante como alfinete, um quase nada, ou uma barbatana. E por trás daquilo tudo havia chaminés, operários, muita gente envolvida na produção desse nada. Isso sempre me intrigou. Em 1990, tive a ideia de fazer alguma coisa com a edição de 1 milhão, mas não foi para frente. Em 1997, voltei a pensar no milhão e associei essa ideia aos três camelôs. Resolvi, então, fazer uma edição de 1 milhão de barbatanas e 1 milhão de alfinetes e mil bonecos, somando assim uma edição de mil caixas com dois tabuleiros e um boneco. Mostrei esse trabalho pela primeira vez na Galeria da Luisa Strina, eu queria fazer um boneco com a cara dela, fiz até um desenho, mas depois acabei fazendo este boneco mesmo. ”

Para leitura do texto completo:
HANNUD, Giancarlo. In: BRETT, Guy, Aberto, fechado: caixa e livro na arte brasileira. Catálogo. São Paulo: Pinacoteca do Estado, 2012, p. 281.

Mostrar menosMais informações
  • Título: Camelô Camelô
  • Criador: Cildo Meireles, Cildo Meireles
  • Data de criação: 1998/1998, 1998/1998
  • Local: Inhotim, Inhotim
  • Dimensões físicas: 39 x 30 x 7cm, 39 x 30 x 7cm
  • Meio: 1.000 alfinetes, 1.000 barbatanas, 1 boneco, 1 motor, 1 caixa, 1 fio, cordões e parafusos, 1.000 alfinetes, 1.000 barbatanas, 1 boneco, 1 motor, 1 caixa, 1 fio, cordões e parafusos
  • Fotógrafo: William Gomes
Instituto Inhotim

Itens adicionais

Download do app

Visite museus e divirta-se com os recursos Art Transfer, Pocket Galleries, Art Selfie e muito mais

Página inicial
Descobrir
Jogar
Por perto
Favoritos