CLIENTE: GILBERTO GIL
VEÍCULO: FOLHA DE S.PAULO - SP
SEÇÃO:
DATA:
ILUSTRADA
07.12.2005
PÁG: E2
ARTES CÊNICAS Durante encontro em BH, profissionais criticam MinC e artistas
Teatro repercute polêmica com Gil
VALMIR SANTOS
A peleja também respinga em
ENVIADO ESPECIAL A BELO HORIZONTE
Belo Horizonte (MG), onde ter-
mina hoje a 24 edição do Rede-
Teatro é, por natureza, conflito. moinho (Rede
Brasileira de Espa-
E no Brasil deste final de 2005, o ços de Criação, Compartilhamen-
embate se dá fora de cena: artistas toe Pesquisa Teatral).
apontam o descaso do Ministério
Aqui, a voz é do teatro feito por
da Cultura em relação ao setor. upos e companhias. Não por
Em sabatina na Folha, o ator acaso, o evento acontece no Gal-
Paulo Autran afirmou que "nin-
guém da classe teatral sabe o que do grupo Galpão, 23 anos.
pão Cine Horto, centro cultural
ele (Gilberto Gil] fez". Também
"Os dois lados foram infelizes.
em entrevista à Folha, seu colega, Não é que o MinC não esteja fa-
Marco Nanini, disse que Gil
"nunca foi ao teatro, não gosta".
zendo nada. Não se faz nada no
Em resposta, o ministro Gilberto país há décadas, daí a demanda. E
Gil afirmou que não prioriza o
Gil também é um músico consa-
"teatro dos consagrados".
grado, o que também ajuda sua
Gerald Thomas, que dirige Na-
pasta", diz o diretor Luiz Fernan-
nini em "Um Circo de Rins e Fíga-
do Lobo, da companhia Ensaio
dos", também critica o ministro:
Aberto (RJ).
"Gil está matando a cultura teatral
no Brasil por ser um total analfa-
beto no que diz respeito à infra-
estrutura dramática: não sabe dis-
tinguir um intérprete de um dra-
maturgo; não sabe distinguir um
autor dramático de ator".
Para a pesquisadora Iná Camar-
go Costa, o movimento Arte con-
tra a Barbárie, de São Paulo, "já
havia levantado essa lebre".
"Não fazemos um teatro cuja
consagração é a chancela do mer-
cado, mas um teatro que tenha
função social." Nesse sentido,
afirma a intelectual, "faltam escla-
recimentos" tanto Gil quanto
aos seus críticos.
O Arte contra a Barbárie surgiu
em 1999 por iniciativa de grupos
paulistanos. Sua principal con-
quista foi a Lei de Fomento, de
2002 (cerca de R$ 9 milhões por
ano repartidos para grupos sele-
cionados por comissão).
tem, no Redemoinho, o presiden-
Em sua participação anteon-
te da Funarte (órgão responsável
pelas artes cênicas no MinC), An-
tônio Grassi, disse que a pasta
busca "uma política de Estado
que tenha como alvo o cidadão”.
Mas o ministério não abre a tor-
neira. Dois premios de fomento
produção, anunciados com pom-
pa por Gil no início de 2005, ainda
não vingaram: o Myriam Muniz
(para o teatro) e o Klauss Vianna
(para a dança). Grassi promete
edital para janeiro de 2006: R$ 13
milhões para as duas áreas.
à
Gil passou o ano reclamando de
contingenciamento. O governo
cortou 57% do orçamento do
MinC, que era de R$ 480 milhões.
Crise da cultura
Durante três dias de Redemoi-
nho, cerca de 70 grupos de 11 Es-
tados debatem assuntos relativos
à "permanente crise da cultura e a
omissão dos governos federal, es-
taduais e municipais no apoio e
manutenção dos espaços”.
Relator da Lei de Fomento, o di-
retor Luiz Carlos Moreira (grupo
os
Engenho Teatral, SP) afirma que
artistas, em geral, não têm ca-
os a sobre cum
políticas públicas.
"A classe precisa construir um
teatro significativo para a socieda-
de, agir como sujeito histórico e
não ficar na briga medíocre pela
sobrevivência", afirma.
O jornalista Valmir Santos viajou a con-
vite do Galpão Cine Horto
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