POLÍTICA NACIONAL
Dois pra Lá, Dois pra Cá
O novo ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, afirma que esse será o
ritmo da dança com o governo: para cada dois licenciamentos ambientais
concedidos, duas reservas
ecológicas. É esperar para ver Por André Deak
SAÍDA
C da e fitinhas coloridas nos pul-
por uma camisa branca manga longa,
foram os trajes usados no primeiro dia
de trabalho do novo ministro do Meio
Ambiente,
Carlos Minc. O estilo des-
pojado combinou com o discurso re-
petido várias vezes durante o dia, no
Palácio do Planalto, para jornalistas,
e na Agência Nacional de Aguas, on-
encerrou o cerimonial da transição
de cargo. Falou de técnicas orientais,
de Raul Seixas e Chico Mendes, elo-
giou a antecessora,
Marina Silva, e
garantiu
tiu que "os amigos dela são meus
amigos, os inimigos dela são meus ini-
migos", tentando convencer o Brasil
e o mundo de que a luta em defesa do
meio ambiente não será menor em sua
gestão que na dela.
"Faz de conta que você está entran-
do no lugar do Pelé. E é importante
lembrar que o Pelé não era insubsti-
tuível. Sei da tua relação com a Ma-
rina. Não estou tirando um estranho
colocando um estranho. Os dois
militaram juntos. Só que um abria a
janela e via a Amazônia, o outro abria
e via a praia de Copacabana. As duas
precisam ser preservadas”, declarou
o Presidente
Luiz Inácio Lula da Sil-
va dirigindo-se ao
Meio Ambiente, Carlos Minc, du-
o-se ao novo ministro do
rante sua posse, no final de maio. E
completou: "A política ambiental do
governo não mudará em nada"
A saída de Marina Silva do Minis-
tério do Meio Ambiente, no dia 13
de maio, desfalcou o rarefeito time
ministros que acompanham Lu-
dos
la desde a posse, em 2003. Sobraram
Celso Amorim (Relações Exteriores),
Gilberto Gil (Cultura) e Luiz Dulci
(Secretaria Geral), que estão há qua-
se cinco anos e meio na mesma pas-
ta. "O
primeiro sinal que transmito
ao mundo é de que a Amazônia será
tratada de forma diferente”, disse o
presidente, em dezembro d
o de 2002, ao
indicar Marina Silva para a pasta do
Meio Ambiente.
De acordo com a ex-ministra, ela
saiu por conta de um acúmulo de
atritos e desgastes provocados prin-
60 ROLLING STONE BRASIL, JUNHO 2008
Wince Marina: duas faces, ainda
que extremamente distintas de
a mesma moeda?
Minc garantiu que “os amigos dela
são meus amigos, os inimigos dela
são meus inimigos", tentando
convencer o Brasil e o mundo de que
a luta não será menor em sua gestão
*
Carlos Minc, o novo ministro,
aprovou mais de 2 mil licenças am-
bientais em quase 17 meses como
secretário de Ambiente do Rio de
Janeiro. Muitas delas tinham duas
características: eram de grande
impacto ambiental e de grande in-
teresse do governo federal. "Tenho
a sensação nítida de que foram os
licenciamentos que chamaram a
atenção de Lula", avalia. Mas ele
garante ser capaz de liberar licen-
ças rapidamente e com rigor, e cita
o caso do Complexo Petroquímico
do Rio de Janeiro (Comperj). "O
maior licenciamento do país, R$ 18
bilhões. Foi o mais rápido e o mais
rigoroso. Como é possível? Você
pode suprimir procedimentos, en-
curtar prazos, Como fizemos no
Rio de Janeiro."
João Paulo Capobianco, secretá
rio executivo que assumiu o cargo
de Marina Silva enquanto Minc não
tomava posse oficialmente - e saiu
do ministério em seguida-, revelou
que a saída da ministra foi uma es-
tratégia para defender a agenda am-
biental. "Não saímos com uma falsa
sensação de vitória. A luta central
nós não vencemos. Não tiramos o
Ministério do Meio Ambiente do
isolacionismo, não o transforma-
mos num ministério de primeira
classe. Para boa parte do governo,
Ministério do Meio Ambiente
um licenciador ambiental. Não é
estratégico, não pode oferecer so-
ovas
luções
. Isso tem que mudar. Saímos
Para que
quem venha tenha
s oportu-
nidades, para que possa manter a
agenda que não conseguimos."
Para ele, a saída da ministra foi
um modo de garantir uma sobrevida
à agenda ambiental. “Foi um movi-
mento político. Zero de apego ao
cargo, 100% de apego a agenda am-
biental." E ele, assim como Marina
Silva, se mostra otimista quanto à
escolha de Minc: "Não é uma tran-
sição. É uma continuidade com apri-
moramento. Fica a sensação de que o
gesto [de Marina Silva] deu certo. A
luta continua, e em boas mãos".
cipalmente pelo setor do agronegócio
e pelos ataques à linha-dura pratica
da por ela na concessão de licenças
ambientais para grandes obras. Os
defensores do agrobusiness e das li-
berações das licenças comemoraram a
saída dela. Ela nega, mas analistas su-
gerem que a gota d'água foi a entrega
da coordenação do Plano Amazônia
Sustentável (PAS) ao ministro Man-
gabeira Unger, do Núcleo de Ações
Estratégicas. Marina, inclusive, só
soube da indicação na cerimônia de
lançamento do programa, junto com
todo o Brasil, o que teria sido um si
nal claro de Lula para que ela saísse.