JORNAL
DAS GRAVADORAS
ELIAS NOGUEIRA
AS PREFERIDAS DO ELIAS
ENTREVISTA
O Produtor de Relíquias
Marcelo Froes, produtor, pesquisador de música brasileira responsável pela vinda de George Martin (produtor dos discos dos Beatles) ao Brasil em 1993 para o memorável show na Quinta da Boa Vista, no Rio
de Janeiro. Lançou o livro "Os anos da beatlemania' assim como, "Jovem Guarda em ritmo de aventura e traduziu o livro "Summer of Love: The Making Of Sgt. Pepper's", que no Brasil saiu com o nome, "Paz,
Amore Sgt. Pepper". Resgatou obras de vários artistas de renome internacional que estavam perdidas nas gravadoras como: Erasmo Carlos, Nara Leão, Gilberto Gil, ZE Ramalho entre outros. O arqueólogo musical
recebeu o JG para contar um pouco do seu trabalho do qual foi pioneiro no Brasil.
Erasmo, Marcelo o Gil
Como começou seu
trabalho de pesquisa?
Isto veio da época que
eu pesquisava os
Beatles. Fiz um livro
sobre os Beatles e
quando eu estava
fazendo o livro seguinte
- sobre a Jovem Guarda,
por volta de 1993/94
me veio a idéia de
pesquisar gravadoras,
até porque o movimen-
to foi algo mercado
lógico. Foi a partir dai
que tudo começou.
Depois de ter feito
pesquisa em algumas
gravadoras, dentre elas a Sony - Aproveitei aquela viagem a integra e então eu lhe pedi que
que foi a que mais teve artistas Londres para tentar localizar me acompanhasse na reunião com
na Jovem Guarda - consegui uma estes masters, que haviam sido a gravadora, mostrando o projeto
autorização da diretoria para gravados em 1971 e que haviam final e confirmando que con-
visitar o arquivo, que funcionava ficado para trás. Quando retornei cordava com aquilo tudo. Foi o
no bairro de Acari. Foi aí que de Londres, sempre mantendo que fez, e ele nem era mais artista
achei um disco do Leno que contato com Gil, forçando a da Universal. A caixa saiu em
a
nunca havia sido lançado. Este gravadora aqui no Brasil (a então 1999. Neste meio tempo, fiz
disco, "Vida e Obra de Johnny Polygram) para tentar localizar a outros projetos menores, mas de
McCartney", havia sido gravado fita através da matriz em Londres. grande importância também,
em 1970 com produção de Raul Nessa época a
Seixas e censurado e arquivado Polygram estava Marcelo com George Martin
na época. Haviam dito ao Leno fazendo uma série
que a fita seria apagada e ele de caixas Grandes
próprio havia esquecido o Nomes com
assunto. Vinte e cinco anos artistas como Elba
depois a fita reapareceu. Como a Ramalho, MPB4.
Sony não se interessou em lançar. Caetano Veloso,
Leno abriu um selo e lançou Ney Matogrosso
independente. Posso dizer que etc. Quando fui
este foi meu primeiro projeto convidado pela
Nesta mesma época eu estava gravadora para
traduzindo o livro de George
Martin sobre "Sgt. Peppers'. Era
1995 e eu já estava no
International Magazine, me
afastando gradativamente da
advocacia. Tive a chance de
voltar a Londres em maio,
primeiramente com Robertinho de
Recife, que estava masterizando
um CD do Fagner no estúdios da
Abbey Road. Fui a passeio e
Teencontrei George Martin, que
já conhecia desde 1992. Foi
quando eu vi o maestro
trabalhando no projeto
"Anthology" do Beatles, com
aquelas coisa de pegar fitas,
remexer arquivos e tudo mais. Em
exatamente o que tinha acabado
de fazer com o disco do Leno,
então isso me deu um gás nesta
coisa de pesquisa. Nesta mesma
época, pouco antes de minha
viagem, havia conhecido o
Gilberto Gil quando o entrevistar
para o IM e havia lhe perguntado
sobre o disco que ele estava
gravando em Londres, com
músicas em inglês, e que
abandonou ao ter chance de
retornar do exilio. Ele viu que me
interessei pelo disco, me deu
corda, muita informação.
