Mais: estão criando boatos e fatos. Requentam
notícias com intuito de se opor. É clara a inten-
ção, sobretudo, de desmoralizar o presidente.
Não diria que assino embaixo integralmente, mas
que, se assim é, é por razões até compreensíveis.
Essa elite que dominou se revezou no poder, eles
detestam a idéia de que o underdog ("coitado"),
como dizem os americanos, tenha chegado ao
poder. Só não diziam isso porque têm que fingir
o republicanismo, portanto a favor da alternân-
cia de poder, são democratas e tal. Mas no fundo
é muito fingimento. Na hora que podem ver uma
oportunidade de desestabilizar o underdog, estão
fazendo um grande esforço para isso. Até comi-
go. É uma coisa horrorosa. Não vou me preocu-
par com isso, não. Porque, se quiserem me ti-
rar de lá, venham com dose de veneno suficien-
te, porque pequenas doses, essas bobagens só
me fortalecem. Se têm veneno, que mostrem. Se
não têm, melhor calar a boca do que ficar com
essa coisa ridícula.
Qual a importância da cultura? Como pode
fortalecer nossa nação?
É só o que pode. Máquinas, ferramentas, tudo is-
so é só para que o homem conviva com o homem.
Para que se falem as várias linguagens: dos fa-
lares, dos cantares, dos dançares, dos pintares,
dos fazeres, dos pensares.
Não há desenvolvimento sem cultura que não se-
ja com e para a cultura. Ainda ontem estava na
premiação de um programa, e dois adolescentes
foram chamados para recitar Drummond, E Ago-
ra, José? Fui chamado a falar e disse: "E agora,
José?" Quer dizer, correndo, bufando por aí, nes-
sa ganância toda, nesse produtivismo todo, pra
quê? Se não for para o gáudio do espírito, o en-
riquecimento da convivência, a entronização da
comunicação, da linguagem do coração huma-
no? Então, tudo é cultura, ela é primordial, ela é
o porquê de todas as coisas.
Só existem duas coisas: a cultura e a natureza. E
a própria natureza só existe por causa da lingua-
gem. Tudo está na linguagem. Até Deus. Como di-
go: Deus é uma criação do homem. É o criador
criado pelo homem. Porque ele é eu-dizer-o-
seu-nome. Se não digo, ele não é nada.
Para mim não tem outra coisa. E tudo cultura. Eu
parto desse princípio.
Nossa cultura hoje chega a todos os lugares.
Por exemplo, o dvd do Nóbrega.
Isso é novo, mas a cultura sempre chegou. Só
que agora com possibilidades de tradução.
São as tecnologias pós-modernas. Você vive
uma refundação pela cultura. O circunstancial
Simultaneidade,
essa é a
palavra-chave.
Simultaneidade
e complexidade.
Se a gente
consegue fazer
com que o ser
humano passe
a lidar com
essas duas
dimensões
de forma mais
confortável, tem
a possibilidade
de fazer do
século 21 um
resolutor de
problemas, mais
que criador.
contemporâneo está refazendo, reinstituin-
do essa integridade, essa dimensão integral
da comunicação humana, da possibilidade de
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intercâmbio com os homens. E aí o disco do
Nóbrega hoje pode ser um produto universal.
As possibilidades que a cibernética e todas
essas novas técnicas proporcionam. Dá para
pensar numa refundação, a possibilidade da
construção das redes. De trocas múltiplas que
vão ter uma influência profunda na questão da
democracia, na questão republicana, do que é
o Estado, a sociedade, quais as relações. Tudo
isso está sendo refundado. A questão da mi-
gração, o império. É um mundo novo.
Que nos dá a simultaneidade da informação.
Veja o caso de tortura de iraquianos. Em pou-
co tempo o mundo todo ficou sabendo.
Simultaneidade, essa é a palavra-chave. Simul-
taneidade e complexidade. Se a gente consegue
fazer com que o ser humano passe a lidar com
essas duas dimensões de forma mais confortá-
vel, tem a possibilidade de fazer do século 21
um resolutor de problemas, mais que criador.
Queríamos agradecer o carinho. E uma decla-
ração de tiete: temos o maior orgulho pelo
que já fez por nossa cultura.
Eu é que agradeço a vocês. É recíproca minha
admiração por vocês e por esse trabalho que fa-
zem. Eu também sou fã.
Junho 2004
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