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Documents from Gilberto Gil's Private Archive

Instituto Gilberto Gil

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Brazil

  • Title: Documents from Gilberto Gil's Private Archive
  • Transcript:
    M&M-Eem termos comerciais? Salles - Tecnicamente, você começa a aparecer no radar se você tem uma circulação paga de mais de 100 mil exemplares. Acho difícil, com os meios que temos, de chegar a isso. Quem primeiro entendeu a revista fo ram os profissionais da área criativa. Os de marketing também entenderam. Os profissionais de mídia, que trabalham tecnicamente, esses têm uma resistência maior. Do ponto de vista do anunciante, fomos per- cebidos desde cedo como uma revista que poderia interessar a determinados perfis. Há os que sio fiéis a gente desde o início. Nosso esforço é convencer os anunciantes de que temos algumas especificidades que não se reproduzem em nenhuma outra revista. A singularidade da Piauí é o fato de não podermos identificar o nosso leitor, o que parece um horror para o mercado. Mas defenderei como virtude, M&M-Para quem tentavender a revista, isso talvez seja um desafio Salles - É um desafio, claro. Mas determinados anun ciantes já perceberam que é legal estar em uma revista lida por pessoas que em algum momento terão um determinado poder. Qual é o grande gargalo do Brasil neste momento? É o capital humano. Para quase todos os anunciantes estar próximo desse leitor agrega valor. Já contamos com o apoio e o entusiasmo dos criativos e do pessoal de marketing. O pessoal de mídia gosta também, mas precisa de argumentos. E os argumentos são esses e só puderam vir depois de um ano e meio, depois que a gente conseguiu se estabelecer e iden- tificar nosso leitor. A Piauí veio ao contrário, foi feita por pessoas que queriam ler a revista. Não fomos ao mercado para fazer uma pesquisa e saber se o leitor queria ou não a Piauí M&M - Vocês pretendem fazer algum trabalho de pes- quisa para atender essa necessidade dos mídias? Salles-Minha resistência à pesquisa foi ligada à perso- nalidade editorial da revista. O risco é descobrir o que o leitor quer ler e acabar fazendo uma revista moldada ao gosto dele, e que não o surpreende, uma revista utilitária. O legal é ele receber uma revista que não sabia que queria ler. Parte do sucesso se deve ao fato de que conseguimos surpreender o leitor. Mas agora faremos uma pesquisa qualitativa para ajudar o esforço do marketing a entender mais sobre nosso leitor. meio &mensagem 21 DE JULHO DE 2008 presas com iniciativas ligadas a responsabilidade social Aracruz, Vale, todas essas em algum momento anunciaram com a gente. Itaú está desde o inicio, Real, PricewaterhouseCoopers. Nao quisemos misturar o Unibanco (a familia Moreira Salles é controlado ra da instituição). Foi uma coisa pensada para que ninguém ache que essa revista é um exercício amador. Para mostrar que ela existe como negócio. M&M - Como assim? Salles - Não é uma revista que se possa definir por faixa etária. Há uma ligeira concentração de leitores entre 25 e 35 anos, mas a distribuição é muito regular entre leitores de todas as faixas etárias. E tem uma distribuição muito regular entre as classes Ce A. Não é uma revista que se define por faixa de renda, nem por gênero ou estado civil. O denominador comum está na escolaridade: temos uma concentração maior de leitores com grau superior completo. O leitor de Piauí pode ter 20 anos ou 60, mas é alguém curioso, com vontade de se informar, com capacidade de processar a informação que recebe. Qualquer pessoa que tenha campanha de responsabilidade social, de sustentabilidade, de prestigio intelectual, vai querer estar próximo da Piauí. Eo trabalho do departamento "O risco das pesquisas é comercial é mostrar para o mercado que, ainda que a revista não se defina pelos padrões normais faixa descobrir o que o leitor quer ler etária, renda, etc. —, há algo que une os leitores : é uma revista de ascensão social. A classe C que le a Piauí é alguém que daqui a cinco anos estará na classe Be daqui a dez, na A. e fazer algo moldado ao gosto dele, e que não o surpreende, uma revista utilitária. O legal é ele receber uma revista que não sabia que queria ler" M&M-Que tipo de anunciante é fiel