ra brasileira. Diferentes brasileiros
produzem de maneiras diferentes
suas visões de mundo e seus estilos
de vida, incluindo a sua definição
circunstancial do ser brasileiro e do
que é e não é "brasileiro". Essas de-
finições, na verdade, competem
umas com as outras, buscando im-
por seu ponto de vista e conquistar a
hegemonia no espaço mental da na-
ção. Mas nem todas elas têm o mes-
mo poder. Algumas aparecem e de-
saparecem rapidamente. Outras são
sustentadas por interesses econômi-
cos e políticos tão bem organizados
que ganham durabilidade e condi-
ções de abafar as outras, embora a
"unidade" assim criada tenha pernas
curtas, nunca seja eterna. É uma “uni-
dade" falsa, precária, efêmera. Por-
que o país e sua cultura não só se
configuram a partir de focos diver-
sos, como se acham em permanente
mudança. O Brasil pode não ser si-
nônimo de feijoada, mas de tucupi.
Pode não ser sinônimo de orla marí-
tima, mas de pororoca. Pode não ser
sinônimo de orixá, mas do Bom Je-
sus da Lapa. E é com essa diversida-
de interna que temos de nos haver.
Engana-se, ao mesmo tempo,
quem acha que essas várias culturas
brasileiras existem como mundos iso-
lados, sem alianças e sem trocas en-
MINISTÉRIO DA CULTURA
tre si. As fronteiras entre esses mun-
dos são porosas, mudam de posição
freqüentemente - e, para cada mon-
tanha que isola, há um rio que apro-
xima, conduzindo pessoas e signos.
As culturas populares das várias
regiões e micro-regiões do Brasil têm
histórias de contato com as culturas
eruditas e a indústria cultural. Não é
um fenômeno recente. A polca, por
exemplo, foi uma espécie de rock ou
funk do século 19. Sem a polca, não
haveria salsa, merengue, tango - ou
o maxixe, elemento fundador na his-
tória moderna do nosso samba. E há
coisas ainda mais distantes no tem-
po, anteriores à existência de esta-
dos nacionais, que hoje são aciona-
das para definir nações. O que signi-
fica que acreditar na autenticidade é
apenas uma maneira de fingir que
toda cultura não tem origem na im-
pureza, na troca, na mistura.
Voltando à história da polca em
terras americanas, podemos perceber
um outro ponto, para o qual Ernesto
Valença também chama a nossa aten-
ção, ao dizer que "as localidades e
as comunidades continuam a inven-
tar suas formas de identificar seus
iguais, de manterem-se diferentes
apesar da tentativa de padroniza-
ção". Nada é mais fácil de constatar.
É claro que poderosas forças