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Documentos do Arquivo Pessoal de Gilberto Gil

Instituto Gilberto Gil

Instituto Gilberto Gil
Brasil

  • Título: Documentos do Arquivo Pessoal de Gilberto Gil
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    CLIENTE: GILBERTO GIL VEICULO Clipping Service SEÇÃO: DATA: / TELEVISÃO / Ator do teatro, TV e cinema fala sobre seu trabalho, política e humor Ary Fontoura solta o verbo O humor que transpira dos personagens que marcam seus 55 anos de carreira criam uma ilusão de ótica. Ary Fon- toura é um homem cético. "Meu humor vem da genética. Meu pai é um homem profun- damente introvertido, masiro- nico", conta. A política, para ele, está tomada por mafiosos. E viver bem mesmo é viver só, segundo conta nesta entrevis- ta a seguir. Artista critica "deputada bailarina" e Gilberto Gil : CORREIO POPULAR-CAMPINAS CADERNOC 12.02.2007 Seus personagens mais im- portantes na TV -como Flo- rindo Abelha, da novela Ro- que Santeiro, ou Arturo da Tapitanga, de Teta - pare- cem fazer parte de uma mes- ma familia Isso porque o ator carrega consigo sempre alguma coisa de sua personalidade. Nada é tão perfeito assim a ponto de você fazer um personagem to- talmente diferente de outro. Pode até modificar a maquia gem, mas de dentro de você sempre vem alguma coisa igual a todos. O senhor se magoa quan- do dizem que suas peças são comercials? Eu não derivei mais para o lado da experimentação por- que resolvi sobreviver dessa profissão. E eu tinha de ser profissional. Desafio é a pala- vra. Eu sou um produtor de teatro, além de ator. As pes. soas podem me perguntar porque eu não produzo col- Agência Estado - O se- nhor é mesmo bem mais sé rio do que seus personagens ou são as pessoas que sem- pre esperam uma plada quando falam com o senhorf Ary Fontoura - Olha, se o O ator Ary Fontoura, que completa meu humor fosse igual ao do . tar uma piada e todo mundo precisa do desfecho para rir, Av al sim eu seria abordado des- sa maneira. Meu humor vem da genética. Meu pai é um ho- mem profundamente introver tido, mas irônico. Eu lido mui- to lugar, tudo ponto engraça do é trágico. Uma pessoa es correga em uma casca de ba. nana, se estribucha no chão, é tro ao público. 55 anos de carreira: "O humor que eu faço surge do mau humor que eu tenho - o O senhor fala que a deputa- que, mas que ele tenha memó- porque eu não tenho o auxilio da Angela, por exemplo, irá li- ria, que não se envolva em si. de ninguém. E para manter derar um bacanal na peça. tuações escusas. Queremos uma empresa com meus ato. E por que não? Se ela ja já um presidente que represente res rindo daqui até aqui, mui transformou o reduto do go- uma Nação que pretende ser to bem pagos, nada sendo so. verno em uma festa estranhis- do Primeiro Mundo. Quere. negado Eu não posso passar sima. (A deputada ficou conhe- mos um presidente que não para eles as dificuldades que cida ao protagonizar a 'dança diga 'ah, ler é um saco,jogar da pizza' no Plenário para co- futebol é que é bom'. A gente tejam felizes. Preciso procurar memorar a absolvishoida não conheço, aos 73 anos, um não quer uma coisa assim no, acusado no escándalo do presidente para dizer 'ah, esse mensalão). Eu reconheço que sim foi um grande presiden te'. Getúlio Vargas era ditador, quando ela tenta se levantar, ça, marido de Michele ei ase finalidade é uma come não vale. Jânio Quadros era xer com a memória do brasilei- um maluco, só não voava com ro. É uma peça na qual todos aquela vassoura porque não humor negro. Meu humor riza de maneira pesada da pins. João Goulart, Brizola os personagens . Ninguém vale nada no meu (PT) ao ministro da Cultura trabalho, todos são complica- eram todos uma fantasia inex- Gilberto Gil. Não teme ser dos e querem levar vantagem. pressiva, gente que tentou fa- processado? Eu queria que o público enten zer algo que nunca conseguiu. Seu humor parecer nas Mas não estamos em uma desse que este não é o cami- Ninguém sabia se eram ou cer, na verdade, de um gran- democracia? Assim como falonho. Quero mexer com as leis não comunistas. Juscelino en- de mau humor. deles, eles têm razão de recla- estabelecidas, com o que está dividou o Brasil pela vida intei É isso, meu humor surge mar se sentirem-se malfala- errado, com o presidente da