baseando em um texto muito bonito de
Joseph Campbell, que é um dos maiores
mitólogos do mundo. Ele diz que nós
temos que fazer acerto de contas conosco
mesmo. Às vezes, a gente é chamada
interiormente para dar uma resposta.
ISTOÉ - Como a sra. vê a pesquisa
que a coloca na frente da ministra
Dilma Rousseff?
Marina - Não vou prender a minha deci-
são a pesquisas. Não vou me surpreender
se outro jornal amanhã disser que estou
com apenas um tracinho nas pesquisas.
ISTOÉ - É possível um candidato de
partido pequeno chegar a presidente sem
"O afastamento seria o melhor para
a sociedade, para o Congresso e
para o próprio presidente Sarney"
composição, repetindo o Obama nos
Estados Unidos, numa terceira via?
Marina - Temos que dar a palavra ao
eleitor. É nisso que acredito. Temos uma
cultura patrimonialista muito arraigada.
Alguém diz: "Você tira voto de fulano'
O voto não é do Serra, nem da Dilma,
nem do Lula, nem de ninguém. O voto
é do eleitor. O voto é a única coisa que
você nunca tem. No momento que você o
recebe, já é passado e o eleitor já está
livre para votar em quem ele quiser. As
pessoas já estão cansadas que se façam
as coisas para elas. É melhor se dispor a
fazer com elas, com os jovens, os empre-
sários, as mulheres, os idosos e os forma-
dores de opinião. Foi essa questão que o
Obama colocou na cultura americana,
que era muito polarizada. O Obama foi
capaz de transitar entre as duas coisas
para estabelecer uma ponte. A humani-
dade precisa cada vez mais de pontes.
ISTOÉ - Como a sra, recebeu as declara-
ções do ex-ministro
José Dirceu, dizendo
que o mandato da sra, pertence ao PT?
Marina - Acho que o ex-deputado José
Dirceu não falaria isso em tom de amea-
ça. Ele é uma pessoa que trabalhou
o tempo todo na organização partidária,
muito zeloso pelo estatuto, por essas
coisas. Ele olha para a legislação. Nunca
me senti intimidada por outras ameaças
muito perigosas, imagina por uma
pessoa como o Zé Dirceu. Isso não
é algo que me faria mudar de ideia.
ISTOÉ - Como a sra, acompanha a crise
no Senado?
Marina - Com muita
preocupação. O Con-
gresso é a represen-
tação da sociedade,
aqui se estabelece o
debate, se realizam
os acordos sociais
mediados, que deve-
riam ser por meio de um debate conse-
quente. Lamentavelmente isso está inter-
ditado por essa crise. Acho que não deve-
mos encará-la com um discurso udenista
simplesmente, que não vai nos tirar do
buraco. São as investigações que têm de
ser feitas pela Polícia Federal, pelo Minis-
tério Público, com a anulação de atos. É
preciso fazer isso com equidistância para
que a sociedade creia que de fato esteja
sendo feito, porque já há um descrédito
a priori. Foi por isso que apresentamos a
ideia à bancada que deveria ser um afas-
tamento temporário do senador José
"O voto não é do Serra, nem da
Dilma, nem do Lula, nem de
ninguém. O voto é do eleitor”
Sarney. Seria o melhor para a sociedade,
para o Congresso e para o próprio presi-
dente Sarney
ISTOÉ - Qual é a frase da "Biblia"
que mais inspira a vida da sra.?
Marina - É uma frase do apóstolo Paulo:
'Examinai tudo e retende o bem'. Com
essa frase, ele diz que não se deve ter
preconceito contra ninguém, nenhuma
ciência e filosofia. E você não pode impor
sua vontade aos outros.
ISTOÉ - O presidente Lula fez um comen-
tário elogioso a sua possível candidatura.
Como está o relacionamento com ele?
Marina - Não mudou. Digo que tenho
tido bons mantenedores de utopia. Quan-
do eu era uma jovem, talvez mais sonha-
dora do que hoje, a gente tinha bons
mantenedores de utopia, tínha Chico
Mendes, Darci Ribeiro, Celso Furtado,
Leonardo Boff,
Luiz Inácio Lula da Silva,
Fernando Henrique Cardoso. Mas, aos
51 anos, ainda sou uma sonhadora.
E quero ser mantenedora de utopia.
ISTOÉ - A sra, ainda inclui o presidente
Lula como mantenedor de utopia?
Marina - Ele é um realizador de utopias.
Fazer a política social que ele está fazen-
do é a realização de uma utopia.
ISTOÉ - Asra. se aconselhou
com Leonardo Boff. Ele deu alguma su-
gestão sobre a candidatura?
Marina - Ele disse que eu escutasse
o meu coração.
ISTOÉ - E o que
diz seu coração?
Marina - Meu
coração está
me sussurrando.
“Às vezes, a gente é
chamada interiormente para
dar uma resposta"