CO-630
Bastos, Rachel. [Carta, 19--],
Portugal [para]
Candido Portinari; Maria Portinari, Rio de Janeiro, RJ. 2 p. [manuscrito]
Querido amigo
Na ânsia de ver as primeiras luzes que iluminam o meu Portugal, levantei-me de madrugada e respirei aquele ar frio, glacial do romper do dia e que só conheço das grandes ocasiões. A transição foi brusca e o resultado foi uma gripe a estragar-me o prazer da minha casa, dos meus e da minha Isabelinha que, doida de alegria de nos ver, não nos deixava com beijos, pegando-lhe eu a gripe. Foram cinco ou seis dias de maçada, até que agora tudo entrou mais ou menos nos eixos. A minha pequena está ótima, corada que nem uma cereja e nós feitos “papás babosos”, como podem calcular.
Lembramo-nos muito de vocês, de quem falamos a cada momento, com a grande amizade que nos ficou da nossa convivência aí. Quando o navio partiu, que vi o nosso grupinho amigo diluir-se pouco a pouco, sentimos um vazio no coração!
Já estávamos com saudades de vocês! A “Pretinha” do Portinari teve grande êxito entre as pessoas que a viram. Quando vem mostrar aos portugueses de quanto é capaz a sua sensibilidade de pintor? Cá estamos ambos de braços abertos e a nossa casa é vossa. Serão recebidos como amigos a quem queremos muito bem.
Saudades ao Calazans, sempre firme no nosso grupo, e também ao José. Para vocês ambos as mais afetuosas saudades de nós dois.
Rachel Bastos