leiro. "É dificil mensurar o alcance que
as campanhas e os shows obtiveram, mas
me parece que quando a mídia absor-
ve ou aposta num movimento é porque
ele já deu certo, já pegou, é vendável.”
De forma intuitiva, Maria Cláudia
acredita que a associação da Tropicalia
com a moda ajudou a reforçar o seu ca-
ráter de vanguarda. "Até porque acredito
que seja possível transpor para o traba-
lho de criação publicitária as colocações
que Gilda de Mello e Souza faz sobre o
criador de modas, de alguém que terá de
alertar sua sensibilidade para o momen-
to social e pressentir os esgotamentos es-
téticos em via de se processar. São im-
pressões, mais do que afirmações."
Outro aspecto que ela considera im-
portante destacar é que a publicidade da
Rhodia, ao se utilizar da Tropicalia, não
se apropriou das roupas usadas pelos
seus principais expositores, como as ves-
tes amalucadas dos Mutantes ou o es-
tilo hippie debochado adotado por Cae-
tano e Gil. "O que aparece nesses edi-
toriais e desfiles são roupas em conso-
nância com a moda internacional e
apresentando suas principais tendên-
cias de moda vigentes no período, como
terninhos de corte reto, na melhor linha
Courrèges, e vestidos sensuais que re-
visitam os anos 1930, entre outros."
Popular - Sem a presença da mídia, te-
ria o Tropicalismo vingado? Bezerra Fi-
lho afirma que, como a imprensa acom-
panhava melhor os fatos e as manifesta-
ções musicais, com ampla cobertura dos
festivais de música popular da TV, o in-
teresse pelo movimento foi quase natu-
ral, pela própria necessidade de novida-
des que move o sistema midiático como
um todo. A relevância histórica, no en-
tanto, acrescenta ele, foi alcançada mui-
to mais pela própria força inovadora do
que por alguma estratégia deliberada
da mídia. "Os debates culturais à épo-
ca eram mais acirrados e os tropicalis-
tas entraram na discussão, sobre músi-
ca popular e cultura brasileira, com ní-
veis de reflexão diferenciados, desper-
tando interesse nos setores envolvidos
com a cultura musical brasileira."
Sanches observa que a mídia teve
um papel importante na Tropicalia em
dois momentos distintos. Inicialmente,
dividiu opiniões e chegou a ser com-
batido pelos puristas, enquanto uma ala
da imprensa viu na proposta um acon-
tecimento de modernidade e vanguar-
da. A partir da década de 1980, no en-
tanto , tornou-se hegemônica, quase
uma unanimidade , graças a um discur-
so forte, mas com antecedentes que não
podem ser negados, como a bossa nova,
que inovou ao misturar samba e jazz.
A tendência de Caetano em polemizar
com a imprensa, de certo modo, fortifi-
ca esse preceito. "O Tropicalismo vive
ainda da polêmica, do campo de bata-
lha, mas que, no fundo, tem admiração
mútua das duas partes."
A relevância histórica do Tropicalis-
mo está associada principalmente à pro-
dução artística desse pessoal," que era ex-
tremamente inteligente e criativo, e tam-
bém à postura que tiveram diante das
tendências políticas e comportamentais
da época". Não significa que os artistas
eram ingênuos em relação à vanguarda.
"Ao contrário, mas não havia um pro-
grama de vanguarda a ser seguido." .
O rei da vela,
direção de José
Celso Martinez
Corrêa, 1967
PESQUISA FAPESP 140. OUTUBRO DE 2007. 93
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