No desenho cênico há um desdobramento do cenário criado por Beatriz Milhazes para a obra coreográfica “Tempo de Verão”. Cinco lustres cromáticos tridimensionais projetam uma complexa função. Uma dança do olhar, sem acomodações, através de múltiplos detalhes de formas geométricas articuladas e sobrepostas. O denso campo cromático cria um itinerário de sensações vertiginosas, promovendo um encontro de imagens em movimento. Debruçados sobre a cena dourada, artistas da dança desenham com seus corpos, gestos divididos em três interlúdios. A cena se revela numa rigorosa estrutura, aonde películas de movimentos vão formando uma grande colagem preenchendo um campo invisível da alma. A dança íntima converte intérpretes, cenário, música e a arquitetura que os cercam em massa amorosa, movida pelo desejo de caminhar dentro do outro. A trilha sonora revela as memórias da música brasileira do século XVIII para cravo e viola da gamba, passando pelo modernismo e concretismo. Na montagem especial para a ocupação da Maternidade Filomena Matarazzo, vozes da memória viva de crianças da Tribo Guarani - antigos donos da Terra Brasil - são inseridas dentro desse mundo esquecido. Cantigas e sons revelam o sagrado. Valores culturais invocam a existência. O desejo é de refletir sobre nós mesmos, gente contemporânea e, assim, o sentido de renascer.