"As aulas de Iberê eram muito densas, ele era bastante radical com os alunos e cada dia era um aprendizado; não só naquilo que você estava fazendo, mas no que você vivia junto com o grupo. Uma vez Iberê jogou um pincel pela janela, porque achou que aquele pincel de marta, caro e sofisticado, estava lambendo a pintura, e ele queria uma pintura vigorosa, de impacto. Foi uma lição dura, mas a pintura daquela aluna melhorou muito depois disso!
Creio que todo mundo lucrou bastante com aquele curso. Iberê era polêmico, não era uma pessoa fácil, mas agregava muita gente à sua volta e gostava de estar sempre acompanhado. Eu fiquei amiga do Iberê e da Maria, e convivemos bastante, por longo tempo. Aprendi muito com Iberê, mais do herdar poéticas, ou o modo de fazer, aprendi atitudes com ele. Ele era uma pessoa extremamente exigente, um artista implacável com ele mesmo. Inúmeras vezes eu o vi terminar uma pintura – era um espetáculo vê-lo pintar, ele dançava na frente do quadro, na gestualidade de suas pinceladas – e, de repente, ele desfazia tudo, porque não estava contente com um pequeno detalhe. Não adiantava dizer que a pintura estava maravilhosa, porque ele não se perdoava.
Ele era um cúmplice, um aliado, foi muito importante na minha formação, e nunca perdeu a capacidade de entender as nossas diferenças de geração e de poética. Sempre pude mostrar para ele o meu trabalho, que era diametralmente oposto ao dele, outro tipo de constelação. A gente tinha uma troca boa, sempre conseguimos fazer isso."
Depoimento de Regina Silveira em fevereiro de 2020 para a exposição Iberê Camargo – O Fio de Ariadne. A versão estendida, em vídeo, encontra-se no YouTube da Fundação Iberê.