2. SEGUNDO CADERNO
Suzana Velasco
ara Paulo Pederneiras,
diretor artistico do
9915. é simples assim
- Fazemos uma dança brasi.
leira porque somos brasileiros
Sempre que algo é dito so
bre o Corpo, esta 14 alguma
frase sobre brasilidade do
mals Importante grupo de
dança do pais. Mas é uma bra
silidade, como diz Paulo, in
vitável. Nada folclórico ou
panfletário e que até por is
so ou apesar disso - conquis-
ta há 30 anos platéias do mun
do todo. No é diferente com
"Ongoto", que estreou com su
cesso em São Paulo e abre a
temporada carioca hoje, no
Teatro Municipal, com ingres-
sos esgotados e a certeza de
muitos cambistas na porta
Em Lyon, na França, onde o
Corpo fará 12 apresentações
em novembro, nio há mais la
gares na platéia desde Junho
O sotaque brasileiro apare
ce no nome, "Ongoto'-oje
to mineiro de se perguntar
"Onde é que eu estou?". Mas
dificil um tema ser mais un
versal do que a origem do un
verso, de onde viemos, para
onde vamos, onde estamos
Esse tema surgiu, como de cos
tume, da trilha sonora criada
para o espetaculo, desta vez
composta por Caetano Veloso e
José Miguel Wisnik, que se ins
piraram na frase de Nelson Ro
drigues de que o primeiro Fe
Flu
começou 40 minutos antes
do nada. Segundo Paulo, a su
gestão de unir a dupla fol do ce
nógrafo Fernando Velloso, que
ao lado da figurinista Preusa Ze
chmeister, é parceiro do Grupo
desde 1981 -e aproveita a vin
da do Corpo ao Rio para mos
trar seu trabalho como artista
plástico na galeria Arte em Do
bro, a partir de segunda-feir
- Até brincamos com isso,
de o universo ter origem no
Big Ben, uma expressão anglo-
saxl. Mas nunca tivemos als
tenção de carregar uma ba
deira, detestaria se fossemos
panfletários. Gosto de pensar
que o Corpo ao longo dos anos
construlu
uma identidade pro-
pria-diz Paulo, por telefone,
da sede do Grupo Corpo, em
Belo Horizonte
E é inegável que o fenómeno
Corpo se deva a essa identido
O GLOBO: Qual a avaliado
seu percurso como ministro?
GILBERTO GILIA gente está
conseguindo trazer a questo
da cultura para uma pauta pre
ferencial no Brasil. Começa a
haver uma tomada de cons
ciência de que a cultura é es
tratégica, ao lado de outras
áreas que buscam reconhech
mento, como melo ambiente e
inclusão social. É um trabalho
que precisa ser feito no Brasil,
para além de oficina mecanica,
da injeção de recursos nas ar
tes, no patrimonio, na produ-
çao, na difusto. É preciso re
qualificar o discurso da cultu
ra no Brasil, porque é um pro
cesso que se di globalmente
• Na ilma reunido ministe
rial o senhor apresentou uma
carta com duas criticas ao go
verno quanto a essa fomoda
de consciencia
GIL: Um governo que está de
dicando tanto esforço em rela
ção a superavit, austeridade
fiscal etc está na contramão
do apoio a setores que não são
classicamente apoiados pela
1 força politica da sociedade.
Há também uma dificuldade
histórica de áreas como fazen-
da e planejamento de compre
ender o papel estratégico da
cultura
O GLOBO
Isto nado o deixa frustrado?
GIL: Veja bem: nio é porque o
governo é de mudança que es
sa consciência será instalada
imediatamente. Se eu for pen-
sar no esforço que vem sendo
feito e na resposta que o go
verno tenta dar, tenho um po
de ousadia. Ainda não. Ainda
carecemos de uma certa visto
politica que esteja em sintonia
Após 30 anos, onde é
que eles estão?
Onqoto' estréia hoje com ingressos esgotados no Municipal,
consagrando as três décadas do Grupo Corpo
Quarta-feira, 31 de agosto de 2005
BAILARINOS DO CORPO facem movimentos no chão em "Ongots tema universal ao tratar da busca de origem interior do ser humano
de conquistada por uma quali-
dade artistica que se mantém a
cada novo espetáculo, a quali-
dade de saber criar na lingua
gem do movimento. Em "Ongo-
to", os bailarinos exploramo
chao e dançam, em quase todo
o espetáculo, juntos. Mas Ro-
drigo Pederneiras não relacio-
na diretamente os movimentos
no solo com a busca de rales.
- No se trata de uma volta à
ralz geografica é uma busca de
origem interior - diz ele - A
coreografia é toda feita com
opostos que acontecem ao mes.
mo tempo. É caotica e organiza ar pronta, acabou impondo
da, tem jogo de peso e leven. mudanças para a entrada e a
sempre entre a violência e oli aida dos bailarinos. Sem co
rismo, a delicadeza -- conta, desas, eles so cuspidos no pal
Niterói, o coreógrafo, que, entre co e dragados por tiras de bor
o fim da temporada paulistana e racha cor de grafite.
a estreia no Rio, conseguiu um - A minha intenção era fa-
tempo para reestruturar como ter um no cenário, um bura
grafias do balé municipal
co negro, e para isso procurei do
eliminar os pontos de referèn :
clas que normalmente existem
num palco. Criel um formato
arredondado, que lembra o
mundo, uma aldeia primitiva e
um estádio de futebol, questo
temas do espetáculo.
