JORNAL DO BRASIL
GILBERTO GIL
Sal não é doce,
Salvo se o soubermos
Como se fosse
CHICO MENDES E FHC
O assassinato de Chico Mendes completa seu décimo-pri-
meiro aniversário amanhã.
Deve-se reconhecer que o crime foi uma obra-prima. Do
mal.
A história merece ser lembrada. Vasta conspiração de fa-
zendeiros, políticos e policiais arma um matador tosco, Darli
Alves, que tem querelas pessoais com a vítima.
Incitado pela perigosa soma de ódio, dinheiro e promessa
de impunidade, o assassino cumpre exemplarmente a missão.
Foge. É acobertado pela máfia que controla o governo do
Estado. Recebe providencial ajuda de um superintendente da
Polícia Federal e de um comandante da PM.
A comoção nacional e a pressão internacional terminam
por levá-lo, meses depois, à prisão. Ainda cumpre pena, mas
impunes estão os conspiradores.
E agora?
Nos anos que se seguiram à tragédia, a herança política, so-
cial e ambiental de Chico Mendes parecia naufragar. O movi-
mento de seringueiros dividiu-se. Os novos dirigentes não ti-
nham a sua visão e a sua capacidade de administrar conflitos
e mobilizar pessoas.
O ridículo filme sobre a sua vida, estrelado por Raul Júlia,
despertou uma disputa digna do mesmo adjetivo, afastando
sua viúva e seus companheiros.
O pior foi o êxodo dos seringueiros, expulsos de suas áreas
pelo preço cada vez mais degradado da borracha amazônica,
incapaz de competir com a borracha da Malásia e a borracha
dos seringais plantados de São Paulo.
Governo algum levou em consideração o valor ecológico
agregado ao valor de mercado da borracha amazônica, que a
B
cadernob@jb.com.br
faz merecedora de subsídios. A permanência dos seringueiros
na floresta significa a preservação e a ocupação sustentável.
Recentemente, porém, as coisas começaram a mudar. Os
sinais visíveis são a eleição de Jorge Viana ao governo do
Acre, à frente de uma inédita coligação de centro-esquerda, e
a recente ofensiva contra a máfia local.
Projetos realizados em parceria com o Ministério do Meio
Ambiente começam a reverter o ciclo migratório. Pela primei-
ra vez em muitos anos há seringueiros retornando à floresta.
Talvez a semente plantada por Chico Mendes possa final
mente florescer em sua terra.
A esperança será ainda maior caso o governo federal libe-
re os R$ 11 milhões prometidos para o programa Amazônia
Solidária, que ajuda a reativar os seringais. Segundo a senado-
ra Marina Silva, a verba foi retida pela equipe econômica.
O governo do presidente Fernando Henrique Cardoso
tem a histórica chance de pres-
tar uma bela homenagem a
Chico Mendes.
CATAMARA: A viagem de
catamarà entre o Centro do Rio
e a Barra, organizada pelo ve-
reador Alfredo Sirkis e pelo mo-
vimento suprapartidário Alter-
nativa Carioca, ainda suscita de-
bates. Vale a pena conferir um
e-mail enviado à coluna pelo
engenheiro naval Ricardo Espí-
rito Santo, da Coppe/UFRJ.
FALA, LEITOR: "Omar
na costa sudeste do Brasil é o
que chamamos de mar de
swell. Tem uma ondulação
constante, diferente de outros
lugares, como o próprio Mar do Norte, em que há épocas de
mar liso (flat). Não há como fugir dessas marolas. Os cata-
marás convencionais, como o Jumbo Cat utilizado na via-
gem-teste, têm dois cascos (V-shape) que "cavalgam" as on-
das. Para nossas condições de mar, precisamos dos catama-
rās australianos da Incat, com suas proas em Z (Z-bows),
que "furam" as ondas, em vez de "cavalgá-las". Eles fazem
a ligação da Austrália para a Tasmânia, onde o mar é muito
pior do que na Zona Sul do Rio. Aqui mesmo, no Mercosul,
na foz do Rio da Prata, operavam dois desses barcos, o Pa-
tricia Olivia e o Juan L. Outra alternativa seriam os catama-
rãs Swath, cujos cascos são torpedos sempre submersos. O
projeto deve prever uma estação de passageiros no Quebra
Mar da Barra com perfil baixo e transparente, para não blo-
quear a visão do mar, e um atracadouro na Praça Mauá, no
Centro, e não na saturada Praça XV, além de um serviço de
TERÇA-FEIRA, 21 DE DEZEMBRO DE 1999
ônibus articulados na Barra e no Centro. Os principais inte-
ressados são os que, como eu, saem da Barra para seus es-
critórios, no Centro, de carro. Eu só troco o carro pelo cata-
marã se for mais rápido, seguro e barato."
MAROLAS
. O Greenpeace realiza manifestação em São Paulo contra a
aquisição, por empresas brasileiras, de madeira extraída ile-
galmente na Amazônia. Cerca de 80% da madeira ilegal é
consumida no mercado nacional. Quando comprar um móvel,
pergunte se o fabricante exige do fornecedor de madeira a
apresentação do certificado de legalidade.
.O novo superintendente do Ibama no Pará, Paulo Caste-
lo, empreende corajosa ofensiva contra a extração ilegal
de madeira. Acaba de fechar 268 serrarias clandestinas e
revela que boa parte dos projetos de "manejo sustentável"
são fajutos. O troco vem na
forma de ameaças.
. Aproveitados apenas nas sali-
nas, os fortes e constantes ven-
tos da Região dos Lagos do
Rio também podem produzir
energia. O Programa Florage
de-
(codeco @uol.com.br)
monstra a viabilidade da cria-
ção de um Pólo de Energia Eó-
lica em Cabo Frio e municípios
vizinhos.
. Moradores de Laranjeiras, na
Zona Sul do Rio, mobilizam-se
contra a construção de um hos-
pital da Caixa de Assistência dos
Advogados nos fundos do terre-
no antes ocupado pela extinta
Escola Senador Corrêa, na Praça
São Salvador. Uma parte do antigo colégio já foi demolida.
BOA PERGUNTA
Por que o governo federal só liberou até agora 6% da
verba para saneamento básico prevista no Orçamento da
União de 1999?
NAVEGAR É PRECISO
- Centro de Informações sobre Paralisias Cerebrais: www.def-
net.org.br
LER TAMBÉM
• A linguagem nossa de cada dia, de André Valente, com ca-
pa do cartunista Ique e prefácio de Caetano Veloso (Vozes).
com Sergio Sá Leitão e Alberto Santos/Fundação OndAzul
e-mail para esta coluna: ondazul@ondazul.org.br
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