A Semana
REFORMA MINISTERIAL
Se presidente Surpresas e espantoso
as mudanças
no primeiro
escalão
MIGUEL JORGE.
O Desenvolvimento a partir
de agora é com ele
presidente Lula protelou tanto a escolha do
novo ministério e recusou-se no que agiu
corretamente) a ser pautado pela imprensa
a ponto de suscitar a impressão de que se esme-
rava em selecionar a equipe. Não foi bem assim.
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Depois de se ver obrigado a desistir da nomeação
do deputado paranaense Odílio Balbinotti para a
Agricultura, por conta dos processos judiciais con-
tra o parlamentar
,
Lula optou por nomear Reinhold Ste-
phanes, que ocupou a Previdência no governo Fer-
nando Henrique Cardoso. No caso de Balbinotti, o
constrangimento poderia ter sido evitado com uma
simples consulta a programas de busca na internet.
Stephanes é uma indicação do governador Ro-
berto Requião e da ala paranaense do PMDB, dis-
posta a manter o posto após Balbinotti sair do
páreo. O também deputado não conta com a sim-
patia dos ruralistas. A bancada rural no Congres-
so tentou, até o último minuto, emplacar outro
nome para a pasta, Moacir Micheletto, preferido
do ex-ministro Roberto Rodrigues e do governa-
dor de Mato Grosso, Blairo Maggi. Para garantir
a nomeação, Lula contou com a intermediação
do presidente do PMDB, Michel Temer. Ele se
reuniu com a bancada ruralista, na quinta-feira
22, e prometeu que o grupo será ouvido.
O novo ministro é réu em uma ação popular por
elevisão pública ou estatal? Às voltas com a
confusão conceitual, a proposta de criação
Ministério das Comunicações, expôs divergências
no governo. Irritado com a repercussão negativa
do projeto, o ministro Hélio Costa bradou em de-
fesa própria: "Não tem ninguém querendo fazer
tevê estatal, não tem ninguém querendo fazer cul-
to à personalidade". Estaríamos, então, diante de
uma tevê pública? Parece que não é bem assim.
"A tevê estatal presta serviços institucionais à
população e apresenta o ponto de vista do gover-
no. A tevê pública é um espaço da sociedade, da
diversidade cultural e de pontos de vista, e as emis-
soras são mantidas tanto pelos governos como
pela iniciativa privada", define Orlando Senna, Se-
cretário do Audiovisual, do Ministério da Cultura.
O projeto de Costa seria ampliar a tevê estatal.
O presidente da Radiobrás, Eugênio Bucci, é ou-
tro a explicitar as contradições da proposta. Em en-
trevista ao Terra Magazine, ele disse: "As vezes, se
20 CARTACAPITAL 28 DE MARÇO DE 2007
O MENTOR. O ministro
detonou a confusão
improbidade administrativa por conta do período
em que ocupou a presidência do Banestado, o Ban-
co do Estado do Paraná. Nada que se assemelhe à
situação de Balbinotti, acusado de falsidade ideo-
lógica em um processo sigiloso do Supremo Tri-
bunal Federal. Stephanes alega ter sido citado no
processo apenas por ocupar a presidência do ban-
co, instituição envolvida em remessas ilegais.
TELECOMUNICAÇÕES
"Por favor,
quando quiser Chapa-branca ou canal público?
falar de teve
pública agora,
pergunte
ao Gilberto
Gil", irritou-se
Costa
Lula também definiu o ex-jornalista Miguel Jor-
ge, vice-presidente do Grupo Santander, como
o próximo ministro do Desenvolvimento. A es-
colha é reveladora: um executivo de um banco
no comando de uma pasta, em tese, ligada aos
interesses do setor produtivo.
Miguel Jorge vai assumir no lugar de Luiz Fer-
nando Furlan. Mas não foi fácil acertar. Antes, o
presidente havia convidado outros empresários, co-
mo Abilio Diniz, Jorge Gerdau, além do executivo
Maurício Botelho. Todos recusaram sob a alegação
de impedimento profissional ou, como no caso de
Gerdau, de ter contratos com o Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Falou-se no consultor Antoninho Marmo Trevisan,
mas não se sabe se ele foi efetivamente convidado.
Amigos dizem que Trevisan só se sentiria inclinado
caso lhe fosse oferecido o Ministério da Educação.
fala que vai ser uma rede para externar visões do
governo. Outras vezes se fala que é uma emissora
de conteúdo tipicamente de uma teve pública, o
que não coaduna com a primeira informação"
A exemplo do ocorrido nas discussões sobre a esco-
lha do padrão de tevê digital, o projeto gerou atri-
tos entre Costa e o Ministério da Cultura, que
mantém um Fórum Nacional de TVs Públicas. "Eu
não falei de conteúdo, de quem vai fazer a progra-
mação. Quem quer falar de tevê pública, e eu não
sei quem lhe deu essa atribuição, é o Ministério da
Cultura. Fique com eles, estou passando (essa com-
petência) de papel passado”, declarou, com a habi-
tual delicadeza. "Por favor, quando quiser falar de
tevê pública agora, pergunte ao ministro
Gilberto
Gil. Não é mais comigo", completa Costa
Diante da confusão desencadeada pelo minis-
tro, cabe ao presidente Lula definir se vai que-
rer uma emissora chapa-branca ou se vai inves-
tir na real estruturação de uma rede pública.