Nós e o Mundo
NOVAS VEIAS
ABERTAS
ENTREVISTA Assim Di Santo, da chancelaria
italiana, vê as oportunidades no Cone Sul
A ELISA BYINGTON
esde a posse do governo de
Romano Prodi, no ano pas-
sado, houve uma aproxima
ção entre a Itália e a Améri-
ca Latina. O Brasil ocupa lo-
gicamente posição estratégica. Sinal
eloqüente é o fato de o premier Prodi
ter sido o primeiro chefe de Estado eu-
ropeu a visitar o País, logo após o
anúncio do Plano de Aceleração do
Crescimento (PAC), ocasião em que
assinou um acordo entre a
Petrobras e a empresa de
energia ENI para a produ-
ção de biocombustíveis.
No fim de maio, foi a vez
de uma comitiva brasilei-
ra, liderada pela ministra
da Casa Civil, Dilma Rous-
seff, visitar a Itália. Um
dos artífices das atuais re-
lações é o subsecretário-
geral para a América Lati-
na e Caribe, Donato Di
Santo, colaborador vetera-
no de Massimo D'Alema,
atual
vice-premier
chanceler. Em apenas um
ano de governo, Di Santo
esteve em 18 países, três
vezes só no Brasil. Ao falar sobre o in-
teresse italiano nos grandes investi-
mentos em infra-estrutura, Di Santo
cita o célebre livro do jornalista
Eduardo Galeano, dando-lhe um sen-
tido oposto, otimista. São, para ele, as
novas Veias Abertas da América Latina.
e
militância política. Acredito que a mi-
nha nomeação indique a determina-
ção do governo de
Romano Prodi de
inserir a região entre as prioridades na
política externa italiana.
CC: Nas viagens freqüentes como respon-
sável do partido Democratici di Sinistra
pela América Latina, o senhor teve a opor-
tunidade de acompanhar a formação de
novas classes dirigentes. Quantos conhe-
cidos tornaram-se, nesse tempo, presiden-
tes de seus países?
66 Há adesão
plena aos métodos
democráticos.
É importante
CartaCapital: Há quanto tempo o senhor o exemplo da
se ocupa da América Latina?
Donato Di Santo: Há mais ou menos
30 anos. A dedicação às questões da
América Latina coincide com minha
eleição na Bolívia 99
36 CARTACAPITAL 13 DE JUNHO DE 2007
DS: Não só presidentes, mas expoentes
políticos de primeiro plano, que tive a
oportunidade de conhecer e estabele-
cer relações que hoje facilitam o mútuo
entendimento. Conheço o presidente
Lula há 20 anos, com quem, aliás, o mi-
nistro D'Alema (Relações Exteriores)
mantém relação muito amigável. Mas
conheço também a (Michele) Bachelet,
0 (Néstor) Kirchner, o Tabaré Vasquez,
o Daniel Ortega, o Leonel Fernandez,
além de tantos ministros de Estado do
Brasil ao México, e expoentes como o
prefeito de Bogotá e integrantes do no-
vo pólo democrático independente co-
lombiano. Estou esquecendo nomes
fundamentais, mas dá para ter uma
idéia da variedade do quadro.
CC: Como o senhor vê a atual situação da
América Latina?
DS: Findo o longo período dos regimes
militares, hoje chama a atenção a capa-
cidade de utilizar de forma criativa,
ainda que às vezes discutível, os instru-
mentos democráticos para fazer as mu-
danças consideradas oportunas. É elo-
qüente o fato de que nos
últimos dez anos, 14 presi-
dentes tenham sido substi-
tuídos antes do término do
próprio mandato e que is-
so tenha ocorrido sempre
por vias constitucionais,
sem golpes de Estado. Há
hoje uma adesão plena aos
métodos democráticos.
CC: A situação da Venezuela
neste momento preocupa?
DS: Há aspectos de grande
tensão no país, mas me pa-
rece que, para além das pro-
clamações antiamericanas
de linguagem muito forte,
no que diz respeito aos atos
concretos, estamos ainda, e espero que
permaneça, dentro de mecanismos cons-
titucionais democráticos. Em relação a
todo o período precedente, não se assina-
lam mudanças relevantes no âmbito do
intercâmbio e venda dos produtos petro-
líferos para os
Estados Unidos. Espera-
mos que o governo do presidente Chávez
não exceda os limites democráticos e que
problemas como a renovação da conces-
são ao canal RCTV sejam enquadrados no
âmbito do direito à informação, como so-
licitado pela União Européia.