fazer a caixa do Gil,
topei fazer com a
condição de poder
lançar coisas
inéditas. Eles
aceitaram e aſ foram aparecendo
coisas e mais coisas. Passou a
época destas caixas, mas o projeto
da caixa do Gil permaneceu e foi
se arrastando. Neste meio tempo,
por volta de 1996, eu comecei a
investir nisso e fui me
aparelhando para poder escutar
fitas de rolo. Até porque, no inicio
do projeto do Gil, eu tinha que
ficar usando o estúdio da
gravadora nos horários mais
alternativos que você puder
imaginar. Eu tinha pressa, então
comprei aparelhos para poder
trabalhar em cima de coisas
antigas. Em 1998, finalmente fui a
Londres comprar a fita que
finalmente conseguira localizar
nas mãos de um colecionador, já
que o Gil me dissera que eu
poderia lançá-la na caixa. Quando
voltei de Londres, depois do
carnaval, aprontei o projeto na
forma de uma caixa contendo treze
CDs. Coloquei numa caixinha de
papelão e entreguei na mão do
Gil. Ele ouviu, aprovou tudo na
como o da coleção da Jovem
Guarda-com Wanderléa, Jerry
Adriani, Renato e seus Blue Caps,
Leno & Lilian.
Você fez a caixa do Erasmo Carlos
também?
Foi no dia do lançamento da caixa
do Gil, o Erasmo estava presente
econversamos sobre fazer a caixa
dele. Neste mesmo dia, o pessoal
da Universal me convidou para
fazer a caixa da Nara Leão, que
acabou demorando dois anos
para sair. Poucas semanas depois,
também comecei a trabalhar no
disco inédito dos Mutantes
"Tecnicolor", que era um disco
muito cobrado por parte da
imprensa e que finalmente acabou
saindo em 2000. A do Erasmo
comecei em 1999 e saiu agora em
novembro de 2002.
Quanto tempo leva para ficar
pronto um projeto de caixa?
De dois a três anos, mas isso
depende, pois tem caixas rápidas.
A caixa do Zé Ramalho que vem
com as capas originais e alguma
coisa inédita, com textos e a
história do cantor, que acabou de
sair, level quatro meses para
aprontar. A do Fagner deve sair
ainda neste primeiro semestre de
2003. A caixa do Vinicius de
Moraes fiz entre os anos de 2000
e 2001, quando a Universal me
indicou a filha do poeta. Era para
marcar os vinte anos da morte
dele em julho de 2001, mas saiu
um ano depois porque começou
em cima demais e envolveu muita
burocracia - pois licenciamos
material de selos pequenos e
também da Som Livre, da EMI etc.
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você também feza segunda caixa
do Gilberto Gil?
Quando fiz uma das primeiras
reuniões com Gil, para tratar da
caixa da PolyGram, sugeri a ele
que a pesquisa fosse estendida
aos discos lançados pela WEA -
onde o Gil já estava há quase
vinte anos. Procurei a WEA e o
Sérgio Alfonso
me respondeu
imediatamente,
dizendo que in-
teressava muito,
Em 97. eu já
havia feito o
levantamento de
tudo em ambas
as gravadoras
Foi quando per
guntei ao Gil se
ele teria coisas
caseiras, demos
etc. Ele merece
beu em casa e
enchei uma saco
la de supermercado com centenas
de cassetes e DATS. Aquilo me
consumiu mais uns três meses de
trabalho e eu finalmente fecheia
tampa em 1998. O projeto da WEA
passou por um período em que
as coisas ficaram paradas. O
projeto no andava. Tanto eu
quanto Gil no esperávamos que
a coisa fosse muito mais à frente.
Essas gravações mais recentes da
WEA exigiam um investimento
maior, porque são feitas em 24
canais e têm que ir para estudios
apropriados - enquanto que as
gravações em quatro e oito canais
eu fazia no meu próprio estudio,
que na época era caseiro.
Você é o pioneiro deste tipo de
trabalho?
