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Documents from Gilberto Gil's Private Archive

Instituto Gilberto Gil

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Brazil

  • Title: Documents from Gilberto Gil's Private Archive
  • Transcript:
    | Opinião de Raça A ministra e o cartão corporativo afastado por impeachment e saiu preso do Congresso Nacional, "coincidentemente", um negro, Celso Pitta. O atual governo federal tem sido cam- peão em em investigações envolvendo seus auxiliares. Bastou apenas uma suspeita de uma viagem para orar com dinheiro públi- co, para que a ex-governadora e ministra Benedita da Silva fosse banida do governo e quase da vida pública brasileira, sem di- reito sequer de se defender, posição muito diferente da adotada com os vários brancos E m nosso país sempre quiseram associar o racismo à questão de classe. É muito comum nos dias de hoje dizer que, se o negro es- tudar e prosperar na vida, a discriminação acaba. Em um período não muito distante, nos anos de chumbo, quando as diferenças ideológicas entre direita e esquerda eram mais acentuadas, ouvíamos com freqüên- cia dos companheiros de esquerda a se- guinte frase: "No dia em que a revolução vencer e construirmos uma sociedade mais justa e igualitária, o problema do racismo acabará Em contrapartida, ouvíamos da direita que esse mal só teria fim no dia em que o negro tivesse dinheiro e status para comprar tudo, inclusive a consciência dos racistas. Enquanto a utopia da revolução ou do enriquecimento que compra cons- ciências não chega, continuamos sendo indistintamente discriminados, seja qual for nossa posição ideológica ou cargo que ocupemos neste País. Por Mauricio Pestanas que posteriormente foram acusados de corrupção Por que será que não envolvendo milhões. To- foram concedidas as dos tiveram pleno direi- mesmas manchetes e to de se defender, serem julgados sao bom tempo e gosto da justiça brasileira, e em alguns casos acaba ram obtendo mais poder do que tinham antes das acusações. A bola da vez desse tratamento desleal racista da elite brasileira tem sido a ministra Matil- de Ribeiro, da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial-Seppir o mesmo espaço para falar, por exemplo, de outra negra, a do Meio Ambiente, Marina Silva ou ao ministro Gilberto Gil, que recentemente no Canadá foi homenageado como melhor ministro da Cultura do mundo? A face mais perversa desse racismo é ex- posta quando essa elite majoritariamente branca, acostumada a ocupar todos os es- paços privilegiados dos quais se acha dona por direito, vê suas posições ameaçadas ou ocupadas por negros. Ai, sem disfarçar e muitas vezes com requintes de crueldade, tenta nos punir com o o que há de mais sor- dido, que é questionar a posição ou atitude que teoricamente poderia ser exercida so- mente por brancos. Os exemplos vão dos mais banais, como a polícia parar um negro em um carro de luxo, que habitualmente seria ocupado por um branco, até o desres- peito às autoridades públicas negras. Em que pese o gasto demasiado da mi- nistra em seu cartão corporativo, o que queremos refletir aqui é a forma como ela tem sido julgada, não pelos costumeiros milhões de verbas públicas a que assisti- mos todos os dias nos noticiários, até por- que isso nem seria possível uma vez que sua secretaria conta com um dos menores orçamentos da União, abaixo, inclusive, de várias estatais, mas a ministra está sendo julgada por gastar o seu cartão com alu- guéis de carros e despesas em hotéis de luxo e viagens, benefício permitido ape- nas à elite branca neste País. O que mais deprime no racismo tupiniquim é que não se queira refletir que na maioria dos hotéis A história recente do País tem mostrado tratamentos diferentes quando o acusado é negro. Por exemplo, em São Paulo, vários foram os prefeitos e até governadores acu- sados de desvio de dinheiro público; entre eles houve inclusive quem pregasse o slo- gan "roubo mais faço". Todos foram inves- tigados, todos negaram e somente um foi *Mauricio Pestana é Presidente do Conselho Editorial de Raça Brasil. Email: pestana.raca@escala.com.br e dos lugares onde a ministra tem gasto seu cartão o negro só consegue entrar ou como servical ou na condição de ministro, e, se se encontrar na segunda posição, es- tará cumprindo um papel social que é o de disfarçar a vergonhosa exclusão em que es- tamos metidos neste País subdesenvolvido até na forma de expressar seu racismo. A maioria dos lugares onde, segundo as denúncias da imprensa, a ministra tem gasto seu cartão realmente só são fre- qüentados pela elite branca, o que logo nos faz levantar a dúvida, a nos causar indignação as denúncias se devem ao gasto do dinheiro público ou à presença de uma mu- lher negra em um espaço branco dessa sociedade? Por que será que não fo- ram concedidas as as mes mas manchetes e o mes- mo espaço para falar, por exemplo, de outra negra, a do Meio Ambiente, Marina Silva, que teria tido o me- nor gasto entre os minis- tros? Por que será que não se dá o mesmo espaço que se deu, e com todos os méritos, quando o governador José Serra foi intitulado como melhor ministro da Saúde do mundo, ao ministro Gilberto Gil, que recentemente no Canadá foi homenageado como melhor ministro da Cultura do mundo? Se juntarmos o dinheiro da passagem que derrubou Benedita da Silva e os gastos do cartão de Matilde Ribeiro não dão um milionésimo do que tem sido denunciado de desvios de verbas públicas no Brasil nos últimos meses. Porém, se juntarmos os des- taques e as manchetes produzidos pelos gastos da ministra no cartão dá a impres- são é de que está em curso uma revolução no país, e infelizmente não é na ética hipó- crita das elites racistas brasileiras.
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