Festival de Jazz em yccio
Sáb, 22/11/1997 (8)
Mississippi deságua em praia de Maceió
Festival de
jazz tem
feras como Hermeto,
Koko Taylor e Gil
DANIEL KOSLINSKI
MACEIÓ - É difícil imaginar
um festival de música no Nordeste
sem uma multidão pulando atrás de
um trio elétrico. Em sua terceira edi-
ção, o Maceió Jazz Festival prova o
contrário e acaba com a exclusivida-
de do eixo Sul-Sudeste em eventos
do gênero. Realizado nos jardins do
Hotel Jatiúca, o festival já levou pa-
ra Alagoas nomes como Egberto
Gismonti e Carter. Este ano
manteve a qualidade com shows de
Gilberto Gil, Koko Taylor, a prata da
casa
Hermeto Paschoal, além dos
menos conhecidos Cleves Nunes e
Duofel & Badal Roy, estes apadri-
nhados de Hermeto. Gil ficou res-
ponsável pelo show de abertura, na
quinta-feira, que estava com os in-
gressos esgotados desde a véspera.
Sem privilegiar o material de seu
vo disco, Quanta, Gil conquistou o
caloroso público de Maceió com seu
autêntico show de reggae, com direi-
no-
Gil abriu anteontem o festival
to a dobradinha de Is this love/Stir it
up (Bob Marley). O sucesso foi tan-
to que no meio da apresentação ele
anunciou um show extra para do-
mingo. A quase completa ausência
do jazz prometido no título do festi-
val não chega a ser um problema. O
próprio Hermeto tem uma explica-
ção: "Jazz, atualmente, é o termo
pelo qual se convencionou chamar a
música livre. O nome certo deveria
ser Festival de Tema, Harmonia e
Improvisação," sugeriu.
de opções da música regional
Há três anos sem se apresentar
em sua terra natal, Hermeto, 61
anos, alagoano de Lagoa das Ca-
noas, apresentou ao público a con-
cretização de seus ideais de liberda-
de musical, utilizando o imenso le-
que de
brasileira para compor o que mui-
tos, assustados com sua irrotulável
sonoridade, chamam de bruxaria.
Ele não nega as raízes: "Eu toco
mesmo é muito maracatu, frevo e
baião. As vezes até jazz", brinca.
Falando sério, Hermeto se mostra
preocupado com a homogeinização
da música regional I brasileira.
"Eu
mostro no meu show o coco, que
um ritmo genuinamente de Alagoas,
mas já foi roubado por outros esta-
dos." Ele garante que não é bairris-
mo. “A evolução pode acontecer
sem a destruição. A música é infini-
ta", diz Hermeto, revelando a preo-
cupação de sempre colocar a evolu-
ção musical antes de qualquer apelo
comercial.
A noite mais jazz do festival foi a
que teve a participação do músico
alagoano. Dividindo a noite com
Hermeto esteve o instrumental Duo-
fel, formado por Fernando Melo e
Luiz Bueno, com o reforço da tabla
do músico indiano Badal Roy, que
na década de 70 integrou por seis
anos a banda de Miles Davis e ainda
tem em seu currículo parcerias com
John McLaughin e Dizzy Gillespie.
Segundo seus integrantes, 0 Duofel
também percorre as infindáveis es-
tradas da música livre e encontrou
em Badal Roy, e nas divisões ímpa-
res da música indiana, o catalisador
final de sua alquimia sonora.
O festival tem hoje uma noite de
blues. De Brasília vem o blueseiro
Cleves Nunes (Lonewolf, para os ín-
timos), que promete inovar antigos
clássicos do blues, incorporando
elementos do soul, do rock e do
funk. E do jazz também A cantona
americana Koko Taylor encerra em
grande estilo, com o status de atrd-
ção internacional, desaguando
vez o Mississipi na Praia de Jatiúca.
O Maceió Jazz Festival é um suces-
so. "Esse
Esse pessoal tem finca-pé", diz
Hermeto Pascoal referindo-se à pro-
dução do evento com a expressão
alagoana para quem tem fibra. "É
um
excelente festival, tenho certeza
que vou tocar na décima edição",
profetiza Gil. Assim seja, para o
bem do povo alagoano.