Painel do antigo retábulo da capela-mor da Sé de Viseu (1501-1506).
A iminente traição de Judas nos dois painéis que antecediam este, Última Ceia e Cristo no Horto, dá agora lugar à representação do tema central. Envolto no habitual manto amarelo, segurando o saco de moedas, símbolos da traição, Judas envolve Jesus Cristo com o braço e beija-lhe a face. O grupo de soldados armados organiza-se em redor das duas figuras principais. Cristo segura com a mão direita a orelha ensanguentada de Malco, que se representa de joelhos no solo, em primeiro plano, enquanto Simão Pedro segura ainda a sua espada cortante.
Localizado nas fiadas superiores do retábulo, este painel, a par da Última Ceia e Pentecostes, denota com grande evidência algumas incapacidades técnicas na representação da figura humana. São evidentes as incorrecções na figura expressiva de Malco, prostrado no solo em primeiro plano, ou de Simão Pedro, cuja cabeça está desarticulada em relação ao corpo. Contrastam com estes evidentes arcaísmos formais, a técnica apurada na transcrição de armas e adereços, bem como a utilização de algumas estratégias para evidenciar pormenores: o braço de Cristo com a orelha sangrante de Malco recorta-se no manto amarelo de Judas.
Um volume encimado por alguns arbustos frágeis, e um fragmento de paisagem que se azula na distância, não escondem a simplicidade desta composição, sem dúvida inspirada na gravura com o mesmo tema de Martin Schongauer ou de um dos seus seguidores.
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