ao título? Salles - Em primeiro lugar, mercado editorial (livros), Nos praticamente abrimos esse mercado. As editoras sempre anunciaram, mas em revistas mensais, nunca Do ponto de vista do grande anunciante, são as em- M&M - Das reportagens que vocês produziram, quais tiveram mais repercussão? Salles - Muitas. Fizemos matérias que repercutiram muito em determinados segmentos. Por exemplo, os perfis do Daniel Dantas, do Luiz César Fernandes -que criou o Banco Pactual -- repercutiram muito no mercado financeiro. Uma matéria sobre moda identificamos uma certa tendencia de a moda bra- sileira ser uma cópia do que acontece lá fora - saiu no mes da São Paulo Fashion Week e só se falou nela: foi copiada e distribuída; algumas pessoas se sentiram ofendidas, outras apoiaram. Os perfis do Fernando Henrique (Cardoso) e do José Dirceu, por serem fi- guras públicas, tiveram repercussão social maior. No último número tem uma matéria muito boa sobre as relações da família Kirchner e a imprensa, que são as piores possíveis. Temos conseguido alguna excelência em áreas muito diferentes da vida nacional. É assim que funciona a Piauí, uma revista cuja fórmula é não ter fórmula M&M - A Video Filmes já chegou a trabalhar com propa- ganda. Não vai mais atuar nessa área? Salles - Já trabalhamos, mas nunca mais fizemos pro- paganda. Fomos por cinco ou seis anos a maior produ- tora do Rio e uma das duas ou três maiores do Brasil. com a volta das leis de incentivo, houve uma decisão de acabar com a atuação na publicidade porque essa atividade é muito densa, onde roda muito dinheiro e o prazo é sempre muito curto. Se não tivéssemos feito isso, tenho quase certeza que não teriamos pro- duzido O Primeiro Dia, Central do Brasil, Noticias de uma Guerra Particular, Entre Atos, Linha de Passe, Cidade Baixa, Madame Sata, O Céu de Sueli, Lavoura Arcaica... Nada disso teria sido produzido porque estaríamos concentrados na atividade publicitária. Então acabou sendo uma boa decisão. ENTREVISTA M&M - Cannes Lions está dando atenção para ações que envolvem mais entretenimento. Por outro lado, a propaganda está se abrindo para novos formatos. Isso não o seduz? Salles - Quem sabe? Quando falo em não voltar à publicidade, estou falando do formato tradicional, o filme de 30 segundos, que é aprovado em uma se gunda-feira e você tem de entregar dez dias depois. Esse ciclo é rápido demais para uma produtora que se sente à vontade com o ciclo mais lento do cinema. É possível ver as duas coisas convivendo juntas, como na 02 e na Conspiração, mas elas são estruturas muito grandes, e nós não queremos ser maiores do que somos. Imagino que esses novos formatos são de ciclo mais longo de produção. Se eles se firmassem, nós estaríamos abertos a eles. M&M-Oministro Gilberto Gildefende mudançasnaleide incentivos à cultura para descentralizar os investimentos Qual sua avaliação sobre isso? Salles - Acho importante descentralizar. Mas tenho a impressão de que essa descentralização de certa ma- neira já ocorreu. Existe um movimento de cinema em Pernambuco, outro no Ceará. Essa questão da geogra- fia é ultrapassada, e esse desejo de afirmar as culturas regionais é algo que deve ser pensado. A própria idéia de regionalização é uma idéia em crise. Ainda assim, quem não está nos grandes centros deve ter acesso a meios de produção. Não sei se necessariamente para afirmar a sua identidade regional. Há urna questão maior que merece ser discutida. Do meu ponto de vista, o Estado precisa ter presença na produção de cultura, mas acho legitimo que pessoas digam que não querem que seu dinheiro afinal de contas, renúncia fiscal —vá para a produção de um filme, que elas prefiram que isso vá para segurança ou educação. Essa discussão é legitima, tem ótimos argumentos dos dois lados. Um argumento forte em defesa do cinema é que talvez nos últimos anos nenhuma forma de mani- festação tenha impactado tanto a discussão pública no Brasil quanto o cinema de Central do Brasil a Cidade de Deus ou Tropa de Elite, eles pautaram a discussão Qual o grande problema do Pais hoje? A violência. O cinema estabeleceu parámetros para o debate. Ele cumpre uma função. Não que tenha de cumprir, mas, de toda maneira, foi além disso,
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