CLIENTE: Gilberto Gil
VEÍCULO: Tododia Americana
SEÇÃO: Caderno Z
DATA:
07/08/2007
Viva a palhoça
"Tropicália" revive o Brasil dos anos 60 em exposição no Rio de Janeiro
Mario Gioia/Folhapress
Rio de Janeiro
Depois de passar por Chica-
go, Londres, Berlim e Nova
York, chega hoje ao Museu de
Arte Moderna do Rio a mostra
"Tropicalia - Uma Revolução
na Cultura Brasileira". Não se
trata apenas de uma exposição
sobre o movimento musical
dos anos 60, que teve Caetano
Veloso e Gilberto Gil em sua li-
nha de frente. Embora o tropi-
calismo, em sentido estrito, se-
ja o mote da mostra, ela abriga
um amplo conjunto da produ-
ção de arte brasileira que ante-
cedeu e envolveu o movimento.
Na realidade, "Tropicalia" é
o nome de uma instalação do
artista carioca
Hélio Oiticica
(1937-1980), exibida na mos-
tra "Nova Objetividade
Brasileira", em 1967, que ser-
viu de título à célebre canção
de Caetano Veloso. Ela poderá
ser revista no MAM, atestando
que muitas das questões que
animaram o movimento musi-
cal já estavam sendo formula-
das nas artes plásticas - da
mesma forma que havia movi-
PÁG.: 05
mentações análogas em outras
áreas. É esse "espírito de
época" que a exposição pre-
tende mostrar, com cerca de
250 obras das quais 20 não fo-
ram exibidas no exterior.
Os trabalhos que se integra-
ram à versão carioca são de
nomes que, ao lado de Oiticica,
formulador do conceito, parti-
ciparam da "Nova
Objetividade” -entre eles, Lygia
Clark, Ivan Serpa, Antonio
Dias e Rubens Gerchman. A
mostra, além de obras de arte,
inclui cartazes de cinema, ca-
pas de discos e livros, roupas,
projetos arquitetônicos e poe-
mas-objeto. "Acho que a tropi-
cália é mais um momento que
um movimento", diz Christo-
pher Dunn, um dos principais
colaboradores do curador ar-
gentino Carlos Basualdo, res-
ponsável pelo projeto.
"Não se pode entender o
movimento musical sem suas
ligações e sua convivência com
as artes plásticas, o teatro e o
cinema", diz Dunn, crítico,
brasilianista e professor da
Universidade Tulane, nos EUA.
Ele assina um texto do volumo-
so catálogo da mostra (Cosac-
naify, R$ 120), que será lança-
do hoje, com ensaios de Celso
Favaretto, Ivana Bentes e Her-
mano Vianna, entre outros,
sob organização de Basualdo.
Embora tenha sido considera-
da por alguns como um lance
de marketing, a mostra, que
recebeu críticas entusiasmadas
Nome veio
de obra
de Oiticica
no exterior, é uma oportunida-
de rara para um mergulho nu-
ma fase da cultura brasileira
que tem merecido renovado
reconhecimento internacional.
Embora o tropicalismo seja
um movimento dos anos 60,
ele se inscreve numa renova-
ção do projeto modernista bra-
sileiro que ganha corpo a par-
tir da década de 50. Na músi-
ca, na pintura, na arquitetura,
no design, o Brasil viveu na-
queles anos um momento de
efervescência e felicidade cria-
tiva. Mostra de 1967 Artistas
que participaram da "Nova
Objetividade", como Carlos Zi-
lio, 62, e Nelson Leirner, 75,
frisam a importância histórica
da mostra de 67.
"De certa forma, as expe-
riências já marcantes da expo-
sição "Opinião 65', que a ante-
cedeu, desaguaram na "Nova
Objetividade'. Não se pode es-
quecer que 'Tropicalia' gerou
uma grande repercussão", diz
Zilio. "Houve uma integração",
diz Leirner, um dos artistas do
Grupo Rex, de São Paulo, em
geral ligado às correntes de
arte pop e aos happenings.
Zilio destaca a vontade de
Oiticica em contar com a pre-
sença de nomes da arte cons-
trutiva, como Waldemar Cor-
deiro (1925-1973) e Ferreira
Gullar na mostra. "Era funda-
mental exibir obras de nomes
dessa geração anterior. A arti-
culação de diversas correntes
refletia a pluralidade que se
desejava na arte", afirma.