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Morte de D. Pedro (24 de setembro de 1834)

Nicolas-Eustache Maurin (Perpignan, 1799-Paris, 1850)1836

Palácio Nacional de Queluz

Palácio Nacional de Queluz
Queluz, Portugal

Nicolas-Eustache Maurin (desenhou e litografou)
Paris, França, 1836
Gravura, litografia colorida
31,5 x 36,5 cm

Inscrição:
MORT DE DON PEDRO (24 7.bre 1834) / Don Pédro regent du Portugal, sentant sa fin prochaine montra la plus admirable résignation. Il / fit appeler son Auguste fille Dona Maria et lui recommanda de s'attacher à la Charte, comme à la seule ancre / de salut il manda près de lui les ministres et quelques vieux soldats et dit à l'un deux. / " Viens que je t'embrasse et que je te remercie de tes nobles services dis à tes camarades que je regrette de ne / pouvoir les presser tous sur mon coeur pour leur prouver combien je les aime et les estime et combien je / m'honore d'avoir combattu avec eux pour sauver la patrie " | MORTE DE D. PEDRO (24 de 7.bro de 1834) / D.Pedro, Regente de Portugal, sentindo approximarse a sua ultima hora. Mostrou a mais admiravel resignação. / Mandou chamar a sua Augusta filha D. Maria e lhe recommendou a observancia da Carta como seu unico / porto de salvamento. Tambem fez vir á su presença os Ministros e alguns soldados velhos e dise a hum destes: / " Vem ca, quero abracar-te e agradecer-te os teus nobres servicos. Dize aos teus camaradas que sinto não poder / aperta-los todos contra o meu coração para lhes provar quanto os amo e me honro de haver combatido com elles / para salvar a patria. "

Subscrição:
Paris, chez Bulla, rue S.t Jacques, 38. — N Maurin del. — L.de Maurin, rue Mezières.7.

