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Patricia Stavis/Folha Imagem
A cantora baiana Daniela Mercury em São Paulo, onde recebeu o título de cidadã paulistana
CLIENTE: Gilberto Gil
VEÍCULO: Folha de S. Paulo - SP
SEÇÃO: Ilustrada
DATA: 11/12/2009
Daniela Mercury quer reeditar
Semana de 22 em novo disco
"Canibália" tem também o movimento tropicalista entre suas referências
de Salvador. Enquanto suas co-
legas de avenida mantêm a fór-
mula segura do trio de axé, Da-
niela arrisca misturas ousadas,
como um trio eletrônico, com
DJ, e outro de música clássica,
com pianista tocando Beetho-
ven, de fraque, em meio à folia.
"Eu não gerei ninguém. Só fiz
abrir a picada", diz. "Mas abri-
ram para mim, também. Caeta-
no, Gal. A gente vai ampliando
esse portão. Aconteceu só de eu
ser a catalisadora daquela mú-
sica. São sincronicidades."
Contraditoriamente, é na
mesma cidade em que aconte-
ceram a Semana de 22 e a Tro-
picália -movimentações artis-
ticas a que o novo trabalho de
Daniela se refere-que a canto-
ra diz ser pior interpretada.
Se deu certo? "O presidente
de uma companhia de discos)
me disse uma frase: 'Dan, você
erra, mas erra para o futuro.
Então não tem problema", diz.
"Meu universo de interesses é
muito maior do que simples-
mente celebrar a alegria."
Em 2010, o samba-reggae faz
25 anos. Daniela Mercury, res-
ponsável por difundir o gênero
em larga escala pelo país, gosta
de compará-lo ao blues.
"Até hoje sinto os jornalistas
de São Paulo um pouco descon-
fiados de mim", afirma. "As
pessoas daqui olham para a
gente [da Bahia) como se fosse-
mos estrangeiros. Ainda há
muita incompreensão do que
são as distintas culturas. Vocês
não podem ter afeto por algu-
mas coisas, não podem enten-
der por que uma pessoa dança
daquele jeito em Salvador."
"Dentro do nosso contexto
de povo mais festivo, a 'África'
daqui encontrou outras formas
de fazer seu lamento", diz.
único canal que o cara tem para
dizer 'olhe pra mim, eu sou ar-
retado' é a música. Só na músi-
ca e na cozinha nego é rei."
Na última segunda-feira Da-
niela recebeu, das mãos da ve-
readora Mara Gabrilli, o título
de cidadã paulistana.
Ivete Sangalo, Claudia Leitte.
Daniela já cansou de ouvir per-
guntas sobre o que pensa de
suas duas, digamos, "sucesso
ras" no reinado do axé. Sempre
escapa pela tangente.
MARCUS PRETO
DA REPORTAGEM LOCAL
PÁG.: E6
Assim que o gravador que re-
gistraria as perguntas e respos-
tas para esta reportagem foi li-
gado, outro, muito mais moder-
no, foi logo posto ao lado dele. A
dona era a própria entrevista-
da, a cantora Daniela Mercury.
Antes de dar o "play", avisou:
"Gravo minhas entrevistas to-
das. Adoro guardar e ficar com
o sentido do que eu quero".
Neste momento, o sentido do
que ela quer está guardado em
"Canibália", décimo álbum de
estúdio. A clara referência à
Tropicalia de Caetano Veloso e
Gilberto Gil é assumida pela ar-
tista, mas, segundo afirma a au-
tora, não está sozinha.
"Minha ideia é reiterar e am-
pliar também o conceito da Se-
mana de Arte Moderna", diz.
"Afirmar que é preciso quebrar
barreiras. Que é permitido a to-
dos fazer qualquer tipo de fusão
e não é necessário seguir tradi-
ções nem olhar para o outro
com idolatria. Estou acrescen-
tando meu olhar a isso tudo."
A ideia soa ambiciosa. Na
mesma medida das que a can-
tora tem levado aos carnavais
CANIBALIA
Artista: Daniela Mercury
Gravadora: Sony Music
Quanto: R$ 20, em média