CO-2364
Portinari, Candido. [Carta] 1959 fev.,
Rio de Janeiro, RJ [para] João Candido Portinari; Maribel Berruezo Portinari, Paris. [manuscrito]
Queridos filhos
Até que afinal recebi a revista, onde há o teu nome com o “très bien”. Deu-me grande alegria: bravos João.
Agora pouco falta para nos vermos e isso alenta-me e com vs. aqui poderei dar uma finalidade em minha vida: ela tem estado no ar, predominando indecisões.
A casa continua inabitável com as pinturas e limpeza. Diariamente, à noite, saio de maleta para a casa da Olga, onde passei a dormir. Pela manhã, também de maleta, volto ao apartamento, mas sem poder trabalhar como antes. Isso para mim é grande transtorno devido ao hábito de permanecer no local de trabalho. Para muitos é incompreensível, mas cada um tem um modo de produzir. Não estou vivendo e com a moral muito baixa. Quase não vejo ninguém. Os poucos amigos que aqui vinham, não aprecem porque praticamente estou sem casa. Não devia estar escrevendo isso, mas tenho que desabafar com alguém e vs são os mais queridos, com nossa bonequinha. Suas vindas é um bálsamo.
Devem estar em plena maratona com os exames. Estejam certos da minha compreensão com qualquer resultado. Recomendem-me aos profs. Fessard e todos mandam lembranças. Um abração para todos com muito carinho do
Papa
A ordem para o banco já seguiu.
O Flávio não me deu ainda as cópias das fotos do aniversário da queridinha. Mando telefonar diariamente e ele promete para o dia seguinte.