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  • Título: Morte de D. Pedro (24 de setembro de 1834)
  • Descrição detalhada: A morte de D. Pedro, Duque de Bragança, teve lugar a 24 de setembro de 1834, por volta das duas e meia da tarde, no mesmo aposento que o vira nascer trinta e cinco anos antes. Um final de vida “na flor da idade e no auge da glória”, resultado de doenças e fadigas continuadas que foram consumindo a saúde do monarca. Uma perda, no início do outono, precedida por uma série de vitórias que desencadearam o ocaso do Antigo Regime em Portugal: a deposição das armas pelo irmão D. Miguel e consequente fim da guerra civil entre absolutistas e liberais, a restauração e juramento da Carta Constitucional perante as Cortes, e o reconhecimento nacional e internacional da sua filha D. Maria da Glória como Rainha de Portugal. O primeiro ato de governação da jovem D. Maria II seria a concessão da Grã-Cruz da Torre e Espada ao seu querido pai, “testemunho do vivo amor, respeito e gratidão” para com a sua augusta pessoa (Carta Régia escrita no Palácio de Queluz, 20 de setembro de 1834). A morte de D. Pedro no Quarto D. Quixote, de grande repercussão em numerosos documentos periodísticos e literários da época, foi plasmada em várias gravuras póstumas. Entre as imagens representativas desta cena sobressai o desenho concebido por Nicolas-Eustache Maurin, litografado no atelier parisiense do próprio artista, com destino a um público culto e rico. A edição e comercialização das estampas litográficas ficaram a cargo da casa Bulla, em 1836, importante família de gravadores, editores e comerciantes de estampas, encabeçada por François Bulla que, entre 1818 e 1849, manteve aberta uma casa de venda de estampas em Paris, na Rue Saint-Jacques nº 38. A composição inventada por Maurin recria os últimos momentos de D. Pedro, agonizante no seu leito, despedindo-se da filha, esposa e amigos pessoais, na presença de outras pessoas ao seu serviço; episódio que verdadeiramente se desenrolou em vários momentos ao longo do dia 20 de setembro, aqui concentrado numa única cena na qual convivem narração e simultaneidade, onde o “transcorrer” se metamorfoseia em “instante”: à direita, a sua esposa, D. Amélia de Beauharnais, é consolada pelo Duque de Saldanha, enquanto a sua filha D. Maria II, recém-coroada, ajoelhada agarra a sua mão, aos pés da cama. À esquerda, o rei despede-se simbolicamente das suas tropas e ajudantes de campo, apertando a mão do veterano Manuel Pereira, de Caçadores 5, o seu predileto batalhão de infantaria. Atrás do bravo soldado, que cobre o rosto para esconder as lágrimas de dor, encontram-se outras personalidades proeminentes, como os marechais do “exército libertador” e o Padre Marcos, confessor de D. Pedro desde 1832 e Arcebispo de Lacedemonia desde 1835. Fora de Portugal conhecem-se outras gravuras idênticas à de Queluz, como a preservada no Palácio do Itamaraty (Rio de Janeiro, Brasil). Em Portugal, a gravura do Museu Romântico da Quinta da Macieirinha (Porto) oferece pequenas diferenças. A mais destacada: a representação de D. Pedro com mosca e suiças, e não com barba e bigode, como nos exemplos anteriores. Ambos os tipos provêm da mesma matriz, cuja superfície deve ter sofrido alterações. O exemplar do Palácio de Queluz é uma versão posterior, mais acabada. A 24 de fevereiro de 1836, na secção de Belas-Artes do jornal brasileiro "O Artilheiro" (nº 42, página 4), podia ler-se: “Acaba de chegar de França e acha-se à venda na loja de Estampas de Fontana, Rua de S. António N.º 48 e 49, uma bella Estampa representando os últimos momentos do Augusto Duque de Bragança. É um grupo de retratos perfeitos, do Heroico Moribundo, sua Augusta Filha, e Esposa, os Marechais Duque da Terceira, e [Duque de] Saldanha, o Arcebispo de Lacedemonia, Marquês de Resende, Ministros de Estado, Pessoas do serviço do Paço [de Queluz], que logo à primeira vista se conhecem; tanto eles são semelhantes! Não é possível ver esta estampa, sem uma viva comoção de saudade. Vende-se por 1200 rs.”. Esta fonte brasileira, indicativa do ano (1836) em que a gravura começa a ser comercializada, já aparece mencionada no terceiro volume do “Dicionário de Iconografia Portuguesa. Retratos de portugueses e de estrangeiros em relações com Portugal” (Ernesto Soares e Henrique de Campos Ferreira Lima, 1950). Informação que permite delimitar melhor o arco cronológico da gravura de Maurin. Este facto importante – o surgimento da estampa no mercado em 1836 – foi primeiramente registado na “Bibliographie de la France ou Journal général de l'imprimerie et de la librairie” de 1836 (Ano 25, nº 6, sábado, 6 de fevereiro), publicação semanal francesa fundada por decreto imperial em 1811 e compilada em volumes anuais, na qual eram listadas todas as obras publicadas em França, incluindo livros, composições musicais, mapas, fotografias, registros de publicações estrangeiras e estampas (gravuras e litografias). Na página 71 do referido volume pode ler-se o seguinte: “142. Mort de don Pèdre, lith., d’après