Agente não quer só comida
Número de empresas que investem em cultura sextuplicou desde 1994
ROBERTA RISTORI
O Bradesco prepara para
breve o lançamento do Prime
Arts, guarda-chuva sob o qual
serão reunidas todas as suas
ações culturais. Depois do Ban-
co do Planeta, em 2007, criadowe
para abraçar as ações de res-
ponsabilidade socioambiental,
esta é a nova aposta da institui-
ção financeira a fim de chamar
a atenção do público para sua
atuação no campo social.
TUCARENA
A iniciativa do banco de
monstra que, nos últimos anos,
o patrocínio cultural vem se
consolidando como uma das
mais eficazes ferramentas de
marketing. Em tempos em
que o termo "responsabilidade
social" assume ar de funda-
mental importância, a ferramenta
apresenta-se como uma das mais
adequadas para angariar simpatia
e destacar a empresa em meio à
concorrência
Estimativa da revista especia-
lizada Marketing Cultural Online
aponta que a estratégia permite
um grande retorno de mídia
espontânea. Medido em valores
financeiros, com base na tabela
de publicidade dos veículos de
comunicação, ele pode superar
em até dez vezes o investimento
em patrocinio
De acordo com a publicação, a
partir de 1994 o número de com-
panhias que investem em cultura
sextuplicou. As empresas de capi-
tal público (estatais e de economia
mista) ainda lideram o ranking
das maiores patrocinadoras de
2007 elaborado pela revista - a
Petrobras ocupa o topo da lista,
com investimento de R$ 123,6 mi.
Fonte: empresas
Peça teatral patrocinada pelo
Santander: vinculo com os brasileiros
lhões no ano passado. Os dados são
parciais, com base em informações
obtidas até novembro.
AÇÕES DIRETAS
No caso do Bradesco, o nome
Prime Arts já está sendo veicu-
lado com alguns fornecedores.
"O objetivo é criar formatos de
relacionamento com o cliente
Prime para os eventos que patro-
cinamos e, principalmente, viabi-
lizar projetos de inserção social
à cultura", explica Luca Caval-
canti, diretor de marketing do
banco. Pelas suas contas, apenas
em 2007 o Bradesco patrocinou
aproximadamente 400 eventos,
totalizando um investimento de
mais de R$ 60 milhões.
O Santander, de origem es-
panhola, vê nas ações culturais
uma excelente oportunidade de
estabelecer um vinculo com a
população brasileira. “Esperamos
que o banco seja reconhecido
como um grande apoiador da
cultura no País. Aplicamos
cerca de R$ 9 milhões anu-
almente", conta Silvia Balbo
Messias, gerente de relações
institucionais do banco.
Já o HSBC, embora invista
em música, prioriza a clássica,
por meio de corais e orquestras
---como o Coral Infantil HSBC,
em Curitiba, famoso por suas
apresentações natalinas. Ações
de naming right também es-
tão se tornando mais frequen-
tes na companhia, que, recen-
"temente, rebatizou a Rio Arena
(RJ) e o Tom Brasil (SP) como
HSBC Arena e HSBC Brasil,
respectivamente. A iniciativa
faz parte da estratégia de forta-
lecer e ampliar a familiaridade da
marca através de ações culturais
em praças estratégicas.
Glen Valente, diretor de mar
keting do HSBC, afirma que o
investimento do banco em patro-
cinios culturais vem crescendo
ano a ano. "Em 2007 o valor
atingiu cerca de R$ 10 milhões,
aproximadamente 5% da verba
de marketing, Esse tipo de ação
aumenta a familiaridade e a sim-
patia pela marca", avalia.
MÚSICA
Por ser uma empresa de
capital aberto, a Vivo não revela
os valores investidos em mar
keting cultural, mas afirma que
sua agenda de apoio às artes é
revisitada e ampliada todo ano.
"Em 2007 aumentamos em cerca
de 50% o volume de recursos in-
vestidos no segmento de artes e
Cultura em cartaz
Patrocínios em 2007
Exposições: Leonardo da Vinci (SP), Corpo Humano - Reale
Fascinante (SP) e Darwin (SP); Festas e festivais regionais: São
João de Campina Grande (PB), Festival de Inverno de Campos do
Jordão (SP) e Festival de Parintins (AM)
Música: Coral Infantil do HSBC (PR) e Orquestra HSBC; Teatro:
programação do teatro HSBC, em Curitiba (PR): Naming Right:
Cine HSBC Belas Artes (SP)
espetáculos com relação a 2006",
a ,
garante o diretor de comunicação
e relações institucionais da com-
panhia, Marcelo Alonso.
