carlos buby
presno
Carlos Buby no palco com o coro e, na extrema direita
da foto, as Irmās Galvão; no centro, a capa do CD
"Terra de Deus Repentista"; e o compositor na rede,
no Sitio da Mataganza, no Embu (SP), sede do Templo
Guaracy de Umbanda, do qual ele é babalorixá.
Campanha, maestro e produtor musi-
cal. Casado com a Mary da dupla ser-
taneja Irmãs Galvão, o maestro passou
a ficar de olho nas composições do
Buby. Nos anos 90, as irmãs gravaram
"Coração Laçador", de sua autoria, ins-
pirada na vida dos boiadeiros. O suces-
so da composição levou Campanha a
solicitar outra música para ele, "Meni-
no Canoeiro".
Em dezembro de 2006, durante a
Festa Cigana do Templo Guaracy, no
Espaço Mataganza, em Embu (SP),
Buby encarou o palco novamente, pois
se sentia em casa. Ao lado de figuras
como Jair Rodrigues e Renato Teixei-
ra, ele soltou a voz em público. “Quan-
do Buby canta, seu sentimento é ver-
dadeiro. A interpretação e o conteúdo
das letras chamaram minha atenção",
afirma Mario Campanha. “Detectei a
grandeza de sua musicalidade."
TERRA DE DEUS
repentista
Uma nova parceria nasceu entre am-
bos. Alguns meses depois estavam no
estudio de Campanha para gravar os
15 fonogramas de "Terra de Deus Re-
pentista”. O maestro desenhou os ar-
ranjos e fez a produção e direção mu-
sical. "Foi um casamento perfeito en-
tre meus conhecimentos musicais e os
principios da umbanda, trazidos por
Buby", diz Campanha. “Escolhemos os
instrumentos de acordo com as carac-
terísticas dos orixás e seus respectivos
elementos. Usei cravo para realçar a
dimensão infantil em "Janaina" e, em
"Dono das Matas", harpa para subli-
nhar as emoções”, acrescenta.
Buby considera que tem um compro-
misso com a proteção da natureza. "Na
umbanda, aprendemos a reverenciar o
mundo natural de forma sagrada e não
só biológica. Não somos observadores
com a pretensão de administrar a na-
tureza”, diz. Inspirado nesses con-
ceitos, ele compôs "Dono das Matas".
“Escrevi essa canção no fim dos anos
70. Infelizmente, mesmo depois de 30
anos, a música é atual porque as flo-
restas continuam sendo destruídas."O
apelo na letra é óbvio: "Não botar fogo
nas matas porque nas matas tem mora-
dor. Deixe a árvore nascer, deixe o pás-
saro viver. O verde é nossa esperança
e a esperança não se deixa morrer."
“Feiticeiro Negro" encerra o álbum
Planeta JANEIRO 2008
"Terra de Deus Repentista" e aborda o
preconceito sofrido pelos seguidores
das tradições afro-brasileiras. Seu re-
frão, consagrado ao orixá Obá, é um
chamado à compaixão e à liberdade
de expressão. O videoclipe recebeu
mais de 15 mil visitas no site YouTu-
be. "A voz grave de Buby é afinada e a
música, singela e direta. Toca em as-
sunto importante: a intolerância reli-
giosa", afirma o crítico musical Luis An-
tonio Giron.
Entre o babalorixá e o artista pa-
rece não existir conflito. "Na década
de 70, eu queria ser famoso e busca-
va apenas o sucesso. Hoje, com 58
anos, vejo a música como uma for-
ma de transcendência espiritual.
Para mim, um show é como uma
gira, um ritual que alimenta as pes-
soas. Não somos capazes de viver
sem arte", conclui Buby. I
Para saber mais
CD "Terra de Deus Repentista", Editora e
gravadora Batoke (www.batoke.com.br)
Templo Guaracy do Brasil:
www.temploguaracy.org.br
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