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D. Pedro I, Imperador e Defensor Perpétuo do Brasil

Urbain Massard (Paris, 1775 - Viry-Chatillon, 1843), segundo Henrique José da Silva (Lisboa, 1772 - Rio de Janeiro, 1834)1831

Palácio Nacional de Queluz

Palácio Nacional de Queluz
Queluz, Portugal

Jean Baptiste Urbain Massard, a partir do desenho de Henrique José da Silva
Paris, França, 1830 (finais) - 1831 (início)
Gravura a buril
75 x 53,5 cm

Inscrição:
"DOM PEDRO I. / IMPERADOR, E DEFENSOR PERPETUO DO BRASIL. / Pintado por Henrique Jozé da Silva, Pintor da Camara de S:M:I:, e Director da Imperial Academia, e Escola das Bellas Artes do Rio de Janeiro"

Subscrição:
"Peint par Silva – Grave par Urbain Massard"

Detalhes

  • Título: D. Pedro I, Imperador e Defensor Perpétuo do Brasil
  • Descrição detalhada: Em agosto de 1820 eclode a Revolução Liberal no Porto e os constitucionalistas, vitoriosos, exigem o regresso de D. João VI. O soberano viaja para Portugal (1821), deixando o seu primogénito ao comando do território brasileiro, na qualidade de Príncipe Regente. Mais tarde, as Cortes de Lisboa ordenam o retorno de D. Pedro como tentativa de restabelecer o pacto colonial, mas o Príncipe decide permanecer no Brasil. A 9 de janeiro de 1822 – o célebre “Dia do Fico”– anuncia essa decisão e assume publicamente a defesa da causa independentista brasileira. A 13 de maio recebe o título de Defensor Perpétuo do Brasil, ainda como Príncipe Regente, e em setembro declara a independência do Brasil. Entre a proclamação da independência e a promulgação da primeira Constituição (25 de março de 1824), transcorre um intenso período em que se sucedem importantes acontecimentos políticos que preparam o caminho para a coroação de D. Pedro I como imperador constitucional do Brasil (1 de dezembro de 1822) e o reconhecimento internacional da autonomia do Brasil Imperial face a Portugal. A representação do jovem imperador, enquanto figura centralizadora do novo país soberano, começa a ser usada por D. Pedro I a seu favor, apostando na produção de retratos gravados que funcionaram, a vários níveis, como imagens de poder. A estampa do Palácio Nacional de Queluz enquadra-se neste contexto e as suas inequívocas fontes visuais diretas são os retratos majestáticos de D. João VI (Jean Baptiste Debret, 1817) e de D. Pedro I (Henrique José da Silva, 1822-1825), este último pintado após a sua aclamação como imperador em 1822. A obra de Henrique José da Silva chegaria a ser a representação oficial, em vestes imperiais, de maior difusão, graças à sua reprodução em gravura de Urbain Massard. Enquanto a tela do pintor português não apresenta assinatura nem data, por seu turno Massard cita o nome e os títulos do retratista, como é possível observar na estampa. Em ambos os retratos, de corpo inteiro, os monarcas são apresentados de forma magnificente, vestidos com o manto, cetro, espada e coroa com que foram consagrados. Amplas cortinas e luxuosos tecidos inundam a composição teatral, cuja arquitetura fingida de estrado, coluna colossal e trono serve de palco à estudada pose dos monarcas. Este modelo remete para a tradição retratística cortesã dos reis franceses da dinastia Bourbon, cuja máxima expressão se encontra no retrato de Luís XIV (1701) de Hyacinthe Rigaud, paradigma do retrato áulico que acabou por se impor nas cortes europeias do século XVIII, ao longo do qual o retrato de corte evoluiu para uma representação mais natural e humana. Não obstante, no início do século XIX reaparece com força o arquétipo da grandeur francesa, exemplificada nos retratos propagandísticos em traje de coroação de Napoleão I (François Gérard, 1805; Jacques-Louis David, 1807), Luís XVIII (Jean-Baptiste-Louis Gros, 1817) e Carlos X (François Gérard, 1825), em sintonia com a iconografia dos grandes reis do Antigo Regime europeu. A estampa de Urbain Massard reproduz com todo o detalhe as vestes, adereços e insígnias imperiais “com que [D. Pedro I] apareceu no ato solene da Sua Gloriosa Aclamação”. Todos os elementos interpretam o seu papel na aparatosa cena, incluindo a mesa na qual permanece pousada a coroa, como ditava a tradição da Casa de Bragança a partir de D. João IV. Destaca-se a ausência de gesto altivo, distante, ainda que se mantenha a pose elegante, menos afrancesada face aos retratos anteriormente mencionados. Poder-se-ia pensar que a imagem construída para o primeiro imperador do Brasil se limita a seguir um modelo de retrato consistente com os códigos do absolutismo monárquico, mas os ventos de mudança nos regimes políticos vigentes, tanto na Europa como no continente americano, também se fazem sentir nesta imagem de poder. As novidades iconográficas observam-se na indumentária, concretamente no exótico aspeto do manto e na substituição dos calções (até abaixo do joelho), meias e sapatos por calças com botas de cavalaria, incorporando a componente militar na retórica de poder e majestade