FOTOS: MARIO LUIZ THOMPSON/ARQUIVO GILBERTO GIL
já tem interesse. Estou pensando agora em voltar mais vo-
luptuosamente à música , ocupar meu tempo com ensaios,
com exercícios musicais variados, coisa que eu não podia
fazer antes. Eu já tenho muitas idéias. É cedo para comen-
tar. Mas eu sou muito falastrão, falo muito as coisas que
quero fazer... Quero ver se faço algo em torno do tema da
língua franca.
Pode explicar mais? Acho que há uma tendência de conden
sação de elementos lingüísticos em torno destas línguas mais
hegemônicas, como o inglês e o espanhol. E isso faz com que
apareçam algumas espécies de línguas francas. O portunhol é
um exemplo, assim como o "spanglish", a mistura do espanhol
com inglês. Mas ao mesmo tempo há outro movimento de pre-
servação de todas as microlínguas existentes no mundo afri-
cano, sul-americano, asiático, indígena.
De que a inspiração se alimenta? Existe a frase famosa
que diz que inspiração também é transpiração. É obra, é
labor. Como sentar em frente da folha em branco e ter que
escrever. É fácil, de uma certa forma, fazer algo por enco-
menda. Tenho que fazer uma música agora, vou, sento e
faço. Ela pode não sair tão bem,
mas sai. É como o uso do inte-
lecto para publicidade ou políti-
ca. Mas há outra dimensão, que
é o abrir-se para a criatividade.
Aí já não é trabalho, é a dispo-
nibilização do espírito e da al-
ma, que são campos receptivos
das palavras e dos significados.
É neste espaço aberto, quântico,
das ondas mentais, que a gen-
te vai lá e capta. É uma espécie
de pescaria. Joga-se a rede para
ver até que profundidade ela vai,
que peixes pode pegar. Isso é o
que eu chamo de inspiração.
Como está lidando com os pro
blemas que você teve com a voz?
Sempre tive um gosto pelo uso li-
vre da voz, muito alegre, aventu-
reiro. Agora é preciso avaliar, fac-
tualmente, como é que a voz es-
tá. Os próximos dois anos serão
um período para ver o alcance de-
la, a elasticidade. Como sou o in-
térprete principal da minha pró-
pria obra, assim como Caetano e
Chico, tudo isso rebate na compo-
sição, em como o repertório vai
ser construído.
duction yet, but there is intention. I think of going back to
music in a voluptuous fashion, to occupy my time with re
hearsals, with musical exercises, things I couldn't do be-
fore. I have many new ideas, but it's too early to comment.
I'm a bit of a loudmouth. I talk too much about things!
want to do. Perhaps I'll do something around the theme of
mixed languages
Can you go into a little more detail? I think there's a trend
toward the condensation of linguistic elements around pre-
dominant languages, like English and Spanish. And this is how
these novel languages appear. "Portunhol" is an example, a
mixture of Portuguese and Spanish. "Spanglish" for instance
is the mix of Spanish and English. And at the same time there
is a movement towards the preservation of all microlanguag.
es in the African, South American, Asiatic and Indian worlds.
What sort of things feed your ation? There's a famous
phrase about inspiration being also transpiration. It's work, it's
labor. It's like sitting in front of a blank sheet of paper and hav-
ing to write. To a certain extent it's easy to do something on
demand. I must write a song now, so I sit down and do it. It
may not come out so good, but it's
done. It's the same as using one's
intellect for advertising or politics.
But there's another dimension and
that is to open oneself to creativ-
ity. That's no longer labor, that's
the availability of the spirit and of
the soul - these are fields recep-
tive to words and meanings. It's
in this quantic open space of our
mental waves that we go and try to
capture ideas, like in a kind of deep
sea fishing. One throws the net to
see how deep it will go, what kind
of fish one can catch. This is what
call inspiration
OUÇO DORIVAL CAYMMI DESDE
A ADOLESCÊNCIA. FUI CASADO COM
A NANA POR DOIS ANOS, E NESSE
PERÍODO ME APROXIMEI MUITO DELE.
ENTÃO MEU TRABALHO TEM ESSA
FORTE PRESENÇA DOS CAMMI //
I LISTEN TO DORIVAL CAYMMI'S SONGS
EVER SINCE I WAS VERY YOUNG. I WAS
MARRIED TO NANA FOR TWO YEARS
AND IN THIS PERIOD I WAS
VERY CLOSE TO HIM, THEREFORE MY
WORK IS STRONGLY INFLUENCED BY
THE CAYMMIS
How are you dealing with the
problems you had with your
voice? I've always liked to use my
voice in a free, joyful, adventurous
manner. Now I must evaluate in a
matter of fact way how my voice
responds. The next two years will
be a period to check its reach and
elasticity. As I happen to be the
main interpreter of my composi-
tions, just like Caetano and Chi-
co, all of this will relate to my new
work in the sense of how my rep-
ertoire will be constructed.
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