Nicolas Maurin. – A Paris, chez Bulla, rue St-Jacques, n. 38.” Portanto, com base nesta fonte de início de fevereiro de 1836, um ano e alguns meses após a morte de D. Pedro, a casa Bulla de Paris colocou à venda a gravura de Maurin. Na litografia colorida à mão do Palácio de Queluz, realizada a lápis com um excelente tratamento do claro-escuro, aprecia-se a intenção de iluminar o grupo central da sombria composição através do uso do crayon litográfico, realçando os brancos na camisa e almofada de D. Pedro, na gola do traje da rainha e no lenço e joias da Duquesa. Oferece um conteúdo temático (os últimos momentos ou morte do Rei) frequente na pintura de história do século XIX. Basta recordar Charles de Steuben e a sua “Morte de Napoleão a 5 de maio de 1821” (1828), de grande impacto no mercado de gravuras da época e que contribuiu para a transformação da figura de Napoleão em herói trágico, comparável a Alexandre Magno ou Júlio César. Este tema – que enlaça com uma tradição iconográfica vigente na Europa entre os séculos XVI e XVIII, especialmente em relação com as noções de propaganda política e ideologia funerária – enquadra-se no modelo de representação da “boa morte”, isto é, a morte por doença ou envelhecimento durante a qual o rei, no seu leito, tem tempo de despedir-se dos seus entes queridos, dar orientações ao seu herdeiro, receber o sacramento da extrema-unção e preparar-se para morrer religiosamente. No caso da obra de Maurin, cuja linguagem testemunhal e emotiva se vincula ao Romantismo, estamos perante a recriação de uma cena de carácter semiprivado, efetivamente sucedida a 20 de setembro de 1834, sendo que D. Pedro não exibe elementos alusivos ao seu estatuto Real, mas antes dá mostras de humanidade e compromisso com a causa que defendeu até à morte. O artista francês, no momento de representar o adeus definitivo de D. Pedro, recorre a estas fontes visuais, matéria-prima de um dinâmico comércio de estampas circulantes pela Europa, reforçando a dimensão heroica de determinados monarcas e líderes político-militares. Neste sentido, cabe mencionar, uma experiencia anterior, publicada em 1832, em que representou os últimos momentos do jovem Duque de Reichstadt – filho de Napoleão I e de Maria Luísa de Habsburgo – no palácio vienense de Schönbrunn, no mesmo aposento em que o seu pai, anos antes, se tinha alojado no auge da sua grandeza e poder. A inscrição que acompanha a imagem (“DERNIER MOMENT DU FILS DE NAPOLÉON / A vingt et un ans Mourir sans Gloire; quand l'Epée que je tiens, / a fait trembler l'Europe”) evoca o mito de Napoleão como herói romântico e a nostalgia de um Império malogrado. O tom dramático e a disposição das figuras prenunciam o esquema construído para a Morte de D. Pedro, embora o jovem Napoleão, sobrinho de Leopoldina de Habsburgo (primeira esposa de D. Pedro), não apareça no seu leito de morte, febril, mas sentado e vestido, segurando contra o peito uma espada que nunca desembainhou. Muito mais próxima da “Morte de D. Pedro” do ponto de vista compositivo, mas de pior qualidade no desenho, encontramos a “LA MORT DE NAPOLÉON II.”, gravura a água-forte de 1832, de autor desconhecido, comercializada pela parisiense Casa Dopter (Rue St. Jacques nº 21), sendo que a disposição das figuras e elementos traz à memória a litografia do Palácio de Queluz. SOBRE NICOLAS-EUSTACHE MAURIN Filho do pintor Pierre Maurin e irmão do pintor e litógrafo Antoine Maurin, Nicolas foi aluno de Regnault e participou nos Salões de Paris de 1833, 1834 e 1835. Pintor e gravador, destacou-se entre os litógrafos dos anos 30 do século XIX, distinguindo-se pelos seus elegantes retratos da família real e da alta sociedade durante o reinado de Louis-Philippe I, último rei de França; pelas suas cenas de género sobre as modas e costumes galantes da burguesia da época, algumas delas impregnadas de um certo erotismo; e como criador de fantasias orientalizantes e de composições históricas, antigas e contemporâneas. Autor, juntamente como o seu irmão Antoine, de uma “Iconographie des contemporains” (1832), na qual se inclui a célebre litografia "Toussaint Louverture", e de uma série de retratos publicados com o título “Célebrités contemporaines”. Da produção retratística de N. Maurin destaca-se o retrato de grupo em gravura da família de Louis-Philippe I, desenhado e litografado por Maurin cerca de 1842, edição de Bulla e François Delarue. O crítico de arte Charles Baudelaire, no seu célebre texto “Le Peintre de la vie moderne” (1863), menciona a Maurin como um dos grandes da litografia francesa, à altura de Paul Gavarni, Honoré Daumier, Achille Devéria, Numa, Charles-Émile Wattier, Octave Tassaert, Eugène Lami, Louis-Joseph Trimolet e Traviès, “pintores da circunstância e de tudo o que esta sugere de eterno”.
  • Criador: Nicolas-Eustache Maurin (Perpignan, 1799-Paris, 1850)
  • Data: 1836
  • Localização: Paris, França
  • Rights Information: Fernando Montesinos
  • Image Rights: © PSML | Foto: Emigus, 2012
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