à
para falar dessa busca de
origens, Paulo, também ceno-
gralo e iluminador do Corpo,
criou um cenário em que falta
um vazio sem caxias. Ele, que
normalmente cria após a co
reografia do irmão Rodrigo es
"ESTOU DO LADO DAS BRUXAS'. Continuação da página 1
“País não entende importância global da Cultura'
Gil vê falta de sintonia de áreas como Fazenda e Planejamento com tendências da economia contemporânea
Marca Arto Cavalcant
to coletivo de "Ongoto", o pro
grama de hoje ate segunda-fel-
ra no Municipal começa com
"Lecuona", espetáculo do ano
passado inspirado na música
do cubano Ernesto Lecuona,
com 12 pas de deux e um nu-
mero final em grupo
--Acho que o programa casou
muito bem. "Lecuona" fala de
amor de possibilklades numa re
lação. "Onqotd" val mais tundo,
losoficamente falando. É mais te
virico observa Rodrigo
Grupo teri centro cultural
e documentário
Não há nada concreto para
suceder "Ongoto" no ano que
vem. O que Paulo pode dizer é
que em 2006 começar a am
biciosa construção, numa área
de 18 mil metros quadrados,
de um centro cultural em Belo
Horizonte, com um teatro de
mil lugares, um teatro menor,
espaço para artistas residen-
tes e área para artes plásticas
e perfomances
Do Rio, o Corpo segue para
Belo Horizonte, Brasil, Porto
Alegre, Nova York e cidades da
França e da Espanha. Algumas
dessas apresentações serão
acompanhadas pelos cineastas
Fabio Barreto e Marcelo Santia
go, que esto dirigindo um do
cumentário sobre os 30 anos
do grupo, que deve ser lançado
no ano que vem. No filme, ce
nas dos ensalos, da estrela e
dos bastidores de "Ongota".
Nessas três décadas, o sotaque
brasileiro está mais presente
em alguns espetáculos, como
em Parabelo (1997) ou "Ben
guele" (1998). Em alguns casos,
a brasilidade parece proposital
mesmo que ela seja pouco
palpável, sada obvia.
Se isso for dito ao Paulo,
ele vai dizer que isso no era
consciente, mas nos anos 90
Extinguindo as coxas, Pau eu pensei muito sobre o que é
lo também acabou criando um adanca brasileira-conta Ro-
problema para ele próprio, drigo - Mas hoje Isso nem
pois não podia mais usar a h- passa mals pela minha cabeça
bitual luz lateral.
No começo precisamos de cer
--Del um tiro no pé -- britas referencias que sto impor
ca ele. - Fol um desafio ter tantes, mas com o tempo, val
que usar refletores em cima se abrindo o próprio caminho
palco, mas eles acabaram Se há uma linguagem típica do
lembrando as luzes de um es-
Corpo, ela foi pensada a prin-
tadio
de futebol.
cipio, mas agora basta ser o
que se e.
-Ofinal é como um parto -
diz Rodrigo. - O Paulo se co- E, sem saber, acaba concor-
loca numa sinuca de bico e ndo dando com o Irmio
sabe mais como sair brinca -Existe brasilidade porque
Em contraste com este par a gente é brasileiro
GIL: Sim. Por exemplo, 5% do
emprego gerado no Brasil hoje
vem do setor cultural. Não é
pouco. No Rio, 7% do PIB é cul
tural. Os empregos da cultura
são as mais qualificados, os de
maior remuneração, os mais
limpos...
• Limpos em que sentido?
GIL: No sentido ecológico (r.
Sos)! Sabla que hoje no Brasilo
setor de cultura produz mais
que o da construcio civile da
Indústria automobilistica?
esse tipo de discurso de infor
mação, de catequese, que pre
cisa ser feito. A cultura tem
um papel fundamental em
questes como coesão social,
cidadania, qualificação da
subjetividade para aplicação
em vários campos. E é uma
Area que entra no deslocamen-
to da chamada economia pe
sada para uma economia leve
dos serviços. Nos EUA, a de
serviços já bateu a convencio-
nal, pesada, de bens materials.
Respondendo a sua pergunta
nesses dois anos e melo, a
tislação vem dal de estar
prestando esse serviço. O
Minc tinha que em algum mo
mento - e passava da hora
- atribuir-se a tarefa de fazer D
esse aggiornamento da ques
tão conceitual sobre cultura.
GILBERTO GIL: "A cultura praticamente no tem estatísticas no Brasil. Vool val discutir com o Paloccl sem ter os números que outros setores " • Deve ser um trabalho dificil
pois a propria palaura cultura
com um processo que é glo- blica tenham uma Imediatamentos anteriores à contem- Nos no temos esse dimensio- raramente compreendida
bal. Há uma crescente migra- compreensão disso. poraneidade. Outro problema namento econômico da cultu em dimensões que esto além
cho da grande produção in-
é a falta de Indicadores: a cul ra. Estamos buscando, fize- da produpão cultural
dustrial para uma economia Num pais como o Brasil, co- tura praticamente não tem es- mos convenios com IBGE, Ipea GIL: Mas o fato é que é assim,
que é cada vez mais ligada ao sas como infraestrutura vêm tatísticas no Brasil. Você val centidades como Firjan, sindi- queira-se ou nol E as pessoas
conhecimento, a informação, na frente
discutir com o Palocci sem ter ,
. vão ter que se defrontar com
GILE Sim. Sio politicos egresos numeros que outros catos, associacoes patronals.
Isso, se não for agora será logo
colsa nova, a gente não pode sos de quadros clássicos, tra- res tēm. A agricultura vai la e . Mas na Carta a Lula o se adiante, talvez os netos, as ge
imaginar que os ministros de balhando demandas como em póe na mesa produção, expor nhord apresenta alguns do- rações que vão nos seguir
fazenda e presidentes de repo- prego, com agendas de mo- tações, empregos gerados dos preliminares.
consigam compreender.
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