CONEXÃO
JAMAICA
Um dos maiores
sucessos de
Gilberto Gil
é “Não Chore
Mais”, versão
do sucesso
de Bob Marley
(ao fundo)
tes faz jus às músicas: Gal Costa, João
Bosco e Erasmo Carlos, entre outros.
Rennó defende as traduções que
respeitam não apenas o sentido, mas
até a métrica e as aliterações do origi-
nal. "Dá um trabalho do cão. Às vezes,
passo a madrugada inteira para escrever
um versinho." A
letra de "Encan-
tada" ("Bewi-
tched, Bothered
and Bewildered",
de Rodgers/
Hart), gravada
no disco por
Maria Rita, re
produz mesmo
as rimas atípicas,
ERASMO CARLOS
("Summertime", de George e Ira Gershwin -
versão de Carlos Rennó)
Summertime and the livin' is easy
Fish are jumpin' and the cotton is high
Tempo de verão e viver é fácil
Peixes saltam e o algodão está alto
É verão e a vida tá boa
Quanto peixe e que lindo o algodão
FOTOS: DIVULGAÇÃO
que acontecem num termo anterior
ao do final do verso. "Se for para fazer
letra diferente do original, chamo um
parceiro e faço outra canção", diz ele.
Existem os que optam por essa receita
e, ainda assim, conseguem bons re-
sultados. Caso de Nelson Motta, que
se afastou bastante da canção napoli-
tana “E Po Che Fa" (de Pino Daniele)
em “Bem Que se Quis”, sucesso de
Marisa Monte: "Há momentos em
que a gente tem sorte e as palavras em
português cabem perfeitamente, pare-
cendo que sempre estiveram ali."
As traições ficam evidentes quan-
do os versionistas "viajam" no som
das palavras e se distanciam total-
mente do sentido da canção matriz.
Seu Jorge, por exemplo, fez isso no
disco originado de clássicos de David
Bowie. O refrão de "Rebel, Rebel",
(“rebelde, rebelde, como eles pode-
riam saber") virou uma coisa maluca
e sem sentido: "zero a zero, você
venceu". Muitas vezes as editoras dos
músicos estrangeiros fazem vista
grossa para essas liberdades. Mas não
é a regra. Há oito anos, quando pre-
parava o CD com repertório dos
Beatles, Rita Lee teve seis letras recu-
sadas, entre elas "O Amor é Tão
Cliche" ("I Want to Hold Your Han-
ds”). Só agora,
no CD "Mul-
tishow ao Vivo",
conseguiu gravar
"O Bode e a
Cabra", recria-
ção absurda da
mesma canção
dos Beatles, dos
MARINA LIMA
(Beautiful Red Dress, de Laurie Anderson
- letra de Alvin L)
Well, just the other day I won the
lottery
I mean lots of money
Bem, dias atrás eu ganhei na loteria
Era muito dinheiro
Sabe, outro dia mesmo ganhei na
loteria
Tipo assim, muilita grana
tempos da jovem guarda. O caminho
oposto (ser muito literal) facilita na
hora da negociação, mas pode cair na
armadilha da fidelidade exagerada,
especialmente em versões feitas
do inglês, língua mais sintética que
o portugués. Isso acontece em algu-
mas faixas do CD "Tá Tudo Muda-
do", que Zé Ramalho dedicou à obra
de Bob Dylan. Mas, mesmo quando
incorporou elementos alheios ao
universo do americano, como refe-
rências ao filme "Tropa de Elite" e ao
músico Jackson do Pandeiro, ele não
teve recusas. Só não conseguiu um
bom contrato: 100% dos direitos
autorais vão para Dylan. "Eu fiquei
apenas com os royalties fonográficos
(as vendas do CD)", diz Ramalho.
“Era pegar ou largar." Zélia Duncan
também não ganha nada pelas ótimas
versões. "Acho um absurdo que não
haja um acordo. O versionista é um
parceiro do autor da música.
ZÉ RAMALHO
(Tombstone Blues, de Bob Dylan)
Mama is in the fact'ry
She ain't got no shoes
Mamãe está na fábrica
Ela não tem sapatos
A mãe tá na cozinha
Fazendo arroz com feijão
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