tendo apenas dele se ausentado
em alguns períodos de sua vida
ou em ocasiões especiais, quando
acompanhava os filhos em via-
gens e shows
E foi no velho casarão da fami-
lia, na cidade de Santo Amaro, no
Recôncavo Baiano, que a equipe
da BOA VONTADE se encontrou
com dona Canô para esta entre-
vista. Prestes a completar 100
anos, ela fez uma retrospectiva
da família e de acontecimentos
que marcaram a biografia de
dois ícones baianos, o cantor e
compositor Caetano Veloso e a
intérprete Maria Bethânia.
Segundo ela, a cidade sempre
foi um lugar especial, tranquilo
e acolhedor. "Nasci, me criei,
meu marido é daqui, a família
dele e a minha também". Da in-
fância, as lembranças, dos 7 aos
15 anos, são as mais caras: "Na
Usina Passagem, que promovia
festas, baile pastoril, um retrato
de dramas e comédias com moci-
nhas, rapazes. E desde os 7 anos
a freqüentei. A minha infância foi
uma maravilha, brincávamos, o
pessoal era muito unido, foi uma
vida muito boa até 15 anos".
Desse período realça a qua-
lidade, na época, do ensino fun-
damental, em que, por exemplo,
dona Cano teve a oportunidade
de aprender francês e a tocar
piano. "Eram professores bons.
Havia duas escolas para rapa-
zes, uma do Padre Monsenhor
Soares, onde o Zeca (seu esposo)
estudou, com padres portugueses.
E dois colégios para moças: a
Sacramentinas e de dona Cora
Araújo. Eram escolas que prepa-
ravam pra fazer qualquer exame,
Foto em família. Em sentido horário, os filhos Nicinha, Irene, Rodrigo, Mabel, Roberto,
Caetano, Bethânia, Dona Cano e Clara.
hoje estariam bem apreciados
para ir à faculdade".
Em 7 de janeiro de 1931,
casa-se com José Telles Velloso,
o grande amor da vida dela, que
conheceu graças a amigo em co-
mum. "Ele era um bom marido,
uma pessoa maravilhosa, tomava
conta da família toda dele, da
irmã, mãe, cunhados, parentes,
sobrinhos. Foram 53 anos (jun-
tos) muito bem-vividos".
Logo vieram os filhos, a pri-
meira foi Eunice (ou Nicinha
para a família), uma menina de 3
anos, que adotaram. Depois mais
seis biológicos: Clara Maria,
Maria Isabel (ou Mabel, como
ficou conhecida a escritora da
casa), Rodrigo, Roberto, Cae-
tano e Maria Bethânia. E o Lar
dos Vellosos, rico em amor, ainda
receberia em seu seio a caçula
Irene.
Uma casa alegre e a parceria
entre os irmãos
A mãe diz que, mesmo sendo
em número de oito, não havia
grandes travessuras, mas, sim,
muita alegria: "Eram brinca-
"O meu maior orgulho é
meus filhos serem unidos
a mim ainda hoje, mesmo
com a posição que
ocupam, principalmente
Bethânia e Caetano.
Isso é muito bom! Se eu
gemer, daqui a pouco
chega todo mundo. A
união é a melhor coisa
do mundo."
lhões e amigos, como são até
hoje. Tinham bastantes amigos
na cidade, mas todos dentro da
nossa casa".
Dona Canô conta que Caetano
e Bethânia desde pequenos in-
tuíam o futuro que os esperava.
"Toda hora eles brincavam: 'Vou
ser artista'. E eu dizia: 'Ser ar-
tista não é brinquedo!”. Ao que
lhe retrucavam: “Você vai ver,
você vai ver!".
BOA VONTADE 29