CLIENTE: Gilberto Gil
VEÍCULO: Folha de S. Paulo - SP
CLIPPING SEÇÃO:
SERVICE DATA:
Disco, previsto para sair em
maio, traz sambas menos
conhecidos de Noel Rosa,
interpretados pela familia
de Martinho da Vila
MARCUS PRETO
DA REPORTAGEM LOCAL
Noelganha estudo acadêmico
Livro reúne 14 textos inéditos que analisam obra do compositor, que faria 100 anos em 2010
Arquivo Folha Imagem
Ilustrada
16/02/2010
O ano começou ontem para
Noel Rosa (1910-1937). Prota-
gonista do desfile do GRES Vila
Isabel, quinta escola a passar
pela Marqués de Sapucaí na
madrugada da segunda-feira, o
compositor ganha, no decorrer
de 2010, uma série de homena-
gens pelo centenário de seu
nascimento
Outro ícone daquele bairro,
Martinho da Vila está envolvi-
do em, por enquanto, dois des-
ses eventos. Além de ser autor
do samba-enredo mostrado
ontem na avenida, é o principal
artista do disco que virá encar-
tado em "Noel Rosa - 100 Anos
de Samba", livro programado
para chegar às lojas em maio.
O projeto foi idealizado por
Júlio Diniz, do departamento
de letras da PUC-Rio, e é parce-
ria entre a Editora PUC-Rio e a
gravadora Biscoito Fino.
Em fase de produção, o CD
vai trazer sambas menos co-
nhecidos de Noel. Quem os in-
terpreta é Martinho e a família,
incluindo os filhos Tunico Fer-
reira, Analimar e Mart'nália.
Já o livro reúne 14 textos iné-
ditos, a maior parte deles escri-
ta por figuras do meio acadêmi-
co, que vão analisar diferentes
aspectos da obra de Noel.
"Cada texto tem como
condutor um samba de Noel
-ou, em alguns casos, um gru-
po deles", diz Diniz. "Trazem à
tona o Rio da época, a malan-
dragem, a boemia, a arte."
Santuza Cambraia Naves,
professora do departamento de
sociologia e política da PUC-
Rio, traça paralelos entre Noel
eo modernismo
"Apesar de não ser um inte-
lectual, Noel fez canções que
realizam a estética modernis-
ta", ela diz. "O samba 'Gago
Apaixonado', por exemplo, é
completamente metalinguísti-
co. A
música gagueja junto com
a letra. Isso só aconteceria de
novo com tamanha eficiência
em composições da bossa nova,
como 'Samba de uma Nota Só."
Segundo Santuza, ao mesmo
tempo em que tem um eu lirico
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Noel Rosa, que ganha uma série de homenagens por conta do centenario de seu
nascimento
apaixonado, Noel nunca perde
o humor. O amor em suas can-
ções não é trágico.
Autora do livro "No Fio da
Navalha: Malandragem na Li-
teratura e no Samba" (Casa da
Palavra), Giovanna Dealtry re-
dimensiona o "duelo" entre
Noele Wilson Batista.
"Ao responder, em forma de
canção, o samba 'Lenço no Pes-
coço', Noel iniciou um diálogo
com Baptista que gerou nove
sambas-inclusive o tão famo-
so 'Feitiço da Vila", ela conta.
"Noel se incomodava com essa
exaltação do malandro de nava
lha na mão. O que propunha era
uma malandragem mais leve,
menos visada pela polícia.
Ape-
sar de circular no morro, ele era
branco e filho da classe média."
Em seu capítulo no livro, Jú-
lio Diniz rememora a redesco-
berta de Noel nos anos 1960,
bancada principalmente pelo
encontro e pela amizade de
Noel é o samba do
asfalto, não do morro.
Ele estudava medicina,
não morava na favela
JÚLIO DINIZ,
escritor
Cantores tinham que ser
amadores, os
profissionais eram mal
vistos. Era negócio de
vagabundo, "viado" ou
prostituta. Para brigar
com esse preconceito,
Noelfazia questão de
receber seus cachês
MARTINHO DA VILA,
cantor e compositor
Maria Bethânia com Aracy de
Almeida, ainda hoje considera-
da uma das maiores intepretes
do compositor da Vila.
"Bethânia mantém a linha de
interpretação de Aracy, só que
em outro contexto", ele diz.
"Grava sambas de Noel ao lado
de canções tropicalistas de
Caetano Veloso e Gilberto Gil.
Tradição e inovação são trata-
das, ali,como uma coisa só."
Diniz dedica muitas linhas de
sua tese as primeiras composi-
ções de Chico Buarque e lem-
bra que o jovem artista seguiu
de perto a escola poética do ve-
terano, acrescentando a ela as
harmonias sofisticadas apren-
didas com a bossa nova.
Como seu tempo é outro,
"devagar, devagarinho", Marti-
nho não tem certeza se vai con-
seguir escrever seu texto em
tempo hábil para o lançamento
do livro. Mas tem muito a dizer
sobre Noel, responsável
, segun-
do ele, pela "elevada autoesti-
ma da minha Vila Isabel". Quer
abordar a postura política e so-
cial de Noel.
"Ele combateu preconceitos
contra músico, contra mulher,
contra cantor, contra sambista,
contra negro. Fez parcerias
com Cartola, Ismael Silva, com
a negrada toda", diz. "Até o pre
conceito sexual, que era terri-
vel, ele combatia. Dedicou a
Madame Sată, que era negro,
bandido e homossexual. Quem
na música popular brasileira
fez mais do que isso?"
CONHEÇA NOEL
CDs do compositor
disponíveis em lojas
"Noel
Rosa pela
Primeira
Vez"
>> Gravadora: Velas
» Quanto: R$ 235, em média
(Caixa com 14 CDs)
Reúne 229 composições
do artista. Acompanha
livreto com letras
"Noel
Rosa -
Feitiço
daVila"
>> Gravadora: Revivendo
>> Quanto: R$ 26, em média
Orlando Silva, Francisco
Alves, Sylvio Caldas
Aurora Miranda e o
proprio Noel interpretam
21 clássicos do compositor
"Noel
Rosa
por
Aracy de
Almeida
e Mário Reis"
>> Gravadora: Revivendo
>> Quanto: R$ 26, em média
Os maiores intérpretes de
Noel, segundo a crítica,
em gravações de "Triste
Cuica", "X do Problema"
e "Filosofia
"Maria
Bethânia
Canta
Noel
Rosa e
Outras Raridades"
>> Gravadora: Sony
>> Quanto: R$ 22, em média
Em começo de carreira, a
cantora lançou compacto
com seis sambas de Noel.
A coletânea tem
composições de Gilberto
Gil e Edu Lobo
"Uma
Noite...
FOR Noel
Rosa"
>> Gravadora: Universal
>> Quanto: R$ 29, em média
O pacote de CD e DVD traz
releituras de clássicos por
artistas como Zeca
Pagodinho e Roberta Sá