jungle drums.org #17 October 2004
Pois é, acabou de sair na
Inglaterra uma compilação
com faixas de Bonde do
Barraco
até
Tigrão, Tati Quebra-
etc, e um pancadão
chegou a ser trilha de
propaganda de carro.
(risos) Que maravilha, eu
não sabia. Isso é muito
bom. E porque a pessoa na
Inglaterra ouve sem os pre-
conceitos sociais do Brasil,
que ela não conhece. O
funk carioca, pra mim , é
pra mim
uma coisa de grande
importância. No Brasil, você
vê, todo fenômeno que
nasce espontaneamente
se impõe
e termina sendo
várias coisas
abre mundos, encontra
uma resistência enorme.
matriz pra
Aquela pessoa acha que
não-sei-o-que é chique e
não-sei-o-que é cafona,
isso é engraçado. E
Ecom
coisas que acontecem no
Brasil. como a axé music,
a música do carnaval da
Bahia, ou funk carioca,
essa gente tem ojeriza,
porque eles são elitistas.
No Brasil, que é um país
de elite pequena, a pessoa
tem medo, tem vergonha
de se misturar com o negó-
cio que vem 'de baixo
interessantes. Mas há out-
ras que são enormemente
criativas e interessantes
que eu não conheço pes
soalmente, e
e de quem gosto
muito. Mal conheço o pes.
soal de Pernambuco. Tenho
pronto
contato quase nenhum. Fui
ver shows, cumprimentele
Mas eu admiro
muito o Nação Zumbi,
mondo cuina
enormemente, e gosto
muito do DJ Dolores com a
Orquestra Santa Massa. O
Mombojó eu ainda não
Ouvi,
estou louco pra ouvir.
Eu gosto muito do jeito dos
pernambucanos
se aproxi
dem das coisas, porque
muito diferente do baiano.
Mesmo em coisas que tam-
bém interessam aos
baianos, eu gosto deles
serem tão diferentes de nós.
Isso sempre me estimula,
me excita, me interessa. O
pernambucano parece que
tem mais seriedade.
Apesar de no exterior o
seu trabalho ser elogiado
quase unanimemente, no
Brasil você é constante-
mente criticado pela
imprensa. Por que você
acha que isso acontece?
Tenho a impressão de
que a
a imprensa brasileira
Você
acompanha o que é imita uma coisa que esta-
feito de novo na música va começando quando eu
brasileira? Você toca com morava na
a na Inglaterra, que
artistas novos, como o
depois cresceu muito. Esse
assin, que produziu seu
de jornalismo de rock-
Mautner. 'n'roll. Mas
que na verdade
a um com Jorge
pretendo voltar a
trabalhar com ele. Tem uma
oro se faz nos grandes
a produzida por ele no
meu último disco. Eu obser-
VO esses jovens e acho
bom. Acontece que o
Kassin eu vi i crescer dentro
da minha casa. Kassin,
Domenico, Pedro Sá (gui-
tarrista de Caetano), esses
eu conheço de dentro de
casa, por causa do Moreno
(filho de Caetano
que tem
um grupo com Kassine
Domenico). Eu vi o Pedro Sá
não
faixa
jornais, é nos tablóides de
rock'n'roll, como Melody
Maker e New Musical
Express. É um tom às
meio desrespeitoso,
, parece que os
crescer com o Moreno, vio
Domenico aparecer na
adolescência do Moreno, o
Kassin um pouquinho mais
tarde. São pessoas que eu
conheci dentro da minha
casa por causa do Moreno.
Agora, são pessoas
enormemente criativas e
coisa
rock, agressivas, desbun-
dadas, com atitude. É evi-
dente que num The Times
a pessoa não escreve
assim, e muito menos no
New York Times. É
inglesa, sobretudo
dos tablóides de
de rock'n'roll.
E no Brasil a grande
imprensa imita o tom des-
ses críticos de rock'n'roll
dos tablóides (risos). É
muito engraçado. A Folha
de S.Paulo é a principal, as
vezes os outros também,
você vê até no Estadão,
6 Eu sou um
medalhão
desbundado,
maluco.
Eu sou o
alvo mais
fácil, mais
visado (da
imprensa
brasileira).
Mas ao
mesmo
tempo eu
estou numa
situação
mais
engraçada
para
observar
isso 9
66I'm a bona
fide national
treasure
although a
bit of a crazy
one. I'm the
most obvious
target (for the
Brazilian
press). But,
on the other
hand, I'm in
the privileged
position of
being able
to just brush
off their
comments
you can still see this
today in the way that
Bossa's being mixed with
Drum 'n' Bass. It's a mod-
ern pop cliché. It's a
British thing. It's funny
and charming really
And what do you think
about Funk Carioca's
increasing popularity
amongst people in the UK?
Funk Carioca? I didn't
even know that anyone
outside of Brazil was lis-
tening to it because it's
made under very difficult
conditions
Well, a compilation
album's just been released
over here with tracks by
artists like Bonde de
Tigrão and Tati Quebra-
Barraco, and one song
even ended up as the
soundtrack to a car advert.
(Laughs) Wonderful! I
didn't have the
idea!
! It's
great, because
people in the UK listen
without all the socio-eco
nomic prejudices that
influ-
Brazilians have. I believe
that Funk Carioca
is very
In Brazil
important. In any
cultural phenomenon that
emerges spontaneously
and
gains
ground
ences other art forms is
met with
h a huge resist-
ance. People come along
and dictate what's cool
and what's not. And these
same people are appalled
at anything that comes out
of Brazil. They can't stand
Axé Music, Carnival and
Funk Carioca, because
they're elitists. In Brazil, a
country with a small elite,
people are scared and
ashamed of liking some-
thing that's "below them'.
Do you keep up with
what's going on in the
Brazilian music scene?
You've already collaborat-
ed with young artists like
Kassin, who produced
with
your album
along
Jorge Mautner.
Yes, and I intend to work
with him again. He pro-
duced a track on my last
album. I keep an eye on
these youngsters and I like
what I see. I've known
Kassin since he was a
child. I met Kassin,
Domenico and Pedro Sá
(Caetano's guitarist)
through Moreno
(Caetano's son who's in a
band with Kassin and
Domenico). I watched
Pedro Sá grow up along-
side Moreno. Domenico
came along when Moreno
was a teenager and
Kassin turned up a
later. They're people who 1
know intimately because of
Moreno. Now, they're
extremely creative and
interesting people in their
own rights. But there are
other extremely creative
and interesting people that
don't know personally but
still like a lot. I hardly know
the guys in Pernambuco.
Ive almost no contact with
photo: Montreux
Jazz Festival