Enquanto a Vivo, tradicional-
mente, apóia a dança e grandes
festivais de filmes, a Natura acre-
dita na música para expressar
os valores da marca. Para tanto,
a empresa lançou há cerca de
três anos o guarda-chuva Natura
Musical, que atua em duas frentes
por meio de editais públicos
para seleção de projetos e de
patrocinios diretos, como o apoio
a turnês. A primeira utiliza recur-
sos públicos, enquanto a segunda
lança mão de verba própria.
Editais regionais (MG e SP) e nacional do Natura Musical e turné
de Marisa Monte
Cinema: O Passado: Musical: Os Produtores (SP)
Música: Telefónica Open Jazz (Diana Krall), Telefónica Trio
Tons, Bachiana Chamber Orchestra, Telefónica Sesi Musica;
Exposições: Os Cinéticos e Almeida Júnior - Um Criador de
Imaginarios
Cinema: Festival de Cinema de Gramado e O Passado; Dança:
Vivo Mikhail Baryshnikov (sper) Musica: Show do the police Re Exposição: Nativismo Revisitado (SP); Espetáculo: Alegria
(Cirque du Soleil)
Bourbon Street Fast (SP e RJ), Exposições: Poética da Percep-
ção (SP) e Terra, Vida e Natureza (SP)
Outra empresa no segmento
de cosméticos a trilhar o cami-
nho de incentivo à música é a
Biodolce. Recém-chegada ao
mercado, decidiu apostar no
Projeto Quartas Musicais para se
aproximar do público feminino.
Com investimento em torno de
R$ 300 mil, a marca patrocinará,
até o final do ano, dez shows men-
sais de jovens cantoras da MPB.
Outras propostas de patrocinio
estão sendo estudadas e devem
se concretizar ainda em 2008,
A Telefonica intensificou seus
investimentos em marketing
cultural a partir do ano passado,
de acordo com a diretora de mar
keting, Lylian Brandão. "Atuamos
em duas frentes: música/entrete
nimento e arte/cultura. Dessa for-
ma, procuramos agregar imagem
de inovação à marca Telefônica
e transmitir o valor de acesso à
cultura, já que o nosso negócio
tem relação direta com o acesso
à tecnologia", ressalta,
Patrocinios em 2008
Espetáculos: Aída (SP). West Side Story (SP) e Alegria (Cirque
du Soleil): Carnaval: Galo da Madrugada (Recife), Camarote An-
dante de Carlinhos Brown (BA), Cidade do Samba (RJ) e Festival
de Verão de Salvador (BA)
Música: além de dar seqüência aos projetos musicais, turné
brasileira do Seal (SP, RJ, PR,RS) e concerto de José Carreras
(PR)Naming Right: HSBC Arena (RJ) e HSBC Brasil (SP)
Editais regionais (MG e SP) e nacional do Natura Musical, docu-
mentário sobre a Velha Guarda da Portela e turné de Lenine
Cinema: 2 Jornada do Cinema Silencioso (SP), Feliz Natale
Plastic City, Teatro: Virgolino e Maria - Auto de Angicos, Toc Toc
e Dace Deleite; Exposições: Cristina Iglesias, Mulheres e home-
nagem aos 100 anos da imigração japonesa (SP)
Dará sequência aos mesmos projetos musicais e também
haverá exposições, ainda em fase de planejamento
Governo faz
mudancas
na Lei
Rouanet
Uma das mais conhe-
cidas leis de incentivo à
cultura, a Lei Rouanet,
criada em 1991 para que
pessoas físicas e jurídicas
destinassem parte de seu
Imposto de Renda à reali-
zação de projetos culturais,
deverá passar por modi-
ficações ainda neste ano.
As mudanças, anunciadas
pelo governo em outubro
de 2007, têm por objetivo
fazer com que os projetos
financiados pelo poder pú-
blico sejam apresentados
gratuitamente à população
de baixa renda
O ministro da Cultura,
Gilberto Gil, apontou re-
centemente outro proble-
ma com o dispositivo legal,
Para ele, grande parte dos
investimentos acaba por
se concentrar em espetá-
culos e ações de grande
visibilidade, sobretudo na
região Sudeste, enquanto
as demais permanecem
carentes
Luca Cavalcanti com
partilha a opinião e afirma
que uma das preocupações
do Bradesco é a valorização
da cultura regional. Como
exemplo, cita os patrocí-
nios à Festa do Curu, no
Ceará, e ao Círio de Nazaré,
no Pará. "Não patrocina-
mos apenas eventos de
elite. Quando isso acontece
nós os levamos ao povo,
como no caso de West Side
Story, que deve beneficiar
20 mil adolescentes que
assistirão gratuitamente ao
espetáculo", ressalta.
A Natura também vem
tomando providências, des
de 2006, para que os editais
do Natura Musical atinjam
todas as regiões do País, por
meio de uma estratégia com
os meios de comunicação
locais. Segundo Renata, a
iniciativa apresentou bons
resultados e a companhia
passou a receber projetos
de todos os cantos.
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