ra. Fez uma Capital lá no meio do meu mau humor. Não pos- dos. Mas o que eu falo? Faloo do mato e a construiu trans- . so ser bem-humorado ganhan- que todo mundo fala. mais que o presidente brin- portando tudo com aviões. Cdo o que ganho, olhando para mento, areia, terra, madeira, o lado e vendo meu semelhan- não dá. Fernando Collor, o te sem nada. que fez com o País? Fernando Henrique Cardoso maravilhou- se. Se eu tivesse de votar em al- E o que vocês artistas vão fazer? Não, vamos falar de nós, povo. Nós também somos po- vo, vamos falar do povo. O que o povo tem de fazer? Tem de sofrer Sofrer? Como é que você pode ima- é ginar que o Fernando Collor tenha sido reeleito? E que o Se- tiverino Cavalcante por muito pouco não está de volta. Que dos sanguessugas ninguém foi condenado, virou tudo pizza. alguma parte do seu corpo es- Tem Raiva de Feriado, o se nhor dá nome aos bois. Sati- transita al Divulle guém, votaria em uma pessoa com a consciência tranquila: na mulher do Fernando Henri- que Cardoso (Dona Ruth). Mas ela não vai nunca ser can- didata, não vai se meter nisso nunca. Ela seria minha última ilusão de que esse País teria um grande presidente. Políti ca hoje em dia é profissão. É uma máfia de pessoas que só querem ganhar, veja o exem- plo desse aumento de 100% para o salário dos deputados, de RS 12 mil para R$ 24 mil. E para eles fazerem o quê? Hein? O ator em Marido de Mulher Feila.... peça que esteve em Campinas Paulo AE Eo que nós vamos fazer? Nósł Nós vamos apreen. tenho sangue de barata, como todo mundo tem, e não tomo nenhuma providência, como todo mundo não toma. O senhor também é as- sim? Sim, até eu sou. Eu não presto também. Mas estou aqui tendo uma chance. Nem todo mundo tem a chance de chegar para um repórter e fa laro que sente para sair no jor. nal. Sou um cidadão brasileiro indignado com a situação do meu semelhante e sou mais in- dignado ainda porque sou pre- guiçoso, como todo mundo é, Fazer teatro não é provi- dência? Eu faço uma parte, e procu- ro fazer o melhor, mas não basta. Não se faz um País as- sim. O texto das novelas não fi- cou muito esculhambado? Eu acho que o brasileiro le pouco, o vocabulário das pes- soas está cada vez mais reduzi- do, quase ninguém mais sabe escrever. O senhor está falando do povo ou dos autores de nove- la? Aí o que acontece? Quem vê televisão? O público A, B ou C? Interessa para quem usa Colgate, Palmolive, o público E, F, G. Esse público tem aces. so a qué? Devemos dar a eles o que eles querem. Hoje, se vo- cê usar dois verbos irá freqüen- tar os melhores lugares desse País. Transar, pintar, legal, pô. Estava eu fazendo exercício em Copacabana, no Rio, e pa- rei para descansar num daque- les bancos. Havia dois garotos do lado, de 15, 16 anos. Fiquei ali ouvindo o que eles diziam. O papo era mais ou menos as- sim: Aí ela velo e eu ah (ge. mendo) e ela ah' 'E você?' 'Ah, e eu ah, aí a mina velo e ah, a mina chegou e ah'. Isso durou 15 minutos, e sabe que eles se entenderam? Não sabem falar, não se expressam, co- mo a gente vai ter público no- vo no teatro desse jeito se vo- cê vive da palavra, se a pala- vra é o mais importante? Há termos que as pessoas não sa- bem mais o que significam. Como você vai captar esse no- vo público? Só se der a eles o que quiserem, facilitando o máximo. É por isso que faço esse tipo de teatro, que é ex- tremamente popular e sendo qualificado como caça-ni- quel porque eu trabalho na te- levisão e coisa e tal. Eu falo a linguagem que o povo enten- de. Arte é assim. Não adianta pintar um quadro abstrato se o pintor tiver de ir junto para explicar o que ele pintou. Is- so não me interessa, nunca interessou. Uma frase suas "Quem con- segue viver sozinho temo maior mérito." As pessoas falam isso, mas Quem aprende a viver a verdade não é que todos so- com a solidão conquistou o mos assim? mundo Sim, eu ganho e o resto que se dane. . dão? . É possível viver com a soll- Tem que ser possível, é mui- to doloroso você procurar as pessoas em nome de sua soli- dão, você terá uma solidão acompanhada. Não vale. Eu vou me envolver com fulana porque estou me sentindo só. Temos que aprender a viver só. E o senhor aprendeu? Estou aprendendo, já aprendi 90%. (Da Agência Es- tado)
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