ninguém, mas eu guardava coisas dele, os amigos
sempre guardavam. A qualquer hora você tinha
que atender, ele ligava três, quatro horas da manhã.
Uma coisa que posso contar pra você: quando
gravou o disco com Os Cariocas (em 1997), ele
chegou contente, feliz da vida, isso eram quatro
da manhã. Aí acordei, já sabiam lá em casa que
telefone para mim era dele.
ELE DEVIA SABER QUE VOCÊ TAMBÉM ESTARIA
ACORDADO...
[R:.] Do outro lado ele feliz, "Porra, estou chegando
do estúdio agora, gravei com Os Cariocas!". Mos-
trava faixa por faixa, ouvi e tinha que dar nota!
E ROBERTO E ERASMO?
Com eles foi muito pouco, só vivi aquela época
da jovem guarda.
VOCÊS BATIZARAM DE “JOVEM SAMBA".
É, jovem samba (cantarola], "eu sou da jovem
samba/ a minha linha é de bamba" (de "Ajovem
samba", 1967).
MAS VOCÊ FEZ DUAS MÚSICAS COM ERASMO
E MOROU COM ELE, NÃO?
Fiquei um pouco com Erasmo no Brooklin, quan-
do fui pra São Paulo me apresentar no Jovem
guarda. Foi a época em que a gente fez "Menina
gata Augusta" (1967), que foi legal, [cantarola),
"menina gata Augusta, menina Augusta gata".
Ali já fizemos um (hesita] samba rock.
E A TURMA DA MPB FICOU BRAVA...
Puta que pariu! Neguinho quebrava disco,
quebraram meus discos todos, na TV, naquele
programa de televisão...
FLÁVIO CAVALCANTI?
Quebrou. Quebrou A tábua de esmeralda.
NOTA? DE ZERO A DEZ?
[Ri muito.) "O que você acha, porra!?" "Do SE ELE SOUBESSE... MAS NÃO ERA SÓ ELE, ELIS
cacete." Era demais.
REGINA TAMBÉM FICOU BRAVA QUANDO VOCÊ
FOI AO JOVEM GUARDA, NÃO?
Todo mundo. Um cara de hoje que eu queria ser
quando garoto é o Max de Castro, que inventa
tudo, não quer saber, bota drum'n'bass, guitar-
ra... eu já fazia isso, mas sofria uma censura..
QUEBROU A TÁBUA DE ESMERALDA?
Quebrou, quebrou.
VOCÊ GOSTA DO FUNK CARIOCA?
Do que eu faço.
E ESSE DE AGORA?
Não, esse novo não é funk...
DIGAMOS QUE O NOME É UMA LIBERDADE
POÉTICA...
É, uma liberdade poética. Esse não é um funk. Eles
falam funk, mas não é. Não sei nem se é ritmo e
poesia, mas é um... Pode ser um r'n'd, ritmo & dança.
Mas não é o funkão.
FUNK CARIOCA É VOCÊ?
Não só eu, outras pessoas fazem. É que nem aqui
em São Paulo (o avião
já pousou), o pessoal fala de
samba-rock. Mas não é um samba rock é um samba
diferente, que o pessoal dança tipo rock.
É UM SAMBA MISCIGENADO, O PAULISTA, TEM
ATÉ JAPONÊS FAZENDO.
É, faz, e eles dançam estilo rock. (Saímos pelos
corredores do aeroporto, uma comissária de solo
puxa conversa: "Bom show, eu daria tudo pra ir, mas
não vou estar aqui". Ele faz meia-volta e diz, todo
galante. "Ah, você não vai estar?"Ela responde:
"A gente vai pra Recife". "Ah... seria um prazer...
Boa viagem então, tá?"
VOCÊ FALOU DE TIM, ROBERTO E ERASMO. E
SIMONAL?
Simonal, pô, foi o primeiro a gravar todos os meus
sucessos. Foi importante. Pedia, perguntava: "Tem
alguma coisa?". "País tropical", "Zazueira".
O TERMO "PATROPI" FOI ELE QUE INVEN-
TOU?
Não, o patropi já tinha. Patropi cantei num show
em São Paulo, eu e Toquinho. Era eu, Toquinho
e Paulinho da Viola, lindo, mas não foi ninguém.
Depois todo mundo estourou. Olha só a produção,
Fernando Faro e Antonio Abujamra.
NÃO ERA ESSE QUE TINHA ARACY DE AL-
MEIDA?
Isso, é. Não ia ninguém. Aracy era daquele jeito
dela... Ela é uma escola de música, gravou Noel
Rosa. Trabalhou com Noel, acho que foi até na-
morada dele. Mas era um show assim (ri), que não
ia ninguém. Cada um cantava suas coisas, só eu e
Toquinho cantávamos "Que maravilha".
Em 2003, durante torneio no
Itanhangá Golf Clube, Rio de
Janeiro
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