CLIENTE: Gilberto Gil
VEÍCULO: O Globo - RJ
SEÇÃO: Segundo Caderno
20/05/2008
C
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SERVICE DATA:
PÁG.: 02
DISCOLÂNDIA
A banda larga sem filtro de Gilberto Gil
Em seu primeiro CD de inéditas desde 'Quanta', compositor tem acertos, mas peca pelo excesso
Banda larga cordel
Gilberto Gil
III
dios popularíssimas). De novo, o filtro.
Leonardo Lichote
A que melhor resolve o tema da tec-
nologia e a relação arranjo-canção é
“Máquina de ritmo". O encontro de pro-
gramações e violão é exato, assim como
teclado herdeiro de Ed Lincoln. Tudo
se encaixa à letra, um ensaio sobre tra-
e em versos como
0
m "Banda larga cordel",
que da
nome ao novo disco de Gilberto
E
"O
melodia deliciosas com uma marcação confiança, agora o artista a abraça sem
de sax barítono que dá originalidade ao restrições. A música "Banda larga cor-
acompanhamento), Gil brinca com a "ca- del", amadurecimento de "Pela internet",
brita” que “se casaria com outra linda é certeira em ligar a lógica binária das
cabrita que até bem pouco namorara o máquinas com o "bim-bom" da bossa
meu irmão ".
Com leveza, captura ali nova (e do
all uma
de "tendência" contemporânea
espécie
"O rádio
fez igual com
seu avô", referin-
Gil, o autor saúda a chegada da ria diseau-de-arara do meu pai o que di- do-se à relação do menino do sertão dicão, o orgânico e digital, o caráter
me disse?", pergunta no com a internet. Musicalmente, porém,
da Dessacralizan
conexão rápida ao interior brasi- verso final
, que, falado por sua filha Nara há problemas que atingem outras faixas do o velho e o novo, ousa pensar que o
leiro: "O YouTube chegando
aos seus
grotões/ Veredas dos sertões, Guimarães parceria a graça a mais. "Os pals, ora deslumbre com timbres e efeitos ele- surdo pode no futuro virar peça de mu-
com Jorge , trônicos ("La renaissance africaine", "O seu e, anos depois, retomar o lugar que
mesmo caminho.
oco do mundo"), ora que
A tecnologia, assunto para Gil desde avançam além de clichês de serendo terá perdido para a máquina de ritmo.
gêne
ros ("Olho mágico" como balada soul,
"Não grude não" como forro-pop de ra-
A Tarde/Margarida Nelde/16-1-2008
e o
Gil,
lomão no Alto Solimões". A letra não cita,
porém, que, quando se alarga a banda,
sam pela porteira.
ede
"Cérebro eletrônico" e "Lunik 9", tam-
não são apenas
is Rosas e Camões que pas-
bém está lá. Se antes era vista com des-
rede, mais que na-
vegar, filtrar é preciso. E aí está o proble-
ma central do álbum:
na ânsia de alargar
banda
de apresentar novas can-
cões,
lepois de 11 anos de seu último CD
calcado em inéditas, "Quanta" - Gil dá a
impressão de ter filtrado
pouco. São 16
faixas, mais de uma hora. Se ha momen-
tos dignos de Rosas (Noel e Guimarães),
há outros que nada acrescentam à
sua
obra nem propõem uma
um diálogo produti-
vo com a atual música brasileira.
serão
O ouvinte que se dispõe a filtrar é re-
compensado. O melhor Gil aparece no
lojas físicas e virtuais (onde
faixas
vendidas separadamente), mas ele já
pode ser ouvido no sonora.terra.com.br.
O olhar do músico, hu
que une humor, pro-
funda filosofia popular) e compromisso
com o aqui-e-agora, atravessa o disco.
“Despedida de solteiro", que abre o
CD, é bom exemplo. Num xote de letra e
GILBERTO GIL: Olhar afiado sobre o hoje garante melhores momentos do longo disco
"Não tenho medo da morte" perde
com arranjo de cordas
Na mesma linha, saem-se bem "For-
mosa" - moderna elegância gafieirís-
tica nos metais e nas programações, e
interpretação solta de Gil, que muda
melodias e corta palavras - "Amor de
carnaval" e "Gueixa no tatame".
Gil
Tirada do disco "Nightingale", a regra-
vação
de “Samba de Los Angeles" -- be-
lo samba
quebrado, calcado no violão
que a economia de ele-
mento mostram
em alguns momentos,
ser um caminho para os arranjos. A linda
"Não tenho medo da morte", por exem-
plo, perde com as cordas óbvias - mais
uma
sobra de
de “Banda larga
Cordel".
Pela primeira vez, Gil não quis pensar
na ordem das
faixas. O internauta, ale-
gou, montará seu próprio disco. Talvez
essa confiança no ouvinte explique os
excessos (de eletrônica, de canções) que
tornam o álbum menor do que poderia
ser. Porque ser artista, assim como ser
ministro, Gil sabe, é fazer escolhas.
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