ração imensa pelo Lula, que pediu para ele
ficar. O Gil foi picado pela mosca da politi-
ca. Música ele gosta muito, mas não escu-
ta. Se ligo o rádio, fala: "Pra que rádio?" E
também não gosta de se ouvir, é tímido.
O que mudou na vida de vocês quando Gil
se tornou ministro da Cultura? A primeira
mudança foi o terno, que ele ama. Monta-
mos um apartamento funcional em Brasí-
lia, mas não compensava eu ir porque o Gil
viaja muito. Nos fins de semana ele vai pro
Rio e quando tem show vou junto. Viagem
de ministério não vou, não tenho muita
função, só como companhia mesmo.
Entraria para a política? Nunca. Politica é
coisa pra homem, eles têm mais paciência.
E politica é tempo. Mulher é mais práti-
ca e lúcida, quer resolver tudo na hora. Há
exceções, claro. A Dilma Roussef ministra-
chefe da Casa Civil] é uma grande mulher
comandando os ministros com sabedoria.
Você e o Giljá passaram por crises? Nunca.
Já fui ciumenta, brigona, implicante, agora
sou menos. Tenho ciúmes de certas pes-
soas com ele, mas nada perto do que era
antes. Hoje tenho preguiça de discussão.
Como lida com os boatos de traição? As
vezes recebo e-mails de pessoas falando
para eu ir apurar, muito fora do Brasil. Brin-
co que, se alguém sabe de alguma coisa, não
me diga, porque não vai adiantar. Talvez
volte a roer unha e não quero. Não tem es-
sa de um ficar atrás do outro.
“Acho que foi
a idade, desisti
de ser chata. Ser
go na Bahia. As crianças
acabam sendo usadas pa- chata é foda”
ra mandar recado, fazer
chantagem. Depois que
elas crescem parece que todo mundo cres-
ce junto. Hoje a Sandra almoça em casa.
E você era uma menina, ela estava com o
Gil havia 12 anos... Menina, 20 anos, inse-
gura. Ai vê a ex-mulher, que já teve filho,
fica criando monstros. Mas tudo passa. Fa-
lo isso não porque sou legal, se elas fossem
umas chatas não seriam bem-vindas.
Pelo que você e o Gil brigam? Brigar é
muito raro. Mas discuto com ele sobre me-
mória, falo uma coisa e ele esquece. Para
quem não o conhece, é fácil brigar com o
Gil, ele fala alto, discorda. Tem gente que
se assusta e eu falo: "Para de falar assim"
Mas é o jeito dele. A gente se gosta, não
tem essa de jogar na cara um do outro.
De onde vem essa tranquilidade? Não vem
de criança, eu sempre criava problema.
Acho que foi a idade, porque desisti de ser
chata. Ser chata é foda. Prefiro ter amigos e
viver na paz. Preguiça é o meu maior defei-
to, que acaba sendo uma qualidade. Quem
tem preguiça não se mete em encrenca.
Você é muito assediada? Era menos, quan-
do na Bahia as pessoas queriam estar no
camarote. Agora sou mais, porque a pessoa
também tem um recado para o Gil.
Quando conseguem ficar juntos? O Gil não
gosta de jantar fora, de ir ao cinema. Ele só
faz isso quando viaja. Eu já gosto de uma
mesa com amigos. Ele gosta de solidão,
de ficar contemplando, como o Dorival
Caymmi. Eu já quero falar no telefone,
passar e-mail, ligar o MSN. Se ele está
quieto, lendo, ligo a televisão e fico quieta
do lado. Embora não pareça, gosto de ficar
Como é o relacionamento com as ex-mu-
Theres? Com a Belina, a primeira, sempre
foi tranqüilo. A Nana (Caymmi] é só alegria.
E fala: "Como você agüenta aquele preto
horroroso?". A Sandra foi dificil, porque foi
a última. Depois foi ficando suave. As fi-
lhas dela, a Preta e a Maria, moraram comi-
20 | PÁGINAS VERMELHAS
em casa, conversando
até 3h da manhã. Gosto
de ir para o sitio em Ara-
ras [R], o Gil fica tocan-
do. Tentamos ficar sozinhos lá, mas, no ca-
minho, liga o Jorge Mautner, uma amiga e
acabamos chegando em oito pessoas. É
mais fácil fora do Brasil. Fomos para a Sui-
ça, uma lua-de-mel. De manhã ele traba-
lhava, à noite nadávamos, víamos filmes.
Como se conheceram? Em 1978, trabalhava
na Levi's do Shopping Ibirapuera, em São
Paulo, e ganhei do gerente uma viagem para
Salvador. Fui com uma amiga e, saindo de
um show da Baby Consuelo, pedimos caro-
na. Um carro parou, e nele estavam o Gil e
a Regina Casé. Eles nos deixaram no hotel
e falaram para irmos à praia da Boca do Rio.
No dia seguinte, conhecemos Caetano e
Vera Zimmerman. O Gil me disse: "Fiz u-
ma música com seu nome" Aí cantou "Flo-
ra" e me cantou. Linda, falava de jaqueira
(“Imagino-te jaqueira, postada à beira da es-
trada, velha, forte, farta, bela, senhora"). Vol-
tei, ele ligou e começamos a namorar.
Ele estava casado com a Sandra (Gadelha,
terceira mulher, mãe de Preta e Maria Gil)?
O casamento estava no fim, não separei
ninguém. Ninguém tira ninguém de nin-
guém. Depois de um ano, em 1980, fui mo-
rar com o Gil em um sítio em Jacarepaguá.
E seus pais? Meu pai ficou abalado. Mas,
do mesmo jeito que achava uma loucura,
passou a não achar. O Gil é um doce. Mas
era casado, preto, baiano, músico, com
trancinhas no cabelo, tinha sido preso com
maconha, exilado, era muita informação
para uma família tradicional de italianos.
Como era a vida no sítio? Uma delícia, ele
ficava fazendo música, acordávamos tar-
de, iamos para o Baixo Leblon ver os ami-
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