Dama
dos palcos
Beatriz Segall entrou para a história
da televisão quando interpretou a vilã
Odette Roitman, na novela Vale Tudo. Mas,
ao longo dos 57 anos de carreira, a atriz
fez vários trabalhos marcantes no teatro,
como mostra a sua recente biografia
ntitulado Além das Aparências, o livro faz parte da
coleção Aplauso, da Imprensa Oficial do Estado de
São Paulo, que tem documentado a história dos
principais artistas brasileiros. Para falar da obra
escrita pela jornalista Nilu Lebert. Beatriz Segall
recebeu a equipe da AT Revista em seu apartamen-
to na Capital. Durante o bate-papo, a carioca de 81
anos esbanjou simpatia e contou passagens curiosas de
sua vida, a exemplo de como os parentes resistiram à
decisão de ser atriz, de como suas peças foram censura-
das pelo regime militar e do contato com o sogro o pin-
tor Lasar Segall. "Você não entrava facilmente no ateliê
dele, apenas quando era convidado”, disse. Também
demonstrou opinião forte - polêmica às vezes - quando
se trata de política e cultura, além de revelar o desejo de
trabalhar até o último momento. E, apesar de hesitar
um pouco, comentou o impacto da inesquecível Odette
Roitman em sua carreira e na teledramaturgia.
biografia como surgiu o nome do livro, Além das Apa-
rências, da coleção Aplauso?
Foi uma surpresa. Eu tenho tanta dificuldade para falar
de mim e considero minha vida tão desinteressante, que
não tenho vontade de comentá-la. Não foi fácil para a
Nilu Lebert arrancar o que queria saber, então acredito
que foi daí que veio o nome do livro. E outras pessoas já
haviam me procurado para fazer uma biografia, mas
sempre disse não. Mudei de idéia porque a coleção
Aplauso, da Imprensa Oficial, que há alguns anos docu-
menta a carreira dos atores, é importante para nós, bra-
sileiros, que não ligamos muito para o nosso passado.
Esse é um problema grave. A memória do povo é que
faz sua identidade. Não podia negar esse projeto, por
causa de sua finalidade.
É verdade que achava que não tinha o dom para ser atriz? On99
Não é bem isso. No início da minha carreira, lá por volta
dos meus 20 anos, gostava bastante das estréias das
peças, só que, após 15 dias em cartaz, acreditava que já
podia parar. Aí, fui estudar fora e parei de trabalhar.
Quando retornei, 14 anos depois, no fim da década de
50, a sensação era de um começo total, pois não sabia
mais nada e precisei reaprender tudo. Voltei com outro
espírito: já era casada, mãe de família, tinha responsabi-
lidades. O teatro passou a ser algo mais sério. Quero di-
zer que antes, tinha muito prazer em fazê-lo, no entan-
to ainda não havia descoberto a vocação necessária pa-
ra seguir a profissão.
Quando percebeu que queria trabalhar no meio artístico?
Não sei ao certo. Acho que tinha essa vontade desde
criança. Meu pai fazia festas de fim de ano nas quais
havia sempre uma peça. E, para esses espetáculos, ele
contratava um ensaiador
, já que naquele tempo não exis-
tia diretor. Eu acompanhava o processo inteiro, só que
nunca imaginei que seria atriz, apesar de ficar fascinada
com tudo isso. Fiz faculdade de Letras, comecei a lecionar
e também trabalhar. De repente, encontrei um curso no
Rio de Janeiro que me interessou e que realmente era
muito bom: do Serviço Nacional de Teatro, que pertencia
ao Ministério da Educação. Frequentei vários cursos,
inclusive na Europa. No entanto, esse foi o melhor.
ET 2011 OHHAM END
AT REVISTA 69/MAR/2008
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