Morte da Virgem

Tal como Grão Vasco e Gaspar Vaz, os seus contemporâneos de outras oficinas trabalharam conjuntamente, e com frequência, nos mesmos projetos. O exemplo mais emblemático do carácter recorrente que o regime de trabalho coletivo assumiu na época é o que se refere aos retábulos feitos para a Igreja do antigo convento de Ferreirim, na região de Lamego. A partir de desenhos de Cristóvão de Figueiredo, e por vontade do próprio, participaram na execução dos projetos Gregório Lopes e Garcia Fernandes. Face à dificuldade em destrinçar com objetividade desempenhos individuais nos oito painéis que formavam os retábulos dos dois altares laterais, já que o do altar-mor se perdeu, e considerando a familiaridade de uma série de pinturas anónimas dispersas por várias coleções com o que se materializa nesses painéis, a historiografia da arte consagrou como categoria designativa, para resolver os problemas da autoria dessas pinturas, a de "Mestres de Ferreirim".
A Morte da Virgem têm as respetivas autorias inscritas no âmbito dessa célebre parceria. Entre a Morte da Virgem e a pintura com o mesmo tema daquela empreitada regista-se uma série de elementos comuns, que vão da estrutura da composição, aqui numa diagonal mais afirmada, à precisa identidade e forma dos objetos que se representam sobre o banco lateral ao leito da Virgem, ou ao tipo fisionómico e indumentária de um ou de outro apóstolo. A menor desenvoltura no agenciamento das figuras no espaço, aqui numa massa compacta que só o escalonamento de baixo para cima permite resolver, poderá justificar-se na intenção de dar maior visibilidade à figura de Cristo que aparece à sua mãe no momento do seu passamento. Um pormenor iconográfico invulgar e não coincidente com as fontes escritas - na cena é Cristo que deposita a vela na mão da Virgem e não o apóstolo São João como sucede em todos os painéis da Dormição de Maria. Uma iconografia rara na pintura portuguesa e ausente na pintura de Ferreirim.