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CLIENTE: Gilberto Gil
VEÍCULO: Zero Hora - Porto Alegre
SEÇÃO: Cultura
DATA:
O legado
do ministro
Especialista em Economia da Cultura avalia
a trajetória de Gilberto Gil no governo Lula
GABRIEL BRUST
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si, mas pelo tem-
po que o músico resistiu no coman-
do da pasta. Gil era um dos miseros
cinco ministros que conseguiam
se sustentar no governo cujo cor-
po ministerial começou a desabar
em 2005,com o episódio do Men-
salão. A posse do músico baiano,
em 2003, se dera para acomodar
o Partido Verde na gestão Lula. Gil
acabou se revelando um dos mais
carismáticos membros do primeiro
escalão. A popularidade dele aliada
à tradicional falta de prestigio da
pasta (que a torna pouco assediada
por aliados) compuseram o am-
biente perfeito para a estabilidade
de Gil, que agora pede licença para
se dedicar à música
Cultura conversou T e-mail
com a economista Ana Carla Fon-
seca Reis, uma das maiores au
toridades brasileiras nas áreas de
Economia da Cultura e Economia
Criativa, para fazer uma avaliação
da gestão de Gilberto Gil.
fim da atuação de
Gilberto Gil à fren-
te do Ministério
corpo do legado do ministro e sua
equipe, em termos de progressos,
ter seis eixos a conscientização de
tura, estabelecendo-a como um dos
da Cultura, anun- pilares de sua política; a sistemati-
ciado oficialmente zação de dados relativos a produção,
na quarta-feira, distribuição e acesso a bens e servi-
impressionou noços culturais, a aprovação da Con
pela demissão em venção pela Diversidade Cultural; o
reconhecimento do valor do patri-
mônio imaterial e sua divulgação;
a participação ativa nos debates in-
ternacionais acerca dos Direitos de
Propriedade Intelectual; e a criação
de programas de promoção a pro
dução circulação e acesso à cultura
Cultura - Qual sua avaliação
da evolução dos mecanismos de
incentivo à Cultural
Ana Carla - um dos pontos
em que Gil não fez a lição de casa.
Não me refiro apenas às leis Roua-
nete do Audiovisual, cujos defeitos
cresceram proporcionalmente ao
Orçamento que lhes foi destinado,
mas a uma discussão profunda do
que se pretende de fato com as leis
de incentivo e, a partir desses ob-
jetivos, desenhar os instrumentos
corretos. Em cinco anos, a única
alteração nas leis foi superficial,
sem que de fato tenhamos come-
çado a pensar nos fins, para então
definir os meios, inclusive em uma
discussão aberta com as empresas
privadas, já que é por meio delas
que os incentivos se concretizam.
Cultura - Qual sua avaliação
da gestão de Gilberto Gil frente
ao Ministério da Cultura?
Ana Carla Fonseca Reis - Gil Cultura - Em que mais o mi-
retirou-se em uma espécie de cronistro não fez a lição de casa?
nica de uma demissão anunciada. Ana Carla - Na prestação de
Um ministro que foi recebido com contas quanto às mudanças de ru-
carinho por ser um dos nossos foo- mo. O Sistema Federal de Cultura
nes culturais, mas não deixou de foi anunciado com gaudio, depois
despertar dúvidas se conseguiria não se cuviram mais notícias a seu
de fato lograr progressos. A meu ver, respeito. O Centro Internacional de
alcançou vários, em um processo Economia Criativa foi anunciado
de construção que entendo tenha como resultado do Fórum de In-
se iniciado com a gestão Weffort dústrias Criativas de Salvador. Em
(Francisco Weffort, ministro da Cul- 2004, teve seu projeto completo de
tuna durante o governo FH), guarda senvolvido, motivou um termo de
das as devidas ressalvas quanto aos referência assinado com o British
estilos e ao grau de amadurecimen Council pelo próprio ministro, em
to da política cultural nacional Londres, e depois simplesmente
não se falou mais a respeito, frus-
Cultura - Qual o principal le trando expectativas e não expli-
gado do ministro e sua
cor dança de programa.
cando o porque da suposta mu-
Ana Carla - A meu ver, o
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Gilberto Gil teve seu
pedido de demissão
aceito pelo presidente
Lula na última quarta
Cinco anos de encontros e desencontros
2003, A POSSE
Gilberto Gil toma posse. Na ce
rimônia, o novo ministro abusa de
termos complicados ("do-in antropo-
lógico", "primitivos contemporáneos"
"estandartos bélicos', 'semiodiversi
dade"). Promete medidas inusitadas,
como banir a palavra folclore (que
teria caráter pejorativo) e reformular a
sempre tão criticada Lei Rouanet.
- O ministério não pode ser ape-
nas uma caixa de repasse de verbas
para uma clientela preferencial - diz.
2004, PRIMEIRA BRIGA
A administração de Gil entrenta o
primeira crise, com o vazamento do
projeto que criava a Agencia Nacional
de Cinema e do Audiovisual. O artigo
43, que previa um maior controle so-
bre o conteúdo de TVs e rádios, & du
ramente criticado como uma medida
autoritária. Por fim, o ministério elimi-
na o artigo 43, e Gi se defender
-Todos sabem que lui perseguido
pelo governo militar, que tive minha
obra censurada. Pode o perseguido
tomar-se um perseguidor? Eu niol
2005, AS LÁGRIMAS
Em plena turbulência política do
governo Lula, Gil viaja sem parar. No
Rio Grande, canta no Fórum Social
Mundial e abre a Bienal do Merco
sul. Na ocasião, também vai a lópolis,
para inaugurar obras de restauração
Durante o discurso, vai as lágrimas:
- A crise virou entretenimento,
É uma necessidade da mídia. Mas,
mesmo sendo um bom entretenimen-
to a crise é só um fragmento. Eu, vo
, o jomal, somos todos fragmentos.
2006, WHEN I'M 64
Gi começa bem o ano em que fa
ria 84 anosa a Idade celebrizada pela
canção dos Beatles. Leva o Grammy
de World Music pelo disco Eletracús-
tico. A reforma na Lei Rouanet, pro-
metida desde o início do mandato,
finalmente implementada, mas as
modificações são consideradas insuf-
cientes pelo meio cultural do país
2007, O INÍCIO DO FIM
Começam os rumores da demis-
são de Gil, Juca Ferreira, braço direito
do ministro, é cotado para assumir.
Especulações dão conta de que o
cantor brega Frank Aguiar estarianos
planos de Lula. Por fim, o presidente
convence Gil a ficar. O cantor explicar
- Quando falei que la sair do MI-
nistério, estava assustado porque era
a segunda vez em que teria de ape-
rar minhas cordes vocais. Mas minha
fonoaudióloga disse que minha recu-
peração estava boa
2008, A DEMISSÃO
Giltom finalmente seu pedido de
demissão aceito pelo presidente Lula.
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