CO-1945
Barros, Jayme de. [Carta] 1949 out. 18,
Paris [para] Candido Portinari, Rio de Janeiro, RJ. 2 p. [datilografado]
Meu caro Portinari,
Você deve imaginar a alegria com que eu e Marina recebemos agora mesmo sua carta. Que bela notícia! Então, vocês vêm a Paris? Até que enfim. Há muito, esperávamos pela volta de vocês. A vida aqui encareceu bastante. Em compensação, o câmbio é muito melhor do que quando você aqui esteve. O dólar vale agora 380 Frs, enquanto, como se lembra, naquela época, valia 180. A propósito é conveniente que você trga somente dólares, que é a moeda mais forte. O cruzeiro não compensa. No mercado paralelo, vale menos do que no oficial. Você não deve esquecer que também possui um saldo, em francos, em meu poder, que sempre dará para alguma coisa, e mais os francos que foram diretamente depositados em seu nome, pelo governo francês, no Banco que você indicou, pela compra do seu quadro. A propósito, gostaria que você esclarecesse, antes de embarcar, com o Aníbal Machado, a história de um vale rasgado, creio que inadvertidamente, por mim, e que incluí nas suas contas. Mandei falar-lhe a respeito, mas você nunca me respondeu. Devo, também, dizer que nunca recebi nem o catálogo, nem as fotografias do “Tiradentes”. Mas acompanhei, pelos jornais, o enorme sucesso que você alcançou. E os brasileiros que chegam daí não me falam noutra coisa. O último foi o Enéas Ferraz, que viu o trabalho em São Paulo. Ficou entusiasmadíssimo.
Venha, meu caro Portinari, o mais depressa possível. A nossa “pensão” está aberta para vocês e creio que tudo se arranjará bem. Vou telefonar ao Auricoste a respeito do atelier, para ver se encontramos um.
Eu e Marina enviamos um grande abraço para você, Maria, João e Inês.
Do seu velho amigo.
Jayme
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