algumas coisas. Antes de mais nada,
para o fato de que, pela primeira vez,
estamos lidando com critérios obje-
tivos, visíveis, independentemente
da concordância ou não que tenha-
mos com os que foram apresentados.
Toda essa discussão só foi possível
porque esses critérios foram apresen-
tados no "site" de uma empresa es-
tatal. Aconteceu foi que o Ministério
e a Secretaria de Comunicação tinham
pontos de vista descoincidentes so-
bre a matéria. E como ambos se ma-
nifestaram publicamente, foi um
deus-nos-acuda. Houve uma vigoro-
sa reação dos artistas diante do que
eles classificaram como tentativa de
"dirigismo cultural" por parte da
Secom. E ocorreu, então, o debate
público - debate franco e generoso,
é bom que se diga. Uma coisa lógica
e natural. Mas parece que muita gen-
te ainda não se habituou ao fato de
que estamos num Estado democráti-
co, onde a discussão é enriquecedora
e vital para todos, e que só governos
autoritários se apresentam o tempo
todo de maneira monolítica e
indecifrável para a sociedade. Daí
que se tenha criado a célebre tem-
pestade em copo d'água. E a mídia,
para "esquentar" suas matérias,
caprichou no maniqueísmo. Fanta-
siou-se um duelo entre o Mincea
MINISTÉRIO DA CULTURA
Secom. Mas, embora correndo o ris-
co de decepcionar os decepcionáveis,
devo dizer, alto e bom som, que eu
e o ministro Gushiken somos aliados,
somos companheiros, militantes de
um governo que quer que o Brasil
dê certo. Que não vamos nunca dei-
xar de debater, pessoal e publicamen-
te, eventuais divergências. E que o
Minc discordou da proposta da cha-
mada "contrapartida social" pelo
simples fato de que ela não faz sen-
tido algum no mundo da cultura.
Primeiro, porque a busca de refe-
rências externas que possam vir a jus-
tificar o uso de recursos públicos para
o desenvolvimento cultural e sua im-
portância "social" reflete, de uma ou
outra maneira, uma compreensão es-
treita acerca do papel estratégico da
cultura para o povo brasileiro e para
o novo ciclo de desenvolvimento que
o
Brasil haverá de experimentar com
o Governo Lula. Falar em "contrapar-
tida social" era querer aplicar um con-
ceito contábil, uma rubrica de livro
de ocorrências financeiras, a um uni-
verso de produção simbólica, cujos
desdobramentos sociais estão como
que embutidos em si mesmos. Vale
lembrar que países como os EUA cons-
truíram seu desenvolvimento, sua
coesão interna e sua hegemonia no
mundo tendo como um dos pilares