Yoñlu
todo mundo amava ele no colégio!
Ele não tinha amigo assim, de viver
junto, ir as festas, viagens, mas todo
mundo amava ele."
a conversar no MSN. Ela se chama
Coraline, mora em Paris, era namora-
da do Hellraiser, cujo nome verdadeiro
é Romain, e me contou que ele era mui-
to amigo do Yoñlu. Coraline conheceu Em seguida, Luana aprofunda a
o namorado em um fórum de suporte análise e começa a dar pistas. “Na
à depressão, ele havia dito a ela que verdade, ninguém conhecia Vini-
iria se suicidar. Provavelmente, Yoñlucius, todo mundo conhecia o Pipoca.
e Hellraiser sabiam dos planos de sui- Era o aluno mais popular da sala de
cídio um do outro. É possível até que aula e o mais inteligente também. Ele
tenham discutido os métodos." não estudava, entregava as provas
em dez minutos e só tirava 1o, vivia
Marcelo também descobriu Flávia
Carpes, ex-colega de Vinícius no Colé-
gio Rosário e uma das 37 integrantes da
comunidade "Pipoca eh o cara!!!!", do
Orkut. "Flávia Carpes me contou um
pouco sobre ele ed
e disse que estavam na
mesma classe, mas que não eram muito
próximos", , lembra Marcelo. "Quando
citei as músicas, ela se mostrou sur-
presa com uma em especial. Depois
ela ligou para uma colega para contar
sobre esta música e a meu respeito. E
foi assim que eu conheci (virtualmen-
te) a Luana."
Quando ele estava achando muito chato ir no analista, me
pedia pra ligar no meio da consulta, para poder inventar uma
desculpa e sair. Um dia ele começou a falar muito de mim e o
analista chegou a pensar que eu fosse imaginária, porque meu
nome é a soma das primeiras sílabas dos nomes dos pais dele
"A coisa que eu mais gosto é de
falar do Vinícius", diz Luana Groch,
que encontrei (pessoalmente) em
um sábado pela manhã em um típico
ponto-de-encontro porto alegrense
- um café, em pleno verão - para
lembrar do mais tenebroso inverno
de sua curta existência. Foi para ela
que Vinícius escreveu "Mecânica Ce-
leste Aplicada", nome definitivo para
a música inicialmente batizada como
"Luana". Ela mudou de Erechim para
Porto Alegre em 2006, com a in-
tenção de cursar o terceiro ano
preparar melhor para o vestibular.
"Entrei
i na turma 303 e todo o pessoal
foi muito receptivo, mas logo o Viní-
cius me chamou a atenção, sempre
contando suas piadinhas”, enfatiza
a garota que contrasta o ar melancó
lico com a disposição para discorrer
sobre os bons momentos de um pas-
sado recente. "Na sala de aula, ele era
muito extrovertido, de um humor in-
teligente, e isso me atrai bastante nas
pessoas. Já no primeiro dia de aula,
fui falar com ele. Depois, no Orkut,
ele veio perguntar: 'Por que tu veio
falar comigo?"
, como se tudo aquilo
que ele fazia não recebesse a atenção
que merecia. Mas não era verdade,
98 ROLLING STONE BRASIL, MARÇO 2008
sar?", dispara Luana. “Ele era sensi-
vel, parece que a gente se conhecia
há muito tempo."
A afinação da dupla se estendia
até ao guarda-roupa: "O Vinícius
tinha um casaco igual ao meu, da
Puma, preto, e a gente sempre se ves-
tia igual
. Aí, um dia, eu resolvi ir de
branco na aula, eu nunca usava bran-
co! No outro dia, claro que ele foi de
branco também, a gente se olhava
e ria muito, foi muito engraçado!",
O LEGADO Os desenhos e as colagens de
Vinicius Gageiro que remetem a Stanley Donwood,
designer do Radiohead. (Ao lado) A capa do CD
póstumo gravado sob o nome de Yonlu
tirando onda, até com os professo-
res. Uma vez, ele resolveu entrar em
um concurso de top model que fize
ram no colégio, só pra avacalhar!",
diverte-se a colega que sentava longe
de Pipoca e não conversava muito
com ele na escola, mas gastava mui-
tos
pulsos telefônicos com Vinícius,
três vezes ao dia. "Sabe aquela pessoa
extremamente agradável de conver-
tava com vergonha de apresentar, aí
a gente cantou junto. Todo mundo
gostou, até o professor. E ele ficou
trifeliz", arremata orgulhosa a guria,
arrastando seu sotaque gaúcho. "De
pois ele me falou que estava fazendo
uma música para mim, ficou um tem-
pão produzindo." O grau de amizade
e confiança era tamanho que “quando
ele estava achando muito chato ir no
analista, me pedia pra ligar no meio
da consulta, ou mandar mensagem de
narra Luana, como se estivesse des-
crevendo o enredo de uma comédia
romântica que assistiu em um cinema
de calçada.
Confidente, conselheiro, compa-
nheiro, Vinícius mostrava algumas
das músicas que estava compondo
para a melhor amiga. “Eu achava o
máximo quando ele me pedia opinião.
Uma vez, ele gravou uma música e es-
texto, para poder inventar uma des-
culpa e sair”, revela a garota. “Um dia
ele me contou que começou a falar
muito de mim e o analista chegou a
pensar que eu fosse imaginária, por-
que meu nome é a soma das primeiras
sílabas dos nomes dos pais dele."
Protagonistas de uma love story
adolescente, sem nenhuma
pressa
ou necessidade de entrar no mundo
adulto e transformar a amizade em
namoro (por mais adultos que fos-
sem), Vinícius e Luana começaram
ir juntos ao cinema e até faziam
planos futuros. "Para o verão deste
ano, tínhamos programado uma via-
enquanto mordisca os lábios, mexe e
remexe nos cabelos.
Subitamente, ela desmonta a at-
mosfera
eta
que exala e baixa o
tom de voz. "Com o passar do tempo,
fui vendo que o comportamento dele
na sala de aula era fachada, ele não
queria ser daquele jeito. Vinícius me
dizia que não conseguia passar o que
sentia, a não ser quando estava can-
tando e escrevendo. Ele falava muito
sobre depressão, às vezes tinha que ir
embora no meio da aula porque não
agüentava a pressão. No começo,
ainda tinha forças, falava que queria
se tratar, e eu ajudava, dizia que ele
ia conseguir. Mas, às vezes, ele dizia:
"Hoje eu quase cometi uma loucura!
O Vinícius erag
sera genial, mas achava que
qualquer pessoa era melhor do que
ele. Era bonito, mas se achava feio ,
sempre falava isso. Se achava insu-
portável!" - ao estudar a depressão
que levou à morte do filho, Ana Ma-
ria Gageiro cita como provável causa
a fobia dismórfica: eventualmente,
Vinícius tinha a impressão de que seu
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