do jovem imperador. Convém recordar que, antes da separação do Brasil do reino de Portugal, entre 1810 e 1828, emanciparam-se várias colónias da América espanhola, independência consolidada após prolongadas guerras, nas que resultaram decisivas as atuações guerreiras e libertadoras do argentino José de San Martín e do venezuelano Simón Bolívar. Líderes representados na pintura como heróis militares, de calças brancas, botas negras e espada, nos momentos de maior prestígio pessoal. O estudioso e crítico de arte brasileiro Mário Pedrosa, em 1955, destacou a associação “manto real-botas militares” como elementos inovadores na iconografia de D. Pedro I, presentes nas pinturas de Henrique José da Silva (Pedro I em traje majestático, 1822-1825) e de Jean Baptiste Debret (Coroação e sagração de D. Pedro I, 1826). As notícias recolhidas no Diário Fluminense (25 de maio de 1824, 27 de junho de 1825 e 16 de março de 1831), jornal publicado durante o governo de D. Pedro I, informam que a gravura foi encomenda de Henrique José da Silva – pintor de câmara de Sua Majestade Imperial e diretor da Academia de Belas-Artes do Rio de Janeiro – a Urbain Massard, “o mais acreditado gravador de Paris, e talvez da Europa”, célebre pelo seu virtuosismo na gravura a buril, técnica já coexistente com o procedimento litográfico (mais rápido e barato) e estimada pela sua associação à estampa culta, académica e oficial. Domingos Borges de Barros, Visconde de Pedra Branca e representante do Brasil na Corte francesa, foi o intermediário desta iniciativa. Em junho de 1825, o desenho que serviu de base foi levado para Paris pela mão do diplomata, ainda que não contasse com os 40.000 francos pedidos por Massard. A gravura, impressa sobre papel velino, chegou ao Brasil anos mais tarde, em março de 1831 (dias antes de ser colocada à disposição dos subscritores no anúncio de 16 de março), também através de Borges de Barros. Esta demora na entrega do trabalho deveu-se à dificuldade em reunir o valor necessário para custeá-lo, o equivalente a 6.400.000 reais da época. O pagamento desta encomenda foi possível mediante um sistema de subscrição – iniciado pelo pintor em maio de 1824 – com sede na “Casa do Imperial Museu”, residência e lugar de trabalho de Henrique José da Silva onde, uma vez chegada a estampa, foi colocada à venda por 20.000 reais, para “as pessoas de gosto decidido pela perfeição das Belas-Artes” e “a fim de (…) rivalizar com as melhores estampas que se tem publicado dos Monarcas da Europa, bem como o Augusto e Adorado Original [Pedro I] rivaliza pelas (…) Suas Virtudes e Feitos com os primeiros Heróis que tem (…) merecido os respeitos e a admiração do Universo”. Alguns exemplares avant la lettre, estampados sobre papel da china, também puderam ser adquiridos “na casa do Museu Nacional”. Ironia do destino, pouco despois de chegar ao fim uma aventura editorial que pretendia imortalizar a figura imperial de D. Pedro I, este abdica a favor do filho (D. Pedro II), adota o título de Duque de Bragança e parte para a Europa com o objetivo de defender os direitos dinásticos da filha (D. Maria II) ao trono de Portugal. SOBRE HENRIQUE JOSÉ DA SILVA Nascido em Lisboa, foi discípulo de Joaquim Manuel da Rocha e de Pedro Alexandrino. Em 1819 parte rumo ao Brasil, onde exerce como professor de desenho e Diretor da Academia de Belas-Artes do Rio de Janeiro, até 1834. Poucas são as obras pictóricas que se conhecem da sua autoria. Por exemplo, os retratos do senador João Antônio Rodrigues de Carvalho (Museu Nacional de Belas-Artes, Rio de Janeiro) e do imperador D. Pedro I (Museu Imperial, Petrópolis), este último celebrizado graças à difusão das estampas de Urbain Massard. O Museu D. João VI da Escola de Belas-Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro possui uma ampla coleção de desenhos a crayon ou carvão, de grande qualidade, assinados pelo artista: 82 desenhos de anatomia, 24 academias, 9 cópias de pinturas europeias, sobretudo italianas, e 10 desenhos ornamentais, provavelmente usados como material didático nas suas classes de desenho. SOBRE JEAN BAPTISTE URBAIN MASSARD A sua primeira formação como gravador recebeu-a no seio familiar, com o pai Jean Massard, membro da Academia Real de França, e com o irmão Jean Baptiste Louis. Participou no Salão de Paris entre 1798 e 1822, onde obteve uma medalha de segunda classe em 1810 e de primeira em 1817. Recebeu o título de Cavaleiro da Legião de Honra em 1824. Entre as melhores obras da sua autoria encontram-se reproduções de pinturas célebres e retratos a partir de Van Dyck e Rembrandt.
  • Criador: Urbain Massard (Paris, 1775 - Viry-Chatillon, 1843), segundo Henrique José da Silva (Lisboa, 1772 - Rio de Janeiro, 1834)
  • Data: 1831
  • Localização: Paris, França
  • Rights Information: Fernando Montesinos
  • Image Rights: © PSML | Foto: Paulo Cintra & Laura Castro Caldas, 2014

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