Pela reação que a mídia deu
quando comecei meus primeiros
trabalhos, e pelas coisas que
escuto dentro da industria e dos
próprios artistas, acho que de
uma certa forma sou o pioneiro
sim. Eu tenho que dizer que isto é
uma coisa de dedicação, minha
atividade principale esta, eu vivo
disto. Por isso que faço tantos
projetos. Agora de vez em quan-
do aparece nos jornais uns
comentarios irônicos de que eu
estou em todas, mas isto é de-
comente de minha dedicação, um
trabalho leva ao outro. Existem
pessoas interessadas nesta coisa
e curiosos, mas eu te digo que
para ser pesquisador tem que ter
dedicação e estar bem apare
lhado. Não basta você saber e
querer fazer, você tem que estar
aparelhado para isso... e você
também tem que ter a confiança
dos artistas e das gravadoras. Eu
me espelhei no que já faziam lá
fora. Posso citar o Mark
Lewisohn, pois ele era um fl dos
Beatles assim como nós, teve
acesso à Rádio BBC de Londres
e fez um belo livro com um
levantamento minucioso de
todas as apresentações que os
Beatles haviam feito na rádio -
entre 1962 e 1965. Aquilo foi
inédito, porque até então só
existiam piratas com uma ou outra
gravação. Ele fez um levan-
tamento completo do arquivo
morto da radio e este trabalho
abriu as portas para ele junto
própria EMI, que lhe pediu para
fazer um levantamento das fitas
dos Beatles e ele acabou fazendo
aquele bestseller "Complete
Beatles Recording Sessions" e,
através deste livro, ele conheceu
Paul McCartney. Hoje em dia ele
trabalha com McCartney e fazo
levantamento de todas as coisas
dele, além de estar sempre en
volvido em todos os projetos
referente aos Beatles pela EMI
Há também o americano Ron
Furmanek, que faz muita coisa
legal em termos de reedições
caprichadas.
Já teve algum problema de
percurso em algum projeto?
Não, porque eu sempre gosto
muito de conversar antes sobre
todos os aspectos. O único que
teve um problema de percurso foi
Raul Seixas. Eu acho que na
realidade foi uma falta de comuni.
cação Infelizmente a coleção de
très CDs já estava pronta e toda a
tiragem teve que ser quebrada.
Alguns projetos começam e as
vezes tem que ser cancelados por
pro-blemas mercadológicos, mas
isso faz parte do jogo.
Como você se divide entre pes.
quisas, produções e ainda ser
editor de um jornal?
Antigamente era dedicação full
time, era todo dia e toda hora.
Hoje em dia minha vida profis-
sional vai de segunda a sexta das
9 até as 19 horas. Este horário é
totalmente dedicado ao trabalho
editando o jomal, ouvindo fitas,
fazendo en trevistas. É tudo ao
mesmo tempo agora". Até hoje
deu para administrar bem.
Depois do trabalho lançado sobre
Renato Russo, vem mais
novidades sobre Legião Urbana
por exemplo?
El no represento a banda e não
me sinto à vontade para falar uma
coisa categórica. Mas natu-
ralmente que se está sendo feito
este levantamento, é porque
alguma coisa deverá ser feita
Mas, de qualquer forma, mesmo
quando o Renato ainda estava
vivo, comentava-se sobre a caixa
de sobras e raridades da Legião
Urbana. Ele mesmo falava muito
sobre isso. O Dado e o Bonfa
sempre falam em entrevistas que
existe muito material e que é uma
coisa grandiosa, que será uma
caixa etc e tal. Entho com certeza
deverá rolar alguma coisa. Eu
poderei estar envolvido ou não.
Outros projetos em vista?
Recentemente saram as caixas de
Zé Ramalho e de Nara Leão, esta
iltima a segunda parte contendo
os LPs de 1977 a 1989. Estou
fazendo para a Universal um
trabalho com Ney Matogrosso,
para marcar seus 30 anos de
carreira. Como já falei, também
estou fazendo a caixa do Fagner
para a Sony e está sendo pre-
parada a reedição em CD dos LPS
originais dos Fevers - que é uma
banda da Jovem Guarda e que tem
quase quarenta anos de carreira.
Há algo em vista com Jorge Ben
Jore também com Elza Soares.
editorem
Renato Russo
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