Extraordinária pela sua escala e função, esta peça servia de caixa ao relógio da loja do editor Manuel Gomes, situada na Rua Garrett, em Lisboa. Foi encomendado ao artista, que se inspirou nas referências marinhas d’Os Lusíadas, obra quinhentista do poeta Luís de Camões. As ondas de barro vidrado são habitadas por tritões e sereia, seres da mitologia clássica, aos quais a fantasia do artista acrescenta um par de lagostas e um golfinho. Sobrevoando a cena, uma águia transporta uma figura feminina que empunhava um archote aceso e uma fita ondulante, com um fragmento do verso: «Espalharei por toda a parte…» – infelizmente desaparecidos. No vão circular encontrava-se o mostrador do relógio. O sabor renascentista da iconografia e a composição épica, revelam o esforço nacionalista de Rafael Bordalo. Salienta-se a qualidade da modelação e o colorido, sobretudo, dos festões de algas e conchas. Peça doada ao Museu pelo editor, em 1962.