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CLIENTE: Gilberto Gil
VEÍCULO: Zero Hora - Porto Alegre
SEÇÃO: Segundo Caderno
DATA:
04/08/2008
segunda
terga
quarta
quinta
Tentrevista | discos livros cinemaſestréias|
RENATO MENDONCA
Quem via aquele senhor
de cabelos brancas, tomando
chá e degustando uma singela
trouxinha de tomates secos,
sábado à tarde, no café da
Usina do Gasômetro, não
desconfiaria que ali estava
provavelmente o protagonista
de algumas polêmicas no 15°
Porto Alegre Em Cena. É um
papel que agrada a Zé Celso
Martinez. Em 50 anos de
carreira, ele sempre propas
encenações provocadoras: a
censurada Roda Viva (1968), a
inovadora Rei da Vela (1967)
e a monumental trilogia Os
Sertões (nos anos 2000). O
gnupo Oficina, comandado
por Zé Celso, não tem
conserto: suas encenações são
carnavalizadas, não escondem
o prazer de lidar com a
sexualidade, exigem que o
espectador atue (ou reaja).
No próximo Em Cena (que
se realiza em Porto Alegre de
2 a 22 de setembro), estréia
Os Bandidos, que ele define
como uma ópera de Carnaval.
A base do texto é a peça
escrita pelo alemão Schiller
(1759-1805), considerada
por críticos como o primeiro
melodrama europeu. Na
história original, dois
irmãos lutam pelo poder. Na
adaptação de Ze Celso, toda
escrita em versos e com muita
música, o clima é de novela
das oito, em folhetim que se
desloca entre os hemisferios
norte e sul, misturando
comandos criminosos,
grandes organizações
de comunicações e
conglomerados financeiros,
trumas amorosas e invejas
inconfessáveis. Depois de
combinar com a equipe do
Em Cena detalhes sobre a
produção de Os Bandidos
que será encenada no
mezanino da Usina, Zé Celso
conversou com Zero Hora.
Confira trechos da entrevista:
PÁG.: 04
Zero Hora - Porto Alegre verá a
estréia de Os Bandidos!
estreamos no ano passado em Man
Ze Celso Martinex Sim. Je pre
nheim, na Alemanha, cidade onde a
peça foi encenada pela primeira vez.
Mas só tivemos um mês de ensaio,
eu ainda não conhecia Schiller a fun-
do. Foi muito bem, mas para mim foi
um feto. Agora, vamos ver.
Carnaval em
setembro
ga de funk, se introduz nos coman-
dos criminosos, nas drogas. Kosmos,
para intrigar o irmão com o pai. Ela
então, escreve uma novela das oito
é inspirada nos boatos de que Da-
mian virou bandido. A novela é uma
revolução, tem tudo que as novelas
tradicionais não oferecem: tem funk
proibidão, pó, favela. Mas Damian
não consegue se libertar do amor que
por uma grande estrela de teatro
e TV do hemisfério norte, Ariadne. E
ZH - Como foi a encenação em
Mannheim ?
uma novelona
Ze Celso - Foi no Teatro Schiller,
uma sala tradicional, de palco italia-
mente à plateia). O hemisfério norte
no (palco retangular disposto
frontal
foi o palco, e o hemisfério sul foi a
platéia. Havia uma ponte ligando os
dois hemisférios, existiam também
pontes laterais pela platéia.
ZH - Como é o enredo?
Ze Celso - E uma família que co-
manda uma grande corporação fi-
nanceira e de comunicação. Um dos
irmãos, Kosmos, quer o posto do pai ZH - Você chega aos 50 anos de
e habita o norte, Damian
Teatro Oficina otimista?
vive no sul. Sacando que a ZERO HORA.com Zé Celso - 2008 é um
política está se criminali-
ano espantoso pra mim.
Contevideo.com
"zando, Damian aposta na ortor
Além do cinqüentenário
politização do banditismo. www.zerhorn.com do Oficina, o mundo está
Por meio de um cantor bre-
em um movimento revo-
Zé Celso Martinez viajou
a Porto Alegre para
preparar montagem
de sua nova peça
ZH - Suas peças sempre tem
pessoal e com o Brasil..
identificação com sua trajetória
Zé Celso - Assim como a corpo
ração de Kosmos e Damian, o grupo
Oficina está fazendo 50 anos. E o Da-
mião, como o Damian é chamado no
Brasil, ao invés de investir na corpo-
ração da sua família, decide investir
no Teatro Oficina. Vai ser uma meta-
peça. Vai ser o auge da identificação.
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2008 é um ano
espantoso pra
mim. Além do
cinqüentenario
do Oficina,
mundo está em
um movimento
revolucionário
ZH - Nos anos 70, você foi per-
seguido pela ditadura que defen-
dia uma ideologia de direita, e
voo era visto como de esquerda.
že Celso - Mas já naquela época
eu não acreditava em ismos, acredi-
tava no meu trabalho. Exatamente
como aqui e agora, fazendo o má
Obama
Mesmo que o
não seja
eleito ou não realize
o que prometa,
há
um desejo
de
transformação, Hd
um império como o
romano ruindo
Zé Celso vai
estrear a ópera
"Os Bandidos"
no 15º Porto
Alegre
Em Cena
lucionário. Mesmo que o Obama não ximo que eu posso. Você, no seu
seja eleito ou não realize o que pro trabalho, é que tem a possibilidade
çlo. Há um império como o romano profissional.
de ser político. Não é sendo político
ruindo. Naquela época, era o Cristia-
nismo, agora acho que é antropofagia. ZH - Gilberto Gil, que há pou-
Estamos vendo o fim das ideologias, co saiu do Ministério da Cultura
dos catecismos, dos monoteismos. (MinC), foi um artista que entrou
Mas eu consegui o que o Fidel quase na estrutura.
conseguiu
estou há 50 anos no po Zé Celso - E mesmo com todas
pessoas estão muito mais libertas das uma equipe maravilhosa. E fez mais:
ideologias. Não existem ismos. Não estabeleceu no MinC uma partitura
existe feminismo, homossexualismo como a obra dele, ligada as raízes e
que existem são coisas concretas. A as antenas. Não é o folclórico de Ca-
utopia pragmática é possível
. A espe- sa-Grande - Senzala. E orgiástico e é
ra por Godot, a espera de ir pro céu, a cyber. O Gil não conseguiu mais por
espera de ficar rico, a espera de uma dinheiro.
sociedade justa, isso tudo não existe.
E o aqui e agora. Mas o neoliberalis-
mo e a própria ideologia marxista
te convencem de que você não pode
nada, de que só as estruturas podem
O poder humano é o que interessa.
ZH-O senhor fala de levar seu
teatro para todos, propõe a des-
guetização total do teatro. Não há
risco de massificação?
Zé Celso - Há quem diga que Peter
Brook é moderno porque faz coisas
para pouca gente. Fica aquele público
de crentes, aquela platéia esmaccida,
derrotada. Aquele espetáculo triste
Ele deve ter feito espetáculos maravi-
lhosos, mas agora é eurocéntrico, ve
a África de uma forma antiga, crista,
piegas, conformista. Faz o teatro ser
um gueto. Eu quero é escancarar.
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